A Line não está na internet. Quer ser ‘a internet’

O responsável pela maior oferta pública inicial do ano, no valor de mais de mil milhões de dólares, esteve em Lisboa para falar da Line, uma aplicação de mensagens que quer ser o "portal da internet".

Da última vez que apresentou resultados, o Twitter tinha uma média de 317 milhões de utilizadores mensais. Conhece a Line? Da última vez que apresentou resultados, tinha 220 milhões de contas ativas por mês. São aplicações muito diferentes, mas a comparação dos números permite ter uma ideia de dimensão. E se a isso juntarmos uma outra aplicação chamada WeChat? Os dados mais recentes apontavam para mais de 800 milhões de contas ativas por mês

Como é, então, possível que aplicações desta dimensão passem assim tão despercebidas? A resposta está no público ao qual se dirigem: pessoas de países asiáticos, como China e Japão. De certa forma, são dois dos aplicativos que se usam lá, semelhantes ao WhatsApp e Facebook Messenger que usamos cá. O WeChat é, de longe, o maior. Mas tal como a Line, que se fez representar nesta edição do Web Summit, ambos têm um posicionamento em comum: querem ser a única aplicação que precisa de instalar no seu telemóvel.

É tudo uma questão de cultura. No ocidente, habituámo-nos a usar o YouTube para ver vídeos, a Uber para viajar e o Facebook para nos mantermos ligados a amigos e família. Na China, por exemplo, usa-se o WeChat — e chega. Permite conversar, fazer chamadas, enviar mensagens de voz, pedir um táxi ou mesmo encomendar uma piza. Não está na internet: ele próprio é a internet.

Então, afinal, onde é que entra a Line? Em Lisboa. Mais propriamente no Meo Arena, onde o presidente executivo, Takeshi Idezawa, falou um pouco daquilo que é a empresa responsável pela maior oferta pública inicial (IPO) do ano. Foram 1,1 mil milhões de dólares, ou cerca de 994 milhões de euros, numa dupla entrada em bolsa em Tóquio e Nova Iorque, em meados de julho. Atualmente, as ações da empresa valem 38,64 dólares nesta última, com uma capitalização bolsista avaliada em 8,38 mil milhões de dólares, ou 7,6 mil milhões de euros.

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Line quer ser o “portal da internet”

Em Lisboa, Takeshi Idezawa, apoiado por uma tradutora, considera que “a Line vá substituir o Android ou o iOS”, mas explicou que a ideia é que a aplicação se torne no “portal da internet”. Justificou o plano com o argumento de que “as gerações de hoje já não fazem telefonemas nem enviam e-mails”. Os millenials preferem as mensagens de texto e é aqui que entram os chat bots.

Os chat bots são programas informáticos capazes de manter conversas com pessoas reais. E engane-se quem pensa que são uma novidade. Já andam por aí há alguns anos e até mesmo o Messenger, do Facebook, já se rendeu a eles. Na Line, jornais de referência como The Wall Street Journal ou cadeias de televisão como a CNN já os usam para distribuírem notícias. Precisamente na Line.

Há mais aplicações práticas. Takeshi Idezawa explicou como, na Ásia, já são usados como plataforma para consultas médicas. É por isso que o presidente executivo os vê como o principal motor de crescimento e, “mais especificamente, a inteligência artificial” em geral. “Em termos de chat bots, penso que somos líderes em todo o mundo”, garantiu. Na Line, são já “7000 chat bots” e cerca de “300 empresas” a usá-los como estratégia para chegarem mais perto dos potenciais clientes.

“Talvez nos Estados Unidos, [os chat bots] sejam vistos como gadgets e as pessoas pensam se são ou não úteis”, assumiu. No entanto, na Ásia, são vistos como ferramentas com grande utilidade, indicou Takeshi Idezawa. Contudo, também os há no WeChat, o seu principal concorrente. Por isso, a Line já está a traçar um plano de diferenciação: “A chave para a expansão é a localização [proximidade]. É o que nos faz diferentes dos concorrentes. Respeitamos o WeChat, mas acreditamos que está só focado na China. O Line quer ser mais abrangente”, contou.

Terminou, explicando que os anúncios publicitários são ainda uma “grande fonte de receita” e que a empresa esteve “recentemente à procura de oportunidades para investir na Europa”, escolhendo investir na Snow, uma aplicação “parecida com o Snapchat”. Para já, o foco principal continuará a ser em quatro países asiáticos, mas o certo é que a Line começa a conquistar cada vez mais fãs. Muitos deles na Europa e nos Estados Unidos.

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