BCP: Um banco made in China?

  • Rita Atalaia
  • 11 Novembro 2016

Para um cidadão chinês viver e trabalhar em Portugal basta comprar um apartamento. Mas a Fosun quer mais do que isso. Quer um banco, o BCP. Este interesse pode ser a salvação do banco de Nuno Amado.

Um cidadão chinês ganha o direito de viver e trabalhar em Portugal ao comprar um apartamento em Lisboa. Mas o conglomerado chinês Fosun vai mais longe: quer comprar um banco. Os chineses querem comprar uma participação no BCP BCP 0,00% e esta solução poderá ajudar o seu balanço. O banco foi arrastado para o vermelho após reforçar as provisões para as imparidades.

A Fosun quer ser o novo acionista de referência do BCP, comprando uma participação de quase 17%. E esta venda é a prova de como a pressão de financiamento do BCP deixa-o com poucas opções, segundo uma análise do Financial Times (acesso pago). Há três anos, o banco português foi resgatado pelo Estado depois de o crédito malparado ter penalizado o seu balanço. Conseguiu recuperar com um reforço de 2,2 mil milhões de euros em 2014. Mas a situação voltou a piorar. Nos resultados apresentados na quarta-feira, a instituição bancária liderada por Nuno Amado registou um prejuízo de 251,1 milhões de euros e a culpa foi do “reforço não habitual para imparidades“.

Estas imparidades atiraram o rácio de capital Core Tier 1 do banco para os 9,5%. E a oferta da Fosun poderá ajudar neste campo, ao financiar uma recapitalização parcial, mas pequena. Ao preço do mercado, uma venda da participação permitira angariar 189 milhões de euros, ou seja, menos de 5% do rácio do BCP. Embora os chineses estejam dispostos a pagar um prémio, ainda por determinar, em relação à ação do banco.

Mas não são só os chineses que querem o BCP. A Sonangol pediu autorização ao BCE para reforçar a participação no banco. A empresa angolana quer ultrapassar a barreira dos 20%. E esta luta entre chineses e angolanos também está a animar os títulos do banco e a mostrar a confiança que os investidores têm na instituição.

BCP transmite confiança aos investidores

O FT diz que as provisões elevadas devem levar os investidores a acreditar que os resultados financeiros futuros não vão voltar a ser penalizados pelas imparidades. E o mercado parece estar satisfeito com o futuro do banco, com as ações a subirem 2,3% para 1,2045 euros. O dinheiro que a Fosun vai injetar poderá servir para pagar os 750 milhões de euros que o BCP deve ao Governo até ao final do ano. Em 2012, o BCP recebeu uma injeção de capital de três mil milhões através de obrigações de conversão contingente.

Ações do BCP estão a disparar mais de 2%

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Fonte: Bloomberg

Na apresentação de resultados, Nuno Amado reiterou que o banco quer pagar esta dívida antes da data prevista de junho do próximo ano. Será uma tarefa difícil mas possível, desde que as imparidades não voltem a disparar. O FT relembra que o banco registou um lucro operacional de 850 milhões de euros desde o início deste ano, antes de imparidades e provisões. A margem financeira também está a aumentar e os custos operacionais a cair. Até o crédito malparado, um dos principais problemas do setor, recuou quando este indicador continua a aumentar nos outros bancos.

Apesar de todas as dificuldades, o mercado aplaude as elevadas provisões do BCP. E já incorporou a maioria dos problemas no preço da ação. Ter de vender uma parte do banco pode não ser bom à partida, mas poderá ser o caminho para um reforço do balanço do banco.

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