Isabel dos Santos questiona política económica de João Lourenço
Isabel dos Santos questiona qual a estratégia que está a ser seguida em Angola, tendo em conta que o crude está acima dos 80 dólares há quase um ano e o país continua em recessão.
A empresária Isabel dos Santos, afastada pelo Presidente de Angola João Lourenço da liderança da Sonangol, questiona as opções económicas do Chefe de Estado. Na rede social Twitter, a filha de José Eduardo do Santos questiona como é possível o país continuar mergulhado numa “profunda crise económica”, quando o barril de crude — a base da economia angolana — está há mais de um ano acima dos 80 dólares.
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A empresária questiona “qual a estratégia” que está a ser seguida, já que são inúmeras as empresas angolanas que registam perdas financeiras enormes.
Angola está a negociar com o Fundo Monetário Internacional um um programa de assistência financeira para viabilizar o crescimento económico e reduzir o rácio da dívida. Segundo o ministro angolano da Economia, Pedro da Fonseca, as receitas fiscais não são suficientes para pagar a dívida pública este ano, que vai superar os 70% do PIB, este ano. Mas o rácio da dívida face às receitas fiscais é de 114%, segundo o responsável.
Em causa está um empréstimo do FMI de 3,9 mil milhões de euros, mas que virá trazer condicionantes. No entanto, o próprio Chefe de Estado já tentou desdramatizar o pedido de ajuda sublinhando que os programas do FMI “não são todos iguais”, realçando que o pedido de financiamento angolano não tem a gravidade do português. No final da visita oficial à Alemanha, a 23 de agosto, João Lourenço disse que Angola vai beneficiar do financiamento do Fundo “em condições melhores que o crédito de outros bancos, bancos comerciais”. “Vamos ganhar com isso, não temos receio, sabemos que quando se fala de FMI se tem a ideia de que é um bicho papão de que é preciso ter cuidado. Depende. Os programas do FMI não são todos iguais. Não estamos a falar de um resgate como o que aconteceu noutros países europeus, como Portugal ou a Grécia. Não é disso que se trata, é um outro tipo de ajuda financeira, que não tem a gravidade que tem um programa de resgate”, esclareceu.
O Presidente angolano vai reunir-se com o FMI em outubro e está prevista uma visitar da diretora geral do FMI a Angola em dezembro.
Há muito que economistas, instituições internacionais e agências de rating apontam a dependência de Angola das receitas petrolíferas como uma fragilidade, já que o país fica exposto à forte volatilidade nos preços desta matéria-prima. O programa do FMI ajudará a diminuir a dependência do petróleo e a diversificar a economia e a fiscalidade. Uma das novidades na calha é introduzir o IVA, uma mudança que deverá acontecer em 2019.
A queda dos preços do petróleo que se registou nos últimos anos levou a uma escassez de divisas e a uma quebra nas importações, o que acaba por afetar a atividade das empresas, nomeadamente as portuguesas. Não só têm falta de matéria-prima como se veem impedidas de repatriar os lucros dada a falta de moeda estrangeira.
Este ponto já foi também alvo de crítica por parte de Isabel dos Santos a João Lourenço. Depois do Chefe de Estado ter ido a Bruxelas, em junho, para apelar ao investimento estrangeiro em Angola, prometendo condições iguais para todos no processo de privatizações que o Governo pretende lançar brevemente e que vai incluir empresas públicas do setor petrolífero, Isabel questionou no Twitter “qual o investidor que vai entrar se não se dá autorização aos atuais investidores estrangeiros para levarem os lucros em dólares?”.
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Esta posição da empresária mereceu resposta de João Lourenço que lamentou que “desencoraje o investimento para o seu próprio país”. “Eu não queria entrar em mesquinhices deste tipo para uma cidadã nacional que desencoraja o investimento para o seu próprio país. É o único comentário que tenho a fazer”, sublinhou quase dois meses depois.
A empresária foi bem mais célere na resposta a João Lourenço. No dia seguinte, novamente nas redes sociais ironizou frisando que continua a investir em Angola e a acreditar no povo angolano. “Há uns que tapam o sol com a peneira, há outros que constroem abrigo para se por à sombra… e trabalham para comprar ar condicionado. Faço parte da segunda categoria”, escreveu a filha do ex-Chefe de Estado angolano.
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Esta quinta-feira, o West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova Iorque, está a cair 1,52%, para cotar nos 69,3 dólares por barril, e o Brent, que serve de referência para as importações de Portugal, também cai 0,97% para os 78,97 dólares, depois de ontem ter superado a barreira dos 80 dólares.
(Notícia atualizada pela última vez às 10h20)
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