Na CGD, o cliente mistério não ouviu qualquer referência ao empréstimo dos leões. No Novo Banco e Montepio, salientaram-se os riscos de perder dinheiro. E falaram do "investimento emocional".
“Do ponto de vista racional, não faz sentido investir num clube de futebol. Financeiramente”. “Os clubes estão falidos”. “Não há nada aqui que garanta o seu capital”. “O risco que corre é perder o dinheiro, como em todas as emissões obrigacionistas”. “Nenhum empréstimo dos clubes falhou até hoje”. “É um investimento emocional”.
O ECO fez-se de cliente mistério para comprar obrigações da SAD do Sporting em três agências da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Novo Banco e Montepio localizadas em Lisboa e estes foram alguns dos esclarecimentos que recebeu dos gestores dos bancos a propósito do empréstimo obrigacionista dos leões. Mas aconselha o investimento? “Não podemos aconselhar, o que fazemos é dar informação ao cliente”, disse um dos responsáveis. Então vamos às informações.
Até às 15h00 desta quinta-feira, os investidores poderão subscrever obrigações do Sporting que pagam um juro anual de 5,25% durante três anos. É com esta operação financeira que a SAD leonina espera obter 30 milhões de euros necessários para reembolsar um empréstimo anterior que vence nos próximos dias. Até ao final de quarta-feira havia conseguido 19 milhões, e por aqui se percebe por que razão os responsáveis dos leões se multiplicaram em ações de promoção à operação nos últimos dias. O próprio presidente Frederico Varandas está a ligar aos sócios (chamadas gravadas) para lhes lembrar do momento decisivo que o clube atravessa. E vários jogadores e ex-jogadores do Sporting, incluindo Nani ou Rui Patrício, tentam a espalhar a mesma mensagem nas redes sociais.
Este esforço de promoção não surpreende depois das duras críticas que foram lançadas aos bancos, que foram acusados de estarem a “boicotar” a operação. “Estão completamente passivos” no que toca à comunicação e comercialização da oferta, acusou o vice-presidente Francisco Salgado Zenha. É mesmo assim?
O cliente mistério começou por se deslocar a um balcão da CGD com o simples objetivo de perceber onde poderia colocar parte das suas poupanças. Em nenhum momento ouviu da gestora qualquer referência ao empréstimo obrigacionista do Sporting. Não sendo uma amostra estatisticamente relevante, a verdade é que não foi feita qualquer menção à oferta leonina, tal como critica a SAD sportinguista.
A conversa durou cerca de 20 minutos e serviu sobretudo para mostrar a oferta de fundos de investimento da Caixagest. Mas há alguma alternativa aos fundos? “Dentro dos depósitos a prazo, é como lhe disse, as taxas são de 0,05% e há bancos que já nem dão juros. Obrigações de momento não temos. No passado tivemos várias emissões de obrigações do Tesouro, mas não temos neste momento. E posso falar-lhe de PPR, em que temos uma taxa de 0,50% para o ano civil de 2018”, respondeu a gestora.
O cliente mistério não insistiu e levou para casa vários folhetins informativos dos fundos disponibilizados pelo banco público. Mas mudou de estratégia quando se deslocou ao Novo Banco e Montepio, onde disse declaradamente ao que ia: ao empréstimo obrigacionista do Sporting.
“Corre o risco de perder… como em todas as emissões”
No Montepio, depois de saber como funcionava uma emissão obrigacionista, o cliente mistério perguntou que riscos poderia correr com um investimento na emissão dos leões. “O risco que corre é perder o dinheiro, claro, como em todas as emissões obrigacionistas. Mas nada leva a crer que tal possa acontecer, tendo em conta que até agora nenhuma emissão obrigacionista correu mal”, disse o gestor.
“Não esperamos que venha a acontecer com esta. Mas o risco é o mesmo para todas as emissões obrigacionistas, estão a decorrer outras como as da Mota-Engil”, acrescentou logo a seguir, referindo-se à oferta pública de subscrição que a construtora portuguesa também tem em curso.
Nem de propósito. O cliente mistério aproveitou a deixa para questionar o gestor sobre qual das duas empresas apresenta maior risco. “É que li nos jornais que há um risco de falência do Sporting“, contextualizou.
A resposta: “Bom, não aconselho a investir as poupanças todas numa determinada emissão obrigacionista. Se investir 10 mil euros, aconselho-o a que o faça de forma repartida. Eu não o posso aconselhar a investir numa ou noutra emissão obrigacionista. Mas se olharmos para as taxas de juro, vai conseguir ganhar mais dinheiro com o Sporting”.
“Não é um mau investimento. O risco é que é maior”
Também o gestor do Novo Banco sublinhou que, geralmente, os empréstimos obrigacionistas dos três grandes decorreram sem grandes sobressaltos, isto excetuando da moratória aplicada ao empréstimo do Sporting que vence no fim de semana e que adiou por seis meses o reembolso de dívida aos credores, como fez questão de lembrar ao cliente mistério.
Tirando esse percalço, vale a pena investir agora? “É um bocadinho relativo, porque se chegarmos – como todos esperamos, e eu acredito que sim, e não digo isto por ser o Sporting a emitir, diria se fosse um outro qualquer, incluindo os três grandes – acredito que todos eles vão chegar à maturidade e vão pagar e, portanto, aí diremos que sim, teoricamente é um bom investimento”, disse o gestor. “Agora, é importante ter essa perceção de que não há nada aqui que garanta o seu capital, que há custos inerentes a esta subscrição e que, não havendo essa garantia de capital, pode acontecer muita coisa aqui pelo meio”, alertou.
O cliente mistério perguntou se as contas do Sporting são saudáveis e o gestor disse que não. Aliás, nenhum dos três grandes apresenta uma situação financeira favorável. “Do ponto de vista racional, não faz sentido investir num clube de futebol. Financeiramente. Porque todos são falidos”, frisou.
“Se compararmos as SAD dos clubes de futebol, com outras empresas, todas estas são um mau investimento porque o risco é muito maior… não é mau investimento, o termo correto não é mau investimento. O risco é que é superior. Por isso é que também tem uma taxa de juro superior”, disse.
Depois de algumas simulações para investimentos no Sporting, o cliente mistério perguntou por alternativas. O gestor também lhe lembrou a oferta da Mota-Engil, mas deixou o cliente com o pé atrás quando lhe disse que há uma boa dose de probabilidade de haver tanta procura que, perante o fator de rateio, o investimento em obrigações da construtora seja curto para obter rentabilidades positivas para compensar as comissões e os impostos.
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Fomos comprar obrigações do Sporting. E estas foram as respostas dos bancos ao cliente mistério
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