A nota que poucos portugueses viram na carteira vai acabar
As notas de 500 euros estão muitas vezes no centro de atividades ilícitas como lavagem de dinheiro e terrorismo. Ainda existem cerca de 500 milhões destas notas, mas vão começar a ser recolhidas.
Tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro. Quando se pensa nestas atividades é comum imaginar volumosos maços de notas para as transações, como por exemplo nas famosas cenas em que se deixa uma pasta cheia de dinheiro num banco de jardim para outra pessoa apanhar discretamente. Filmes e séries à parte, as notas de maior valor são úteis para criminosos, e, por essa razão, a nota de 500 euros vai acabar.
Será a partir deste domingo que os bancos centrais dos países da Zona Euro vão começar a recolher as notas de 500 euros que chegarem à sua posse. O Banco Central Europeu (BCE), que agora avança para a fase em que ficará com cada nota que chegue ao seu poder, tomou a decisão de parar a produção em 2016 “atendendo aos receios de que a mesma possa ser utilizada para facilitar atividades ilícitas“, explicou a instituição na altura.
Transferências de grandes quantias não deixam rasto se forem feitas com notas físicas, daí que a nota de maior valor da moeda europeia — mas também de maior dimensão — seja atrativa para criminosos. Um milhão de euros em notas de 500 pesa apenas 2,2 quilos, enquanto a mesma soma em notas de 50 euros já seria bem mais pesado de transportar. São 22 quilos, dez vezes mais.
A nota de 500 é até conhecida como “Bin Laden”, pela associação ao terrorismo. Mas não só. Também tem essa alcunha por ser muito falada, mas pouco vista. Especialmente em países como Portugal onde 500 euros representam muito dinheiro para as famílias. A título de exemplo, basta olhar-se para o salário mínimo nacional que até 2014 poderia ser pago com apenas uma destas notas arroxeadas, e tinha de se dar troco: era de 485 euros. Agora, nos 600 euros, basta uma de 500 e outra de 100 euros.
Mesmo com o aumento do SMN nos últimos anos, para quem nunca a viu, fica a descrição: a nota tem 16 por 8,2 centímetros, é de púrpura e está ilustrada com pontes e arcos em arquitetura moderna do século XX — não são edifícios reais por questões políticas. O autor é o designer austríaco Robert Kalina, escolhido no concurso realizado em 1996.
Quantas notas andam por aí?
A primeira série de notas da UE foi lançada em 2002, e Portugal esteve entre os primeiros países onde circularam os euros. Agora, já se encontra nos bolsos dos europeus uma segunda série, apelidada de Europa, que começou a ser impressa em 2013, com a nota de 5 euros, e fica completa em 2019, com as notas de 100 e 200 euros. A nota de 500 já não foi incluída, ficando assim sem uma segunda edição, já que se antecipava a sua saída de circulação.
O ano de 2009 marcou o momento em que a produção das “Bin Laden” começou a diminuir. Em 2014 foi a última vez que saíram das impressoras — embora não tenham sido colocadas logo em circulação –, numa tirada de 85 milhões de notas, no valor de 42.500 milhões de euros, de acordo com o BCE. Inicialmente a produção concentrou-se na Dinamarca e no Luxemburgo, passando depois para a Áustria. Nunca foram produzidas em Portugal estas notas.
O BCE estima que cerca de um quarto das notas arroxeadas está, atualmente, fora da União Europeia. Aquelas em circulação decresceram 14,7% desde janeiro de 2016 até novembro do ano passado, e representam agora 2,3% do dinheiro europeu em papel. Em dezembro de 2018 ainda estavam em circulação mais de 500 milhões de notas de 500 euros. A circulação das “Bin Laden” tem vindo a cair, enquanto, por outro lado, o número de notas de 100 euros que passa de mão em mão regista um grande crescimento.
É o fim. Mas pode continuar a utilizar
A nota de 500 euros é uma das mais valiosas do mundo, em conjunto com a de 1.000 francos suíços — vale 883 euros à taxa de câmbio atual. A título de comparação, nos EUA a nota mais valiosa é de apenas 100 dólares, sendo que chegou a haver notas de maior valor, mas no final dos anos 60 Richard Nixon pôs fim à sua produção por causa do mesmo mal de agora: o crime organizado.
Quem tiver notas destas pode continuar a pagar com elas mesmo. O que acontece é apenas a retirada das notas que chegam aos banco centrais do Eurosistema — pelo que é preciso estar alerta para eventuais burlas associadas ao fim desta nota. Em alternativa, quem as tem em sua posse poderá trocá-las no Banco de Portugal ou nos restantes bancos centrais dos países da Zona Euro, mas não é obrigatório.
Na Alemanha e na Áustria existe uma maior utilização das notas de 500 euros, por isso os países vão ter um pouco mais de tempo, de forma a garantir “uma transição suave por razões logísticas”, justificaram ambos ao BCE. O Banco Federal da Alemanha e o Banco Nacional da Áustria vão continuar a introduzir as notas no mercado até 26 de abril deste ano. Mesmo depois de começar a retirada das notas, estas vão manter o seu valor. E, provavelmente, até aumentar, já que muitos as procurarão para colecionar.
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