Autoeuropa: Os acordos que marcam quase um ano de tumulto
As diferenças na Autoeuropa começaram no verão do ano passado. Perante a mais recente proposta da administração para novos horários, os trabalhadores poderão voltar a fazer greve.
A Autoeuropa foi durante muitos anos o exemplo paradigmático de um diálogo bem-sucedido entre as estruturas dos trabalhadores, representados por uma comissão eleita, e a administração da empresa, num modelo que a Volkswagen cultiva nas suas fábricas por todo o mundo. No verão passado, porém, o conflito começou a estalar na fábrica de Palmela, e sucederam-se os acordos chumbados e as mudanças na Comissão de Trabalhadores.
Agora, a administração tem uma nova proposta que já fez alguns trabalhadores expressar o seu descontentamento. O que implica esta proposta, e qual o caminho que foi trilhado até agora?
A Autoeuropa, num comunicado interno enviado aos trabalhadores ao qual o ECO teve acesso, afirma que um novo horário com 19 turnos semanais, — ou seja, em regime de laboração contínua com trabalho ao fim de semana e trabalho noturno nos dias de semana, — será implementado após o encerramento anual da fábrica em agosto. “As quatro equipas de trabalho já estão identificadas e as cartas com os respetivos turnos serão entregues até ao final da próxima semana”, acrescenta o comunicado.
Não é a primeira proposta que os trabalhadores da Autoeuropa veem com descontentamento no último ano. Quando o horário de trabalho foi alargado para incluir os sábados, no início de 2018, a alteração teve de acontecer sem o aval dos trabalhadores, já que os pré-acordos atingidos com duas CT diferentes foram rejeitados em referendo.
A administração optou por dar início, em fevereiro, a um horário de trabalho que incluía o sábado mas mantinha o domingo como folga garantida. Além disso, haveria uma folga rotativa adicional por semana, que seria consecutiva ao domingo uma vez a cada dois meses, além de se garantirem quatro fins de semana completos de folga a cada dois meses.
Depois de agosto, quando se iniciará um novo horário intitulado AE19, a administração anunciou no comunicado enviado aos trabalhadores que o domingo passará, como já se previa, a ser um dia de trabalho, começando a laboração contínua. Em contrapartida, a cada quatro semanas há a garantia de dois fins de semana completos, e ainda de uma folga semanal adicional. As duas folgas semanais serão consecutivas, acrescenta ainda a direção da empresa.
Atualmente, de acordo com o modelo que entrou em vigor em fevereiro, quem trabalhe ao sábado recebe um prémio adicional de 25% do pagamento diário por cada dia trabalhado, que é pago trimestralmente de acordo com o cumprimento do volume previsto para o trimestre.
A partir de agosto, propõe a administração no comunicado enviado, o prémio de 25% pago trimestralmente passa a ser por cada dois turnos de fim de semana trabalhados (ou seja, um sábado e domingo, ou dois sábados), e acrescenta-se o pagamento, no final do mês, de uma diária adicional por cada dois turnos ao fim de semana que o trabalhador tenha cumprido.
Alguns trabalhadores já manifestaram o seu desagrado perante o comunicado da administração. O sindicato SITE-Sul, que tem estado próximo dos trabalhadores da Autoeuropa e ao qual são filiados alguns dos membros da Comissão de Trabalhadores, assinalou no seu próprio comunicado que os trabalhadores podem, se assim entenderem, fazer greve no dia 9 de junho, visto que a federação sindical do setor já emitira um pré-aviso de greve para esse dia.
E os salários?
O acordo salarial negociado pela Comissão de Trabalhadores e aprovado com 73% dos votos na empresa vigorará até ao final de 2018. Para 2019, poderá ser negociada uma nova proposta.
Quando o acordo foi aprovado em fevereiro, os trabalhadores viram um aumento de 3,2%, com um mínimo de 25 euros para os salários que não alcançassem esse valor com um aumento da percentagem definida. O acordo incluiu ainda prémios entre os 100 e os 200 euros pela produtividade, atribuídos em abril, entre dois e três dias extra de descanso em 2018, e a integração nos quadros de 250 trabalhadores com contratos a termo até ao final do ano.
Além disto, as tabelas salariais foram alteradas, removendo os escalões mais baixos de entrada. Isto significa que um operário que antes entraria para a empresa no nível A0, a ganhar 660 euros de salário base bruto, passou a entrar diretamente para o escalão A, cujo salário base é de 715 euros. Também houve alterações para os especialistas, que serão admitidos diretamente no segundo nível de integração.
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