Prestação da casa. É este ano que vai começar a subir?

Os especialistas acreditam que 2019 deverá trazer subidas "modestas" dos encargos com o crédito da casa, num período que ainda é marcado por muita incerteza relativamente aos juros de referência.

Após o susto de ver os indexantes do crédito à habitação superarem os 5%, em 2008, nos últimos anos os portugueses têm vivido “quase nas nuvens” em relação aos encargos da casa. Tudo graças à política de estímulos do BCE que colocou os juros em mínimo histórico, com as taxas que servem de base para os cálculos das prestações a passarem mesmo para negativo. Depois de a entidade liderada por Mario Draghi ter confirmado o fim da compra de ativos já este ano, emergem agora algumas questões. Para quando uma subida dos juros? Será que as prestações da casa vão acelerar já em 2019?

Os analistas não acreditam haver razões para as famílias com crédito à habitação deixarem de “andar nas nuvens”. Esperam subidas dos indexantes do crédito da casa no próximo ano, mas moderadas. E dizem ainda que persistem muitas incertezas relativamente ao timing para a subida dos juros.

"Aquilo que vemos é que as curvas dos mercados de futuros, embora não expliquem tudo, estão a empurrar a subida das taxas mais para a frente. Portanto, não é de esperar de todo uma subida da refi [taxa de juro de referência da Zona Euro] em 2019.”

Filipe Garcia

IMF

Ilustrativo dessa incerteza é o rumo dos futuros do mercado monetário que, segundo a Reuters, apontava há uma semana para uma probabilidade inferior a 50% de o BCE subir os juros de referência já no próximo ano, em resultado das preocupações face ao crescimento económico na Zona Euro. Antes a probabilidade era de 60%.

Filipe Garcia, economista da IMF, chama precisamente a atenção para essa situação. “Aquilo que vemos é que a curva do mercado de futuros, embora não explique tudo, está a empurrar a subida das taxas mais para a frente. Portanto, não é de esperar de todo uma subida da refi [taxa de juro de referência da Zona Euro] em 2019″, diz.

No mesmo sentido vai a opinião de Rui Bárbara, economista e gestor e ativos do banco Carregosa. “Relativamente à subida das taxas de referência, a data apontada é o segundo semestre de 2019, mas a verdade é que uma certa fraqueza que se vê atualmente nos dados macroeconómicos da Zona Euro pode pôr em causa esse calendário“, defende.

Já João Zorro, responsável da área de obrigações da GNB Gestão de Ativos aponta os finais de 2019 e o início de 2020 como a altura mais provável para a primeira subida dos juros de referência do BCE. Mas avisa que será um “processo lento“, alertando que “a dependência da economia e dos mercados a taxas de juro tão baixas é elevada e os impactos podem ser significativos”.

Os futuros para a Euribor a três meses colocam atualmente aquele indexante em terreno negativo até setembro de 2020, sendo que apenas em junho de 2022 o mercado aponta para que seja atingida a fasquia dos 0,5%.

Euribor a três meses nos últimos dois anos

Fonte: Reuters

Independentemente, do rumo esperado para as taxas de juro de referência da Zona Euro, os portugueses têm sentido no bolso alguns efeitos da inversão do rumo dos indexantes. No caso das famílias com o crédito da casa indexado à Euribor a três meses tal acontece desde meados do ano passado. Os primeiros contratos a sentirem-no foram os revistos em junho de 2017. De mês para mês, desde aí todas as famílias que reveem as taxas de juro dos seus créditos têm sentido acréscimos muito ligeiros no valor das prestações da casa.

"Aos poucos e poucos as Euribor vão-se adaptando à expectativa de taxas de juro mas elevadas. De forma mais significativa, não creio que tal aconteça até depois do próximo verão.”

João Zorro

GNB Gestão de Ativos

As Euribor já bateram no fundo e têm vindo a subir de forma relativamente ordeira mas contínua ao longo deste ano, sobretudo no segundo semestre”, lembra Filipe Garcia. “Estávamos em meados do ano com a Euribor a um ano nos -0,19% e agora esta está nos -0,12%. Para os seis meses o cenário é muito semelhante: estávamos na casa dos -0,27% e agora estamos nos -0,237%. Não é muito, mas isso já se vai notando nas prestações”, acrescenta o economista, dizendo esperar que essa tendência se mantenha e de forma “moderada”.

A opinião dos restantes especialistas vai no mesmo sentido, com estes a apontarem para o segundo semestre do próximo ano como o mais determinante para essa evolução. “Aos poucos e poucos as Euribor vão-se adaptando à expectativa de taxas de juro mais elevadas. De forma mais significativa, não creio que tal aconteça até depois do próximo verão“, acredita João Zorro.

"Há ainda tantas incertezas, incluindo o nível da subida das taxas, que é difícil estimar com realismo o que pode acontecer.”

Rui Bárbara

Banco Carregosa

Rui Bárbara aponta para a mesma altura, acrescentando contudo que “há ainda tantas incertezas, incluindo o nível da subida das taxas, que é difícil estimar com realismo o que pode acontecer”.

Ainda assim, as Euribor negativas poderão começar a desaparecer já no próximo ano. “Na Euribor a um ano, vamos chegar mais cedo aos 0%, sendo que podemos assistir a uma taxa positiva ainda em 2019, a partir de meados do ano”, diz Filipe Garcia, que desvaloriza contudo o impacto que essa inversão poderá ter em termos dos valores das prestações mensais do empréstimo da casa.

“Não vale a pena fazer contas ao ponto base. O que há de se esperar para 2019 é muito parecido com aquilo que tivemos em 2018. Ou seja, uma subida lenta dos indexantes, com estes a continuarem em valores baixos”, especifica o economista, algo que não acredita “tenha a materialidade de colocar em causa os orçamentos familiares”. “Entre a subida da taxa e a descida dos capitais, não será de mais ou menos um euro“, defende o economista.

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