“Estigma do malparado” é travão à concessão de crédito às empresas
As empresas afirmam que não conseguem contrair crédito junto dos bancos. Para BCP e CGD, isso deve-se ao "estigma" em torno dos empresários que ainda têm o rótulo de "malparado".
A crise levou muitos empresários a entrarem em incumprimento junto da banca. Estes têm vindo a pagar as suas dívidas, mas não é por isso que perdem o “rótulo”. É este estigma que está a limitar a cedência de crédito às empresas, defende Miguel Maya, vice-presidente do BCP e futuro CEO do banco. Uma posição partilhada por José Guilherme, administrador da CGD, na conferência Banca e Seguros: O Futuro do Dinheiro.
“Os empresários têm razão [quando dizem que os bancos não cedem crédito]“, diz o vice-presidente do BCP. “Têm razão porque cerca de um terço dos Non Performing Exposure (NPE) são empresários que estão a pagar regularmente as prestações ao banco. Mas, como estão marcados, e apesar de os bancos considerarem que economicamente faz sentido, estes não concedem crédito”, nota ainda o gestor. Os chamados NPE não são necessariamente ativos em incumprimento, mas são rotulados de ativos de risco.
Esta posição é partilhada por José Guilherme, administrador do banco estatal. “O que acontece hoje em dia é que esta obsessão com os NPE é muito condicionante”, afirma o administrador do banco estatal, alertando, contudo, que a procura por empréstimos ainda é fraca.
Limpeza dos NPL tem de ser acelerada
Os bancos querem voltar a emprestar e têm a liquidez necessária para o fazer. Mas ao mesmo tempo que querem voltar a ceder empréstimos, debatem-se ainda com um problema: o nível elevado de crédito malparado (que se inclui nos chamados NPE) que pesa na sua rentabilidade. É, por isso, preciso acelerar esta “limpeza”, defende o governador do Banco de Portugal na mesma conferência. Caso contrário, o crescimento dos bancos podem ficar em risco.
“Tem de haver uma redução proativa por parte dos bancos” na redução destes ativos tóxicos, afirma Carlos Costa, dizendo que a “melhoria da instituições financeiras, da economia portuguesa e aumento dos preços no imobiliários criam um contexto favorável para a redução de NPL com consequências positivas para a obtenção de financiamento nos mercados internacionais”.
Só há duas opções: “ou os bancos apostam em absorver no presente uma aceleração da venda dos NPL ou ficam numa situação mais constrangida em termos de capital e de perceção do mercado”, diz o governador do Banco de Portugal.
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