Sonae MC revê normas contabilísticas. Peso da dívida quase duplica

Dona do Continente apresentou impacto nas contas de 2018 caso IFRS 16 já estivesse em vigor. Rácio dívida líquida/EBITDA saltaria de 1,9x para 3,5x. Sonae MC reviu mais de 2.400 contratos de locação.

A Sonae MC, dona dos hipermercados Continente, apresentou o impacto nas contas de 2018 das normas contabilísticas previstas no IFRS 16, que só este ano entra em vigor, tendo revisto quase todos os seus principais indicadores económicos. Entre estes, destaque para a revisão do peso da dívida financeira líquida da empresa, que ao invés de ter terminado 2018 com um peso de 1,9 vezes o EBITDA subjacente (sem itens não recorrentes), terminou com um peso de 3,5 vezes.

“O rácio dívida financeira líquida / EBITDA subjacente é reajustado para 3,5x, devido aos referidos impactos na dívida financeira líquida e no EBITDA subjacente“, revela a empresa responsável por dois terços do volume de negócios do grupo Sonae em comunicado divulgado na noite de segunda-feira. Apesar da revisão em alta, a empresa assegura que mantém “um sólido perfil financeiro”.

Publicada em janeiro de 2016, a aplicação da IFRS 16 só tem caráter obrigatório a partir dos exercícios contabilísticos com início no ano fiscal de 2019, sendo que a principal alteração associada a esta norma encontra-se na classificação e reconhecimento das locações nas demonstrações financeiras dos locatários.

“Todas as locações devem ser registadas no balanço através do reconhecimento de um direito de uso do ativo e de um passivo de locação correspondente ao valor presente de futuros pagamentos de locação“, acrescenta já a Sonae sobre a nova norma, apontando que o IFRS 16 “também afeta a apresentação da demonstração de resultados, nomeadamente pela substituição de encargos com rendas por amortizações (do direito de uso do ativo) e de juros (relativos ao passivo de locação)”.

Mais de 2.400 contratos revistos

Apesar de a norma só entrar em vigor para as contas de 2019, a Sonae MC optou por uma “abordagem retrospetiva integral”, optando por isso por dar conta dos impactos das alterações já no exercício do ano passado. O objetivo foi o de “providenciar aos utilizadores das suas demonstrações financeiras uma visão mais abrangente”, de modo a assegurar uma melhor “comparabilidade entre exercícios” e, logo, uma melhor “avaliação de desempenho ao longo do tempo”.

Para fazer a reapresentação de contas de 2018 ao abrigo das novas normas, a Sonae MC procedeu à revisão de mais de 2.400 contratos de locação, “incluindo veículos, equipamento e imóveis”, através de um “processo minucioso para determinar as taxas de descontos específicas de todas as locações aplicáveis”.

Deste modo, assegura a maior empresa do universo Sonae, é possível avançar já com as demonstrações financeiras relativas ao ano fiscal comparativo de 2018, “como se a IFRS 16” tivesse sido sempre aplicada. Mas além de rever os números anuais de 2018, e em prol de uma melhor comparabilidade em termos trimestrais, a dona do Continente assegura que “no devido momento”, também serão reapresentadas os resultados trimestrais de 2018 “para assegurar uma transição mais suave e comparabilidade”.

Ainda com valores não auditados e calculados com base em contas proforma, a Sonae MC aponta como principais ajustamentos às contas:

  • O EBITDA subjacente aumenta 105 milhões, para 423 milhões, em resultado sobretudo da remoção de cinco milhões de rendas de veículos e equipamentos e de 99 milhões de rendas de imóveis. A margem EBITDA subjacente aumenta 2,4 p.p. para 9,8%;
  • Os resultados antes de impostos diminuem 14 milhões para 166 milhões, em consequência dos ajustamentos em amortizações e em juros terem um impacto na demonstração de resultados superior ao do ajustamento em rendas;
  • Os fundos de acionistas diminuem 86 milhões para 675 milhões, no seguimento do reconhecimento no balanço do ‘novo’ passivo de locação de 859 milhões e do ‘novo’ ativo de direito de uso de 773 milhões;
  • O rácio Dívida financeira líquida / EBITDA subjacente é reajustado para 3,5x, devido aos referidos impactos na dívida financeira líquida e no EBITDA subjacente.

A Sonae MC sublinha ainda que o volume de negócios não sofreu qualquer alteração com a reapresentação das contas de 2018 ao abrigo da IFRS 16, reforçando que esta nova norma “não afetará as prioridades económicas e financeiras”, nem a capacidade de geração de fluxos de caixa por parte da empresa.

“Assim, a Sonae manterá um foco constante no crescimento rentável e na geração de valor a longo prazo para todos os seus stakeholders, continuando a assegurar a manutenção de uma estrutura de capital robusta e conservadora”, garante.

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