Parecem óculos tradicionais, mas estes têm realidade aumentada
Se os Google Glass não vingaram por causa do seu formato incomum, estes óculos de realidade aumentada prometem marcar a diferença. Conheça os Focals, produzidos pela North.
De repente, o futuro dos óculos de realidade aumentada parece estar a ser escrito por uma pequena startup canadiana. A North lançou esta semana uns óculos de realidade aumentada que se assemelham a óculos tradicionais e que corrigem alguns dos problemas que levaram ao falhanço do projeto Google Glass. Os novos óculos chamam-se Focals.
Depois de experimentarem os óculos da Google em 2013, os três fundadores da empresa aperceberam-se de um problema: as pessoas olhavam desconfiadas para os óculos de realidade aumentada da Google, conta a Wired (acesso condicionado). Os Glass, nos quais a Google investiu de forma significativa, não só tinham uma aparência pouco vulgar como eram dotados de uma câmara voltada para a frente que provocava desconforto ao utilizador e a quem se cruzava com ele. Por isso, decidiram que estava na hora de desenvolver e pôr no mercado uns óculos de realidade aumentada que as pessoas realmente quisessem usar.
Em contrapartida, os Focals foram desenhados para serem o mais semelhantes possível com óculos normais de usar no dia-a-dia — a única diferença são as hastes, ligeiramente mais espessas do que o habitual. Os óculos acrescentam uma nova camada de informação ao campo de visão do utilizador, tornando possível ver as horas e as mensagens por cima da realidade. Para tal, têm um componente minúsculo que projeta a informação diretamente para a retina de quem os está a usar.
Os óculos ligam-se ao telemóvel via Bluetooth e mostram ainda informações como o estado do tempo e o trajeto até ao destino. Também permitem chamar um Uber e suportam a assistente virtual Alexa, para que o utilizador possa executar comandos de voz. A resposta é dada através de uma pequena coluna localizada nas hastes.
Desde esta semana, a North está a aceitar pré-encomendas dos Focals em alguns espaços nos Estados Unidos, através de um depósito de 100 dólares, mais ainda não se sabe quando começam a chegar às casas dos utilizadores. Para já, o preço total do produto está fixado em 1.000 dólares, valor que inclui os óculos, a caixa, o adaptador e carregador USB-C, um pano de limpeza e um pequeno comando para controlar o interface, chamado loop, que é semelhante a um anel.
Há versões com lentes sem graduação e com lentes escuras. Mas a empresa garante que, “em breve”, irá começar também a produção dos Focals com lentes graduadas, para quem tenha problemas de visão. O produto é o resultado de um investimento de 140 milhões de dólares provenientes do Amazon Alexa Fund, da Spark Capital, da Intel Capital e Y Combinator, segundo a CNBC.
Realidade aumentada, the next big platform?
Desde a chegada do iPhone em 2007, o mundo da tecnologia tem aguardado ansiosamente pela next big platform — isto é, a “próxima grande plataforma”, capaz de transformar a forma como nos relacionamos com a internet, com o mundo e uns com os outros. Nos últimos anos, as atenções do mercado têm estado voltadas para várias tecnologias em ascensão de popularidade. Duas delas estão presentes nos Focals: a realidade aumentada e os assistentes virtuais.
É comum ver referências aos Google Glass como um produto que surgiu à frente do seu tempo. Em 2013, quando foram lançados, a realidade aumentada era inconcebível para muitos e ainda não tinha surgido o fenómeno global do Pokémon Go, o jogo que marcou o verão de 2016 e que pôs famílias inteiras em grande parte do mundo a interagirem com a realidade aumentada. Foi graças ao Pokémon Go que muita gente percebeu as reais possibilidades desta tecnologia e o que significa misturar elementos virtuais com o mundo real e físico.
Ora, a tecnologia já existe, mas faltava uma boa forma para lhe ter acesso. Várias empresas têm apresentado soluções, como a Microsoft com os HoloLens e a Magic Leap com os óculos Magic Leap One. São equipamentos que abrem um leque bem maior de possibilidades do que os Focals, mas são gadgets impossíveis de levar para a rua ou de usar no quotidiano. É nesta vertente que os Focals ficam a ganhar: são como óculos tradicionais, mas acrescentam uma primeira camada de informação útil ao campo de visão do utilizador.
A North, que era uma startup relativamente desconhecida até esta semana, terá agora uma série de desafios pela frente. Primeiro, terá de justificar o entusiasmo do mercado em torno dos Focals — se os óculos não fizerem o que prometem, as atenções vão cair a pique. Segundo, terá de começar a entregar as primeiras unidades com a maior brevidade possível, para provar que é capaz de produzir o modelo. Terceiro, terá de mostrar que é capaz de produzir estes óculos em massa, sob pena de sucumbir ao próprio peso.
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