“Brasil assumiu papel coadjuvante nos interesses dos EUA no conflito venezuelano”
"O Brasil não tem nenhum interesse geopolítico nesse conflito na Venezuela", começou por dizer Paulo Pimenta, líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados brasileira.
O líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados brasileira, Paulo Pimenta, afirmou esta terça-feira, em entrevista à Lusa, que o Brasil assumiu um “papel coadjuvante nos interesses dos Estados Unidos (EUA) no conflito venezuelano”.
Paulo Pimenta referiu que há “140 anos” que o Brasil vive num processo de paz com todos os seus países vizinhos, e que o novo Governo, liderado por Jair Bolsonaro, optou por quebrar a sua tradição diplomática em prol dos interesses norte-americanos. “O Brasil não tem nenhum interesse geopolítico nesse conflito na Venezuela. Temos muito claro que os EUA sabem a importância estratégica daquele país, que tem a maior reserva de petróleo do mundo. Os norte-americanos conseguem o seu petróleo de países como o Iraque e o Kuwait, num processo de transporte de 45 dias, e podem levar o petróleo da Venezuela até ao Golfo do México em cinco dias”, defendeu o político.
O deputado declarou que o seu país “rompeu com a tradição diplomática e assumiu um papel de coadjuvante nos interesses norte-americanos“, situação “que coloca o Brasil num conflito totalmente desnecessário e absurdo”, acrescentando que “a condução desse processo, por parte do Brasil, acaba por ser vergonhosa”.
Ainda acerca da crise no país vizinho, Paulo Pimenta frisa que é totalmente a favor de uma solução pacífica para aquele país, contando que a solução seja encontrada pelos próprios venezuelanos, “partindo do pressuposto de que Nicolás Maduro foi eleito recentemente”.
Quando questionada pela Lusa acerca da visão do novo chefe de Estado em relação a questões ambientais e de preservação da Amazónia, Paulo Pimenta, que é também o deputado federal mais votado do PT na Câmara, foi firme na resposta: “O Brasil e o mundo sabem hoje o risco que a Amazónia e as suas comunidades sofrem devido à insanidade e irresponsabilidade de Bolsonaro e de todos aqueles neofascistas que compõem esse Governo”.
O deputado do Partidos dos trabalhadores disse ainda que, só neste ano, o atual Governo autorizou o uso, em território brasileiro, de “96 novos venenos para a agricultura, sendo que boa parte desses produtos serão utilizados em áreas de exploração ilegal da Amazónia”, garantiu.
Paulo Pimenta não poupou nas críticas a Jair Bolsonaro, defendendo que com este novo executivo na liderança do Brasil dificilmente o país dará continuidade e valorizará a projetos com os países lusófonos. “O Governo de Bolsonaro tem uma dificuldade muito grande em valorizar aspetos que dizem respeito à nossa história, à nossa tradição e às nossas dívidas. Somos o país do mundo que recebeu o maior número de escravos, durante séculos, e grande parte veio de países que foram colonizados por Portugal, países de língua portuguesa”, frisou o deputado.
O político fez assim um paralelo entre o executivo de Lula e o de Bolsonaro: “O Governo de Lula (…) soube tomar gestos que reconhecem tudo aquilo que de perverso as elites provocaram nesses séculos, e Bolsonaro não tem essa visão. É uma pessoa preconceituosa, limitado do ponto de vista dos seus valores morais e certamente teremos muita dificuldade em encontrar uma sequência nesses projetos“, disse.
O líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados quis ainda abordar a prisão do histórico líder do seu partido, Luiz Inácio Lula da Silva, revelando as condições em que o ex-Presidente se encontra detido, acrescentado que ele é ” vítima de um processo ilegal”. “Mesmo estando há quase um ano preso, tendo quase 73 anos, e estando numa solitária, sem o direito de falar com as pessoas nem no banho de sol, vamos visitá-lo e encontramos uma pessoa vibrante, de cabeça erguida, que estuda diariamente e que está informado de tudo aquilo que se passa no Brasil, e isso inspira-nos”.
Lula da Silva “sabe que uma parcela muito expressiva da sociedade brasileira e internacional nunca perderam a confiança, e sabem que ele é vítima de um processo ilegal, perverso, e que tinha por objetivo retira-lo da agenda política do país por tudo aquilo que ele representa e significa”, concluiu.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
“Brasil assumiu papel coadjuvante nos interesses dos EUA no conflito venezuelano”
{{ noCommentsLabel }}