Miguel Teixeira de Abreu: “A Abreu será o único escritório em Portugal que deixa de ter no quadro qualquer sócio fundador”
Em 2019 Miguel Teixeira de Abreu deixa de ser sócio de capital da Abreu. À Advocatus faz um balanço dos 25 anos do escritório e admite que este ano será bom para a advocacia, mas não para o país.
O sócio fundador da Abreu Advogados passa à reforma em 2019, abrindo espaço para os mais novos subirem. Aos 60 anos, Miguel Teixeira de Abreu deixa de ser sócio de capital da sociedade que fundou e faz o balanço da evolução da sociedade e da profissão. 2018 foi um ano em grande para a advocacia. Este ano esperam-se novos desafios e mais crescimento. Mas Portugal continua com “falta de visão”.
25 anos depois de ter fundado um escritório de advogados sob o seu nome — a Abreu Advogados –, Miguel Teixeira de Abreu revela à Advocatus que se vai reformar. Deixa de ser sócio de capital para passar a sócio honorário. Faz uma retrospetiva desde esse ano, 1993, quando abandonou a PLMJ, onde se iniciou como advogado estagiário. Tinha começado a exercer Direito há apenas dois anos e já se estava a lançar nesse desafio. Inicialmente Abreu, Cardigos & Associados, o projeto arrancou primeiro no papel, ainda em meados de 1992.
“Até à constituição da sociedade, em 15 de junho de 1993, reunimos quinzenalmente em puras sessões de pensamento estratégico. O resultado foi um acordo parassocial, com cerca de 50 páginas, que clarificava tudo o que queríamos retirar deste projeto e tudo o que queríamos deixar à geração seguinte. Para lá de modificações pontuais, esse acordo continua a governar a vida da nossa sociedade. Governou-a quando éramos seis e governa-a agora que somos 300”, conta à Advocatus.
Com uma cisão em 2006, a Abreu Advogados ganhou nome próprio, e em 2018 reabriu em sede renovada, em Santa Apolónia. A mudança de Miguel Teixeira de Abreu não podia ter vindo em melhor altura. O seu projeto está mais que encaminhado. Agora é deixar as novas gerações trilharem o seu percurso.
“O nosso projeto foi sempre pensado para perdurar para além da vida de cada um de nós, como uma marca que vale pela qualidade da sua equipa através das gerações”, refere o advogado. É por isso que na Abreu os sócios são obrigados a reformar-se aos 65 anos de idade. Mas a Teixeira de Abreu ainda faltam cinco para reforma. Porquê a pressa, afinal?
O jurista diz que “a decisão pessoal de antecipar este momento” no ano em que completa 60 anos se deveu a vários fatores. A primeira foi o aniversário e a nova sede. “A sociedade completou um ciclo de 25 anos celebrado com a mudança para umas instalações novas que são o espelho da nossa identidade corporativa e o culminar de um sonho pessoal de muitos anos”, conta. Depois, a própria transição da gestão, “que tem vindo a ser preparada nos últimos anos”, e que está hoje a cargo de um managing partner 10 anos mais novo do que o sócio e uma comissão executiva 10 anos mais nova do que o managing partner, refere.
Além disso, abrandar o ritmo de trabalho também pesou no momento da decisão. Miguel Teixeira de Abreu pretende agora assumir um papel diferente na sociedade que fundou. “Não tanto o de um sócio mas mais o de um consultor, que orienta, aconselha, apoia, assessora, desenvolve projetos, representa a sociedade, mas não se coloca no caminho das decisões que a nova geração quiser adotar para a sociedade”.
Mantenho-me presente em tudo o que os sócios considerem acrescentar valor à sociedade, seja em projetos internos, seja junto dos clientes. Mas não durante 12 horas do dia…
Esta mudança significa que o advogado vai deixar de ter uma quota na sociedade, deixando de ser sócio da Abreu, e de receber ordenado variável em função dos lucros, passando a ter um ordenado fixo. “Deixo de ser sócio porque como sócio nunca seria capaz de aligeirar o meu ritmo de trabalho; deixo de ter uma remuneração determinada em função dos lucros porque isso não faz sentido senão entre sócios; e passo a receber uma remuneração adequada ao meu estatuto de consultor e que foi acertada com os sócios da sociedade”, explica.
Na prática, contudo, diz que pouco vai mudar no seu dia-a-dia na sociedade ou junto dos clientes. “Trata-se apenas de uma nova etapa, de uma dedicação não menos comprometida, apenas diferente na sua natureza”.
Assim, passará a fazer parte do Conselho Consultivo da sociedade. “Durante um período de 5 anos, assumo ainda o compromisso de me manter presente em tudo o que os sócios considerem acrescentar valor à sociedade, seja em projetos internos, seja junto dos clientes. Mas não durante 12 horas do dia…”, desabafa. Desta forma continuará a exercer a profissão, mas terá tempo extra “para estudar, ensinar, envolver e acompanhar uma geração mais nova na afirmação das suas próprias capacidades junto dos clientes”.
Aposta forte na nova geração
Miguel Teixeira de Abreu dá assim lugar ao início da transição geracional na Abreu. Mas, antes disso, a condução da sociedade aos mais jovens esteve a ser preparada nos bastidores. “Para chegar a este momento, houve que assegurar que o processo de transição geracional estava concluído. Na verdade, ele tem vindo a ser preparado desde finais de 2014, com a eleição do Duarte Athayde para managing partner”, revela.
A aposta nas gerações seguintes faz parte de um modelo organizacional que o jurista sempre pretendeu levar a cabo. “Não tenho qualquer dúvida de que esta é a resposta certa em todas as organizações que estejam focadas no futuro, como sempre foi o caso da Abreu Advogados. Para a Abreu, esta transição faz parte do nosso “código genético”, pois acreditamos que a integração intergeracional permite gerar novas perspetivas sobre o nosso trabalho e permite ainda assegurar que a antiguidade não se coloca no caminho do mérito e da renovação”.
"Em 2019, a realidade da advocacia é totalmente diferente e a Abreu confronta-se com outro tipo de desafios, alguns bem capazes de pôr em causa a profissão tal como a conhecemos.”
Como sócio fundador, o advogado pretende acima de tudo ser o primeiro a dar o exemplo, para que nos próximos anos a sociedade vá evoluindo. “Tenho absoluta convicção de que, assim sendo, daqui a 25 anos a Abreu Advogados se encontra pronta para celebrar mais um ciclo de sucesso, assente em valores culturais fortes e que perduram no tempo”, espera o advogado.
Assim, a Abreu passará a mensagem institucional aos advogados mais novos de que podem sentir uma progressão nas carreiras mais flexível, e que “se se empenharem e acrescentarem valor, terão um dia a oportunidade de gerir e decidir os destinos da sociedade”. Até porque “será o único escritório de advogados em Portugal que deixa de ter no seu quadro de sócios qualquer sócio fundador”.
Em retrospetiva, em 1993 a advocacia era tradicional e os desafios passavam por uma afirmação empresarial e em inovar. Agora, em 2019, a realidade da advocacia é “totalmente diferente”. A Abreu confronta-se já com outros desafios e de outro tipo, “alguns bem capazes de pôr em causa a profissão tal como a conhecemos”, revela. Porém, não se mostra preocupado. “Desafios são sempre desafios. Onde há inspiração, há ação e onde há ação há resultados”.
Mercado da advocacia continua próspero em 2019. Para Portugal? “Não sou tão otimista”
Em relação a perspetivas para 2019 na advocacia, o advogado refere que os últimos dois anos foram muito positivos no mercado nacional. E a Abreu Advogados não foi exceção. “2018 será o nosso melhor ano de sempre, em todas as variáveis: faturação, cobrança, rentabilidade, lucro per capita, tipo de clientes e de operações em que nos envolvemos”.
Para este ano novo, a ideia é continuar a tendência. “Estamos em meados de janeiro e já caíram grandes operações que se irão concretizar em 2019. Estou por isso muito otimista quanto ao que vai ser 2019. Para lá de 2019, já não diria o mesmo…”, prevê.
"A carga fiscal [em Portugal] é brutal, anula a nossa capacidade de poupar e parece nunca chegar para alimentar um Estado que não sabe reformar-se. Neste cenário, como pode uma pessoa manter-se otimista?”
Já no panorama nacional geral, Miguel Teixeira de Abreu mostra-se menos positivo. “Não sou neste aspeto tão otimista”. O problema? Falta de visão. “Falta ao nosso país uma visão clara do caminho que quer percorrer, um plano estratégico para lá chegar e, acima de tudo, a capacidade de inspirar as pessoas a aderir a esse plano”.
O resultado é visível no nosso crescimento, diz, que tem sido aquém. “É muito abaixo do que seria exigível e os fatores que o têm determinado (exportações, turismo, imobiliário) não são controláveis por nós. A carga fiscal é brutal, anula a nossa capacidade de poupar e parece nunca chegar para alimentar um Estado que não sabe reformar-se. Neste cenário, como pode uma pessoa manter-se otimista?”, remata.
(Artigo corrigido às 12:54 de 31 de janeiro, com a informação de que Miguel Teixeira de Abreu deixa de ser sócio de capital para passar a sócio honorário).
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