Marcas afastam-se dos festivais. Financiamento público equilibra contas
No ano passado realizou-se um número recorde de festivais em Portugal. A aposta das marcas vai esmorecendo, à medida que se começa a destacar o financiamento público.
Em 2018 realizaram-se mais festivais do que nunca em Portugal. O negócio está a crescer mas, em vez de se expandir para as marcas — que querem emprestar o nome aos eventos mais falados –, é no financiamento público que se têm apoiado os novos festivais. É cada vez mais caro marcar presença, e é preciso pesar a rentabilidade da aposta.
Foram no total 311 festivais de música, espalhados pelo país e pelo ano. Os grandes festivais viram, no geral, um aumento no número de espetadores, em relação ao ano anterior. Mesmo assim, a maioria dos festivais que se realizam no país são de pequena dimensão, organizados por associações ou municípios. O fenómeno do naming sponsor, que se verifica principalmente nos festivais de maior dimensão, tem vindo a diminuir.
“O nosso país só tem quatro ou cinco marcas grandes, como a EDP, Nos, Vodafone, Meo e Galp, que não podem estar em todas, por isso vão para os festivais que dão mais números“, aponta Ricardo Bramão, diretor da Aporfest, associação portuguesa de festivais de música, ao ECO. “Há 10/15 anos existia muito o apoio da banca, como o Millennium no Rock in Rio, ou a CGD, que desapareceu”, diz. “Basta desaparecer um dos players e os outros desaparecem”, porque os custos deixam de compensar, realça.
"Os festivais começam a valer muito e as empresas têm dificuldade em permanecer nos festivais. Tem mais custos do que tinha há alguns anos.”
Os principais festivais têm todos uma marca no nome, com a exceção do líder da lista do ano passado: Rock in Rio, que ocorre a cada dois anos em Portugal. A seguir ao festival oriundo do Rio de Janeiro, os maiores festivais em 2018, pelo número de espetadores, foram o Nos Alive, com uma audiência de 165 mil pessoas, o Meo Sudoeste, que recebeu 147 mil pessoas, e o Vodafone Paredes de Coura, com 100 mil espectadores. Os dois seguintes são patrocínios repetidos, o Meo Marés Vivas e o Nos Primavera Sound.
“Os festivais começam a valer muito e as empresas têm dificuldade em permanecer nos festivais”, porque tem “mais custos do que tinha há alguns anos”, explica Ricardo. “Se falarmos só de empresas com capital português, são as mesmas” que se encontram sempre nos festivais, continua, o que não é o ideal. “Para nós enquanto mercado era mais simples haver uma rotatividade, que obrigasse a um aumento da competitividade”, diz o cofundador da Aporfest.
Os principais elementos que têm feito encarecer os custos são a sustentabilidade e as novas tecnologias, explica Ricardo. “Para responder a estas questões têm de cobrar mais às pessoas ou então às marcas”, reforça. No ano passado, foram vários os festivais que aumentaram o preço mas, para este ano, parece que estabilizou, e a maioria manteve a fasquia estabelecida em 2018.
“Hoje é mais difícil pôr em prática um bom festival”, com mais detalhes a ter em conta, defende Ricardo. Dos festivais nacionais realizados em 2018, 30% tinham um promotor privado, e outros 30% tinham um responsável associativo. O festival, para conseguir ser totalmente rentável tem ter financiamento, sponsors e receita, e muitos dos municipais têm entrada gratuita, o que dificulta a sustentabilidade.
Entre os maiores players do mercado privado está a promotora Música no Coração, de Luís Montez, que organiza o Super Bock Super Rock e o Meo Sudoeste, a Everything Is New, de Álvaro Covões, que é responsável pelo Nos Alive, e ainda a Ritmos, que promove o Paredes de Coura e o Primavera Sound, entre outros.
Por outro lado, tem vindo a aumentar o financiamento público dos festivais, através de linhas de apoio do Turismo de Portugal, Ministério do Ambiente e Ministério da Cultura, por exemplo, e mais de um quinto dos festivais do ano passado teve um promotor público. “O financiamento público está a elevar a qualidade dos festivais”, garante Ricardo Bramão.
Estes eventos funcionam como uma atração turística, nomeadamente fora dos grandes centros urbanos. A maioria ainda se realizou no litoral, mas mais vão aparecendo no interior. Com o abrandamento do naming sponsor, aparece por outro lado o chamado naming do município, que batiza o festival com o nome da localidade onde se realiza. Em 2018 foram 97 os incluíram o nome da região, como é o exemplo do FMM Sines, O Sol da Caparica ou o Festival do Crato.
Como são os festivaleiros em Portugal?
A maior parte dos festivaleiros é jovem, com idades entre os 21 e os 30 anos, revela o estudo realizado pela Aporfest. Muitos são estudantes, e quase metade tem uma licenciatura. O cartaz continua a ser a maior motivação para os espectadores, e o tipo de música que chama mais pessoas para os eventos é o rock, uma tendência que se tem vindo a manter.
As pessoas decidem com mais antecedência comprar os bilhetes, cerca de 28% compra à medida que vão saindo as novidades. Com os festivais a esforçarem-se para trazer nomes grandes do mundo da música, os visitantes não querem perder a oportunidade de ver e portanto compram o bilhete mais cedo.
Com este fenómeno, os principais festivais têm vindo a esgotar certos dias com bastante antecedência, como foi o exemplo do dia dos Pearl Jam no Nos Alive, ou dos Red Hot Chili Peppers no Super Bock Super Rock, que esgotaram cerca de seis meses antes. Neste ano também já há dias esgotados, para os festivais que se realizam em julho.
Não é só de espectadores portugueses que se fazem os festivais nacionais, e vários estrangeiros também frequentam os eventos musicais por cá. Estes têm “exigências e comportamentos que o promotor quer assimilar”, explica Ricardo Bramão. Entre aquelas que se destacam está o pagamento sem dinheiro visível, que “lá fora é muito habitual”, e que tem sido adotado nos festivais em Portugal mais recentemente.
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