Acha que os depósitos mais complexos rendem mais? Engana-se
Mais de metade dos depósitos indexados que venceram em 2017 tiveram uma remuneração mais baixa face à oferecida nos depósitos a prazo tradicionais dos bancos que os disponibilizaram.
Virar as costas à certeza em busca de retornos nem sempre traz vantagens. Prova disso mesmo é o que aconteceu com muitos investidores que, em vez de colocarem o dinheiro em depósitos a prazo, preferiram aplicá-lo em depósitos indexados. De acordo com o Banco de Portugal, mais de metade destes produtos pagaram uma taxa de juro inferior à dos depósitos a prazo simples disponibilizados pelo próprio banco.
Os dados constam do Relatório de Acompanhamento dos Mercados Bancários de Retalho relativo a 2017, divulgado pela entidade liderada por Carlos Costa nesta quarta-feira. “Dos 141 depósitos indexados vencidos em 2017, mais de metade (56,1%) pagaram uma taxa de remuneração inferior à TANB [Taxa Anual Nominal Bruta] dos depósitos a prazo simples comercializado pela mesma instituição e para o mesmo prazo”, diz o relatório.
Ou seja, privilegiar o investimento neste tipo de produto financeiro em detrimento dos tradicionais depósitos a prazo, já de si conhecidos pela fraca remuneração que já oferecem, não foi vantajoso para esses investidores. Desde março de 2015 que a remuneração dos depósitos a prazo está aquém dos 1%, sendo que no final de 2017 estava nos 0,19%, depois de ter começado o ano nos 0,33%. Essa remuneração está atualmente ainda mais baixa, situando-se nos 0,17%, em maio, um mínimo de sempre.
O mesmo documento diz ainda que dos depósitos indexados — que representam o grosso das aplicações nos atualmente designados depósitos estruturados — vencidos no ano passado, 51,6% auferiram a taxa de remuneração mínima indicada no respetivo prospeto informativo, sendo que deste total 21,9% apresentaram uma TANB nula.
Mas nem todos os investidores tiveram direito a más notícias. Em contrapartida, 21,3% deste tipo de depósitos pagaram a TANB máxima prevista no prospeto informativo.
Aplicações em depósitos indexados e duais em mínimos de cinco anos
Fonte: Banco de Portugal
Os depósitos indexados, a par dos duais, são produtos financeiros complexos que são comercializados pelos bancos. Os indexados têm a sua remuneração dependente da evolução de um determinado indicador, como as ações ou taxas de juro. Já os duais são produtos que resultam da conjugação de dois ou mais depósitos bancários, entre depósitos tradicionais ou indexados. Entretanto, no seguimento da implementação de novas regras, desde o início do ano que estes dois tipos de produtos financeiros passaram a ser comercializados com a designação de depósitos estruturados.
Face à fraca atratividade da remuneração disponibilizada por muitos destes produtos, não será de estranhar que, no ano passado, o mercado de depósitos indexados e duais tenha encolhido pelo segundo ano consecutivo, tanto em termos do número de depósitos comercializados, como nos montantes aplicados.
Número de produtos comercializados em queda
Fonte: Banco de Portugal
No ano passado, foram comercializados 137 depósitos indexados e duais, o que representa uma quebra de 23,5% face a 2016. No mesmo sentido, os 1.997,6 milhões de euros aplicados neste tipo de depósitos, sofreram um decréscimo de 36,5% face ao verificado no ano anterior. Em termos de depositantes, a redução foi de 43,7%, para um total de 103 mil investidores.
Tratam-se de valores mínimos dos últimos cinco anos. Seria necessário recuar até 2012 para assistir a um número de produtos em comercialização e montantes de aplicações mais baixos.
Para além da questão da remuneração ser pouco atrativa, a quebra na comercialização desse tipo de depósitos não será alheia à própria vontade dos bancos. Por serem produtos cujas estruturas implicam custos de montagem, acompanhamento e temas regulatórios, estes serão fatores que os analistas consideram justificar a concentração dos bancos num menor número de produtos. Ou seja, uma forma de reduzir os seus custos.
Stock em mínimos de 2013
Fonte: Banco de Portugal
O Banco de Portugal explica que a redução no número de produtos comercializados [duais e indexados), resultou da quebra do número de depósitos indexados, já que o número de depósitos duais comercializados até cresceu. Contudo, este último tipo de produto é pouco representativo no universo total.
“Em 2017, as instituições de crédito comercializaram 109 depósitos indexados (menos 32,3%, face a 2016), tendo sido aplicados 1.636,4 milhões de euros por cerca de 80 mil depositantes (menos 45% e menos 53,9%, respetivamente, face ao ano anterior)”, explica o Banco de Portugal.
Foram ainda comercializados 28 depósitos duais (mais 55,6% do que em 2016), onde foram aplicados 361,2 milhões de euros por cerca de 24 mil depositantes em 2017 (mais 115,2% e mais 120,2% do que em 2016).
As recentes quebras nos níveis de subscrição colocou o stock total dos depósitos indexados e duais em mínimos de quatro anos: ascende a 7.432 milhões de euros.
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