O que é que os islandeses têm? Todos usam a internet. Cá, um terço não tem acesso
Quase toda a população da Islândia está presente na internet, mas um terço dos portugueses não acede à rede global. Combater a iliteracia digital poderia fazer de Portugal um país mais competitivo.
Uma economia mais digital é uma economia mais competitiva? Olhando para o exemplo da Coreia do Sul, o país mais permeável à tecnologia, a resposta só pode ser afirmativa. Mas do que vale uma economia mais digital se a sociedade não usa a internet? Cerca de um terço dos portugueses ainda não se juntaram à rede que liga mais de metade dos habitantes do planeta. E Portugal bem podia aprender com o exemplo da Islândia, um país que tem quase toda a população ligada à internet.
Para fazer uma comparação justa, há que contextualizar com alguns números. Enquanto Portugal tem mais de dez milhões de habitantes e uma penetração de internet na população de 70,4%, a Islândia tem pouco mais de 300 mil habitantes, sendo que 98,2% são utilizadores da internet. Será o tamanho da população realmente uma desculpa? Veja-se Cabo Verde: tem cerca de meio milhão de habitantes e só metade dos cabo-verdianos acede à rede global. Os dados fazem parte da edição deste ano do Global Competitiveness Report, elaborado pelo Fórum Económico Mundial (FEM).
A Islândia está igualmente bem posicionada em outros indicadores de conectividade. É nono país com mais subscrições de banda larga fixa e está no top 15 dos países com mais subscrições de fibra ótica. Em Portugal, os investimentos das principais operadoras, somado aos investimentos provenientes de fundos comunitários, dotaram o país de “autoestradas da informação” que chegam a 4,5 milhões de casas. No entanto, existem apenas 2,4 milhões de clientes residenciais, segundo a Anacom.
Como o ECO notou aqui, o problema de Portugal não é tanto de infraestruturas. Longe disso. Os portugueses beneficiam de boas ligações à internet, mesmo no interior do país, com opções que vão para além da fibra, da banda larga fixa ao ADSL, passando pela rede móvel LTE Advanced (4G de última geração) que chega a cada vez mais portugueses. Não, o problema é de skills para a nova era digital. Uma avaliação da Comissão Europeia mostrou que mais de metade da população portuguesa entre 16 e 74 anos não tem as competências digitais básicas.
E isso reflete-se na economia. Veja-se o comércio eletrónico. Embora seja um fenómeno em forte crescimento em Portugal, o país é dos mais atrasados da Europa nisto das compras online. Dados recentes do Eurostat mostram que os portugueses estão abaixo da média da União Europeia em praticamente todas as categorias de produtos. Sobretudo se estiverem em causa bens para a casa, como eletrodomésticos, plantas, artigos de decoração ou mobiliário: apenas 28% dos portugueses com acesso à internet admite que já o fez.
Portugal podia, por isso, beneficiar de uma maior educação da população para as possibilidades do mundo digital, nem que seja por dois grandes motivos: por um lado, alguns serviços do Estado já são exclusivamente fornecidos através da internet, como é o caso da entrega do IRS; por outro, a tendência é que o Governo expanda esse leque cada vez mais. Programas de educação para dotar mais portugueses de noções básicas da literacia digital poderiam ter resultados interessantes na economia, se pudessem aumentar a quantidade de população presente na internet.
Mas existem outros benefícios, identificados pela Euromonitor International, uma empresa de consultoria com sede em Londres. Desde logo, porque a internet permite à população aceder a uma quantidade infindável de informação e conhecimento, mas também porque aproxima os meios rurais dos meios urbanos, dá mais flexibilidade ao mercado laboral e acelera o fenómeno da globalização. Os resultados estão à vista: com apenas uma fração da população que Portugal tem, a Islândia é considerada pelo FEM o 24.º país mais competitivo do mundo. Já Portugal aparece em 34.º.
O que eles têm e nós não?
Portugal podia ser um país mais competitivo? Podia. Como? Se imitasse os melhores. Seríamos os primeiros se tivéssemos a percentagem de utilizadores de Internet da Islândia, um serviço de saúde igual a Espanha, uma oferta de comboios idêntica à da Suíça, o sistema judicial da Finlândia ou uma tolerância ao risco das startups semelhante a Israel. E há mais, muito mais.
Para assinalar os dois anos do ECO, olhamos para Portugal no futuro. Estamos a publicar uma série de artigos, durante três semanas, em que procuramos saber o que o país pode fazer, nas mais diversas áreas, para igualar os melhores do mundo.
Segundo o World Economic Forum, Portugal está em 34.º no ranking da competitividade de 2018. Vamos “visitar” os mais competitivos do mundo, nas mais diversas áreas, e tentar perceber “O que eles têm e nós não?”. Clique aqui para ver todos os artigos da série.
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