DBRS sobe perspetiva da dívida portuguesa para positiva. Mantém rating dois níveis acima de “lixo”

A agência canadiana de notação financeira avaliou esta sexta-feira a República. Apesar de ter deixado o rating do país inalterado em "BBB", o outlook passa para positivo.

A DBRS subiu a perspetiva do rating de Portugal para “positiva”, do anterior nível “estável”. Apesar de a notação financeira se ter mantido inalterada em BBB (no segundo degrau do nível de investimento de qualidade), a agência de notação financeira sinalizou que a quebra no défice e na dívida poderão levar a alterações nos próximos meses.

“A perspetiva positiva reflete a visão da DBRS que os riscos para o rating estão direcionados em baixa”, refere o relatório da agência. “O défice orçamental está lentamente a aproximar-se do equilíbrio e o rácio da dívida pública face ao produto interno bruto (PIB) está a decrescer a um ritmo saudável”.

Quanto às contas públicas, a DBRS aponta para a redução do défice de 7,2% do PIB em 2014, para 0,5% em 2018 graças a “robustas” receitas com impostos e contenção na despesa pública. O Governo estabeleceu como meta para este ano um défice de 0,2%, enquanto o excedente deverá chegar no próximo ano, já na próxima legislatura. Sobre as eleições, refere que Portugal beneficia de “estabilidade” que deverão manter-se

Deterioração externa pode travar economia

Já em relação à dívida, a agência aponta para a “diminuição significativa” no rácio “pelo segundo ano consecutivo”. Após poucas alterações entre 2014 e 2016, o peso da dívida na economia caiu para 121,5% no ano passado. A redução da dívida pública está a ser conseguida através do aumento do excedente primário, do crescimento económico e da quebra nos juros pagos pela República aos credores.

A projeção do Governo é que a dívida caia para 118,5% do PIB este ano, mas a DBRS alerta que excedentes primários sustentáveis e crescimento económico estável ao longo do tempo são necessários para manter a trajetória de queda. A desaceleração da economia é, assim, um dos desafios do país. Após a expansão de 2,8% em 2017 e 2,1% em 2018, o Governo prepara-se para rever em baixa o crescimento esperado para a economia portuguesa em 2019 de 2,2% para 1,9%.

“A Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco de Portugal preveem um crescimento moderado de cerca de 1,7% a 1,8% nos próximos anos. Dada a ligação entre a procura externa e as decisões de investimento interno, os riscos descendentes para as perspetivas de crescimento de curto prazo decorrem principalmente de uma maior deterioração do ambiente externo“, alerta a agência.

Malparado e elevado endividamento continuam a penalizar

Os principais riscos não são, no entanto, todos internacionais. Apesar do otimismo sobre Portugal, a agência deixou alertas. “O nível de métricas financeiras públicas e privadas ainda sinaliza vulnerabilidades. O elevado endividamento público limita a capacidade orçamental do Governo de gerir choques negativos e stock ainda elevado de crédito malparado — particularmente no setor empresarial — pesa sobre a estabilidade financeira“, refere.

O crédito malparado caiu 11% em 2018, ano em que a banca acelerou a venda de carteiras de crédito. Apesar da queda homóloga face aos 37 mil milhões de euros no final de 2017, há ainda 25,8 mil milhões de euros por limpar das folhas de balanço, segundo dados divulgados esta semana pelo Banco de Portugal. As famílias estão abaixo da média, enquanto as empresas continuam a ser o maior problema.

A DBRS reconhece a recuperação do setor da banca depois do reforço de capital em 2017. “A lucratividade da banca é apoiada por um melhor ambiente operacional, menor custos de risco e aumento constante dos preços dos imóveis. A exposição direta e indireta do setor bancário ao mercado imobiliário residencial representa quase 40% do total de ativos do setor. O crescimento dos preços da habitação arrefeceu um pouco em 2018, mas fortes aumentos sustentados nos preços das casas podem começar a levantar preocupações“.

Juros mais baixos também ajudam famílias e empresas

A revisão em alta do rating da República — que esteve em grau especulativo durante a crise por todas as agências à exceção da DBRS — é um dos fatores que tem levado à diminuição dos juros da dívida. No mês passado, O ministro das Finanças disse à Lusa que o Estado poupou já 1.270 milhões de euros com as emissões de obrigações desde setembro de 2017, altura em que Portugal voltou a ter uma notação de investimento.

Esta sexta-feira, em reação à subida do outlook sublinhou que “juros mais baixos são também uma boa notícia para as famílias e as empresas, que podem assim investir a custos mais reduzidos”, em comunicado. “Não estamos, portanto, a falar de um indicador abstrato, mas de uma orientação política com impacto concreto na vida das pessoas”, acrescentou Mário Centeno.

A agência canadiana foi a terceira a avaliar a dívida pública este ano e a decisão segue-se a um upgrade por parte da Standard and Poor’s. No calendário do primeiro semestre, fica apenas a faltar a Fitch, a 24 de maio. Atualmente, a Moody’s é que a atribui o rating mais baixo a Portugal, Baa3 com outlook estável que é apenas um nível acima do lixo.

(Notícia atualizada às 21h45)

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