Eventual saída de Tomás Correia pode não implicar eleições antecipadas
Uma eventual saída de Tomás Correia da Associação Mutualista Montepio Geral não significa necessariamente eleições antecipadas, podendo um dos atuais administradores passar a presidente.
Uma eventual saída de Tomás Correia da Associação Mutualista Montepio Geral não significa necessariamente eleições antecipadas, podendo um dos atuais administradores passar a presidente da mutualista num período transitório. Aliás, foi isso que aconteceu em 2008, quando Silva Lopes se reformou e não houve de imediato eleições, tendo Tomás Correia (que pertencia à equipa) sucedido à frente do Montepio.
A história pode agora repetir-se, depois de Tomás Correia ter sido multado em 1,25 milhões de euros pelo Banco de Portugal por irregularidades quando era presidente do banco Montepio (então Caixa Económica Montepio Geral). Isto, apesar de fonte ligada ao gestor ter dito à Lusa que as contraordenações “não inibem a atividade profissional”.
Contudo, o processo já está ao nível político, depois de o Parlamento ter aprovado as audições do regulador dos seguros e do ministro do Trabalho, Vieira da Silva, para saber quem avalia as condições de Tomás Correia para continuar como presidente da mutualista. Caso Tomás Correia saísse pelo seu próprio pé ou afastado poderia a atual administração ficar em funções, passando um dos atuais vogais a presidente.
Atualmente, o Conselho de Administração da Associação Mutualista Montepio Geral é composto pelo presidente, António Tomás Correia, que tomou posse em janeiro para mais três anos após ter vencido as eleições de dezembro (depois de já dez anos à frente da mutualista), e Carlos Morais Beato, Virgílio Lima (ambos pertenciam já à anterior administração), Idália Serrão e Luís Almeida como vogais.
Seria assim possível manter a equipa de gestão da mutualista e atrasar o processo de eleições antecipadas, podendo acontecer apenas quando já estiverem em vigor os novos estatutos da Associação Mutualista Montepio Geral. É que a mutualista vai entrar em março em processo de revisão dos estatutos, que tem de ser concluído até setembro, para que o Governo interno esteja em linha com o novo código mutualista, e tal implica eleições antecipadas pelo menos para eleger a constituição do novo órgão social que será criado, a Assembleia Geral de Representantes.
A Assembleia Geral de Representantes (que funcionará como um “Parlamento”) terá de ser eleita por método proporcional (o número de membros não está definido, poderá ser 50, por exemplo) e será a responsável por decidir sobre muitas das questões que atualmente vão a assembleia-geral, como as contas de cada ano e o programa de ação e o orçamento do ano seguinte. Assim, antes desse processo que agora vai arrancar e poderá ser complexo, poderia um dos atuais vogais da Associação Mutualista Montepio Geral subir a presidente.
- Carlos Morais Beato
Ex-presidente da Câmara Municipal de Grândola (até 2012), pelo Partido Socialista, é licenciado em gestão pelo Instituto Superior de Gestão e integrou o movimento dos capitães na Revolução de 25 de abril de 1974. Desde 2013 está administração da mutualista Montepio, na equipa de Tomás Correia. Segundo a imprensa, esteve a ser investigado num processo relacionado com projetos urbanísticos aprovados pela Câmara de Grândola. Em causa está também a casa de Ricardo Salgado (ex-presidente do BES) na Comporta. A Lusa contactou a Procuradoria-Geral da República sobre o estado do processo, mas sem sucesso.
- Virgílio Lima
Também fazia parte da anterior equipa de Tomás Correia e passou para a atual. Licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo atual ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão, foi administrador dos seguros do Montepio e da Caixa Económica de Cabo Verde.
- Luís Almeida
É o administrador com mais experiência no setor financeiro, área em que a Associação Mutualista Montepio Geral atua, desde logo por ser dona do Banco Montepio, onde Luís Almeida integrou a equipa de Félix Morgado (2015-2018). Segundo o Público, Luís Almeida e os restantes membros da equipa de Félix Morgado estiveram a ser investigados pelo Banco de Portugal pelo polémico negócio das Vogais Dinâmicas (sociedade-veículo criada pelo Montepio e pela Martifer), que serviria para melhorar artificialmente as contas de 2016. O negócio acabaria por ser travado pelo Conselho de Supervisão do banco.
Antes, entre 2005 e 2013, Luís Almeida foi administrador do Banco da África Ocidental. Este banco foi criado em 2000 com capitais de Montepio e Banco Efisa/grupo BPN, além de investidores guineenses, em 2007 o Montepio vende a sua posição (15%) ao grupo Geocapital, do magnata chinês Stanley Ho, de que é presidente Diogo Lacerda Machado (conhecido por ser amigo do primeiro-ministro, António Costa, e administrador não executivo da TAP).
Em 2013, Luís Almeida tornou-se presidente do Finibanco Angola (o Montepio comprou o grupo Finibanco em 2010). O administrador era, assim, presidente do banco angolano quando foram concedidos os empréstimos que terão servido para aumentar o capital do Montepio em 2013. A condenação pelo Banco de Portugal a Tomás Correia também tem que ver com a origem dos fundos que serviram para recapitalizar o banco. A Lusa questionou fonte da Associação Mutualista sobre eventuais processos sobre Luís Almeida, mas ainda não obteve resposta.
- Idália Serrão
Licenciada em Ciências Sociais — Serviço Social, Idália Serrão fez inicialmente um percurso ligado à música e nos anos de 1990 trabalhou na área de televisão, sobretudo em conteúdos para crianças, tendo depois iniciado uma carreira autárquica pelo PS em Santarém. Eleita deputada pelo Partido Socialista em 2005, interrompeu o mandato para assumir a função de Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação dos governos de José Sócrates. Terminada essa função continuou a ser deputada até ter renunciado para integrar a equipa de Tomás Correia na mutualista, em janeiro passado.
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