Em entrevista ao ECO24, o comissário europeu defende que Rui Rio "tem tido uma grande determinação" e apela à união dentro do partido. Fala também da situação em França e do Brexit.
No arranque de um ano que será marcado por três momentos eleitorais, incluindo as legislativas, Carlos Moedas defende o trabalho de Rui Rio como líder do PSD e apela à união dentro do partido, onde a contestação interna tem sido recorrente últimos meses. O comissário europeu para a Inovação, Ciência e Inovação foi o convidado do último ECO24, transmitido este sábado na TVI24, onde fala também sobre a contestação social em França, que levou Emmanuel Macron a avançar com uma série de medidas que vão pesar sobre o défice, o Brexit e, ainda, sobre a ascensão de movimentos extremistas e a importância das eleições europeias, que decorrem em maio.
Questionado sobre se o PSD tem estado à altura da sua responsabilidade, enquanto partido da oposição, e se Rui Rio está em posição de ganhar as eleições legislativas, Carlos Moedas assume uma posição clara de apoio ao líder dos social-democratas, apesar de dizer que, enquanto comissário europeu, está “acima” dos partidos. “O dr. Rui Rio tem tido uma grande determinação e temos de nos unir à volta daquele que é líder do PSD, para ter um projeto alternativo a apresentar aos portugueses. É isso que está a construir”, refere.
Esta é uma posição muito diferente daquela que tem sido assumida por vários nomes de peso do PSD. O próprio vice-presidente do partido, Manuel Castro Almeida, admitiu já, em entrevista recente ao Público, que “hoje há um clima de divisão, de confrontação, de divisão, de hostilidade no interior do partido que é excessivo, não é normal” e que “prejudica a afirmação do partido”.
É neste contexto que Moedas, antigo secretário de Estado adjunto de Pedro Passos Coelho, assume que “é muito difícil estar na oposição”, mas frisa que Rui Rio “tem provas dadas”, é “determinado” e “genuíno” e, por isso, “é preciso deixá-lo fazer o seu trabalho”. E conclui: “Obviamente que me revejo no líder do meu partido“.
“Não há exceção” para França. Mas Bruxelas pode “trabalhar nas margens da flexibilidade”
Sobre a contestação social e o movimento dos “coletes amarelos” em França, que levou Emmanuel Macron a ceder e a anunciar uma série de medidas que terão um efeito de agravamento do défice, Carlos Moedas rejeita que o Presidente francês tenha tido falta de coragem. Aliás, acredita, é “um grande líder”.
“No caso de França, não é uma questão de falta de coragem política, porque Macron tem tido uma grande coragem política. Penso é que chegámos a um ponto, na nossa sociedade, em que os políticos têm de olhar para as sociedades e pensar qual é o novo contrato social que queremos ter e como é que queremos dividir a riqueza”, comenta. E acrescenta: “Hoje, temos um grande líder da Europa, que é o Presidente Macron. Um presidente que consegue, como ele, ganhar um país como França com um projeto sobre a Europa, sobre a união da Europa, contra o protecionismo, contra o populismo, um homem que tem 40 anos e que consegue, com essa idade, ter um projeto para o futuro é, realmente, um grande líder“.
Temos um grande líder da Europa, que é o Presidente Macron. Um presidente que consegue, como ele, ganhar um país como França com um projeto sobre a Europa, contra o protecionismo, contra o populismo, e que consegue, com 40 anos, ter um projeto para o futuro é, realmente, um grande líder.
Seja como for, as medidas anunciadas por Macron vão ter um impacto financeiro que poderão levar França a violar as regras europeias relativas ao défice e à estabilidade económica. Mas, tal como já têm admitido vários responsáveis de Bruxelas, também Carlos Moedas assume que França não será obrigatoriamente punida por ultrapassar o limite de um défice de 3%, até porque, defende, “a Comissão Europeia não pode ser apenas um grupo de burocratas que olha para os números”.
Ainda assim, lembra que, para já, não há qualquer exceção para França, já que o país ainda não enviou os dados necessários para que seja feita essa avaliação. “Ainda não há exceção nenhuma francesa. Há números que vão ser enviados para a Comissão Europeia e a análise será feita em tempo e horas em 2019. Mas não há aqui nenhuma exceção. Pode é haver uma decisão política de trabalhar nas margens da flexibilidade que nos é dada, que é o Pacto de Estabilidade e Crescimento“, sublinha, acrescentando que o mesmo já foi feito com outros países. “Isso é aquilo que foi feito quando se falou nas multas em relação a Portugal, foi feita essa flexibilidade. A Comissão tem essa capacidade”.
Acordo do Brexit “é o melhor que podemos ter porque não há outro”
Ainda relativamente ao contexto internacional, Carlos Moedas aponta para o Brexit como um dos três grandes desafios para a Europa nos próximos tempos. O comissário europeu teme que possa não haver entendimento no Parlamento britânico, “porque as partes estão tão desunidas naquilo que querem que não conseguem”. Por outro lado, dificilmente será dado mais tempo ao Reino Unido, que tem até final de março para efetivar a saída da União Europeia, para chegar a um novo acordo.
Por fim, considera pouco provável que o Artigo 50.º, que determinou a saída do Reino Unido, seja retirado, ainda que o Tribunal Europeu tenha decidido que isso é possível. “O povo britânico não está para aí virado. Tomou a decisão, houve um referendo e, agora, as pessoas querem é avançar com a decisão”.
Assim, o Brexit poderá acontecer sem acordo entre o Reino Unido e a União Europeia, um desfecho que Carlos Moedas considera “muito perigoso” para a Europa. “É importante ter um acordo. Esse é o primeiro desafio do curto prazo”. O comissário espera, por isso, que Theresa May consiga convencer os britânicos a aceitarem o acordo alcançado com Bruxelas. “Este acordo é o melhor que podemos ter para o futuro porque não há outro“.
“Percentagem de pessoas sentadas no Parlamento Europeu que acreditam na Europa pode cair para 50%”
Os restantes desafios apontados por Carlos Moedas são o abrandamento económico e a ascensão de movimentos extremistas na Europa e, nesse contexto, as próximas eleições europeias. Quanto ao segundo aspeto, sublinha a importância do voto. “Os moderados [PPE, socialistas e liberais] no Parlamento Europeu já não são muitos, são 63%. As sondagens apontam para que os partidos do centro podem ter quedas até aos 20%. Isto quer dizer que esta percentagem de pessoas que acreditam na Europa e que estão sentadas no Parlamento Europeu pode cair para 50%”, antecipa.
Nesse cenário, teremos “uma Europa muito diferente, muito mais complexa, muito menos solidária”.
Já sobre o baixo crescimento económico que a Europa vai registar nos próximos anos, Carlos Moedas apela a que seja feito “o trabalho de casa” por parte dos Estados membros. “Vamos ter de ter o trabalho de casa bem feito nos vários países. É preciso que a Europa invista mais em ciência, em inovação, em tecnologia, nas novas indústrias, que são aquelas que vão criar emprego”.
Quanto ao futuro da Comissão Europeia, vê em Mário Centeno uma boa aposta. “Mário Centeno tem sido um excelente presidente do Eurogrupo. É um excelente candidato para [comissário europeu] e para outras coisas“, defende.
Já o seu próprio destino não é ainda claro. “Sempre que, na minha vida, pensei sobre o futuro, enganei-me sempre”. A decisão de continuar como comissário europeu, refere, não depende exclusivamente de si, mas do primeiro-ministro português e de qual a pasta que assumiria. A política nacional também não deixa de ser uma hipótese. “Se a pergunta é se me interesso por política, se vou continuar a participar na política, sim. Se gosto do meu partido, gosto. E, portanto, vou continuar a contribuir. Não sei como é que essa contribuição vai ser feita, daqui a cinco anos ou daqui a dez anos”.
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Carlos Moedas: “Temos de nos unir à volta do líder do PSD”
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