Jerónimo de Sousa admite abdicar da liderança do PCP em 2020

  • Lusa
  • 2 Março 2019

O secretário-geral do PCP admite não ser recandidato à liderança porque "é da lei da vida". Acusa ainda a "direita económica" de "empreitada de notícias" visando dirigentes do partido.

O secretário-geral do PCP admite não ser recandidato à liderança do partido dentro de menos de dois anos porque “é da lei da vida”, mas frisa que não vai “calçar as pantufas” e continuará militante comunista, sendo uma decisão do coletivo partidário.

Em entrevista à Lusa, Jerónimo de Sousa adotou um tom e discurso assentes no particípio passado e algo nostálgicos até quando questionado, insistentemente, sobre o seu futuro no Congresso Nacional ordinário do PCP previsto para o final de 2020.

“Até hoje, e já lá vão 14 anos, se há coisa que levo comigo são as grandes manifestações de solidariedade em momentos difíceis que o coletivo partidário tem tido para com o secretário-geral, nos bons e maus momentos. Aceitei esta responsabilidade que os meus camaradas entenderam atribuir-me, procurando estar à altura, o que não é fácil, mas percebi que nestas tarefas cada um de nós tem de perceber e escolher o momento para alterar as suas responsabilidades“, disse.

O líder comunista, que vai comemorar o seu 72.º aniversário em 13 de Abril, completará década e meia como secretário-geral do PCP em Novembro.

“Inevitavelmente – é da lei da vida –, acabarei por ter responsabilidades no partido diferentes, alteradas, embora com um sentimento: não vou calçar as pantufas, vou continuar como militante, como a pessoa que sou, a ajudar o meu partido. Continuarei a ser comunista”, acentuou, escusando-se a “fazer previsões”, pois trata-se de “uma decisão que passa, em primeiro lugar, pelos” seus “camaradas”.

Colocado perante a possibilidade de não continuar na liderança do mais antigo partido político português (98 anos), Jerónimo de Sousa limitou-se a dizer que “sim, é possível, mas também não é impossível uma outra decisão“.

O histórico secretário-geral do PCP durante 31 anos (1961-1992), Álvaro Cunhal, foi sucedido pelo antecessor de Jerónimo de Sousa, Carlos Carvalhas, aos 79 anos.

“Eu vim para a política, como jovem sindicalista, com o ardor da juventude, para ser capaz de dar a minha contribuição, o melhor que sabia e podia. Procurando, com os meus camaradas mais velhos, apreender aquela grande lição de que a política é uma coisa nobre desde que seja para servir os interesses dos trabalhadores e do povo e não a nós próprios”, continuou.

O atual líder comunista prevê que, “em relação a 2020, a vida o dirá”, mas diz ter a “consciência” de que esteve “sempre do lado certo”.

“Vou sair, em termos materiais, como entrei. Pode-se ver aliás pelo balanço do Tribunal Constitucional [rendimentos de cargos públicos], não são palavras de circunstância. Ter esta consciência de que dei o melhor que sabia e podia, não sendo perfeito, não sendo o supra sumo da batata, mas acreditando nesta causa, neste projeto, dando o meu melhor”, disse.

“Nunca me candidatarei. É o meu partido que candidata, seja para a Presidência da República, Assembleia da República, Parlamento Europeu, uma autarquia, a decisão é do partido. Posso ter opinião e tenho, mas nunca me ouvirão dizer que eu quero ser” secretário-geral ou que não quero ser”. Não tenho aqui um horizonte limitado”, insistiu.

Jerónimo de Sousa esclareceu que, “naturalmente, o congresso poderá resolver” e que, “numa situação de saúde ou problema deste género, o comité central em qualquer momento está em condições de substituir o secretário-geral”.

“Sejamos francos. Gostava de o ver, quando tiver 71 anos, andar aí de ponta a ponta do país, numa tarefa exigente, não só física como anímica e intelectual, e continuar a procurar dar resposta, com todos os efeitos que isso tem na vida de uma pessoa. Isto é uma pena, mas todos nós vamos morrer. Toda a gente acaba por envelhecer”, afirmou, sobre o desgaste inerente às funções.

“Direita económica” cria “empreitada de notícias” contra PCP

Na mesma entrevista, o secretário-geral do PCP acusou a “direita económica” de lançar uma “empreitada” de notícias visando altos dirigentes comunistas por não perdoar o contributo do partido para a solução de Governo.

“Nunca aproveitei nada da política”, assegurou o líder comunista, acrescentando logo a seguir: “queria e vou conseguir sair com a consciência tranquila de que, no quadro das minhas limitações, e naturalmente dos meus defeitos, procurei fazer o meu melhor pelo meu povo e pelo meu país”.

Jerónimo de Sousa referia-se a notícias que têm vindo a público, designadamente sobre um alegado favorecimento do genro pela Câmara de Loures, liderada pelo seu camarada Bernardino Soares, e também do envolvimento do pai de João Ferreira, cabeça de lista da CDU às europeias, em despejos e negócios de alojamento local.

Depois de garantir que as referidas notícias “não vêm de dentro” do partido, o secretário-geral do PCP enquadrou-as numa “empreitada” promovida por elementos de uma certa “direita económica” que “não perdoam ao Partido Comunista Português a sua coerência, a sua determinação e a sua contribuição para a própria solução política encontrada”.

Jerónimo de Sousa considerou “chocante” o tipo de notícias vindas a público sobre elementos do PCP, reconhecendo que a sua “primeira reação foi um sentimento de indignação muito grande”.

“Você imagina o que é não saber coisa nenhuma de negócios de trabalhos na câmara, nunca ter dado uma palavra a ninguém sobre qualquer favorecimento e vir um jornalista de microfone em riste perguntar: “o fulano tal é seu genro?” Aliás, como aconteceu com o João Ferreira: “se não foste tu, foi o teu pai”. Nunca acusaram. Fizeram pior: insinuaram, que como é sabido é sempre a base do boato”, salientou.

Para o dirigente comunista, criou-se “um caldo inaceitável, mas claramente orientado” por uma certa “direita económica”. “Não perdoam ao PCP que pudesse estragar a festa em relação aos quatro anos que passaram e que eles pensaram que iam poder acabar com o resto. Não conseguiram”, concluiu.

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