30 anos depois do Photoshop, o que a revolução digital deu à arquitetura. E à arte

  • ECO
  • 11 Abril 2019

Fotografia de arquitetura após a revolução digital reúne obras de quase 50 artistas que constroem e manipulam imagens feitas a partir de objetos e espaços arquitetónicos. No MAAT até 19 de agosto.

Retocar uma fotografia – nova ou antiga – era um trabalho que podia custar tanto como 300 euros por hora antes em 1990. Três anos antes começava a nascer uma ferramenta informática que se tornou indispensável nas redações, no design, na moda, na arquitetura, na arte. E que agora celebra os seus 30 anos de vida.

Esta é uma história de dois protagonistas. Thomas Knoll, estudante da Universidade do Michigan, começou a criar o Display, um calibrador de cor que devia ser usado em fotografias naquele final dos anos 80. O irmão, John, profissional de Iluminação, interessou-se e pediu-lhe um programa que editasse imagens. Rebatizou-o com o nome pelo qual ainda é conhecido – Photoshop.

Ao princípio, o Photoshop era distribuído com um scanner, depois os irmãos tentaram a sorte com os ‘grandes’ de Silicon Valley. A Apple mostrou-se interessada, a Adobe comprou a licença. Esses nomes não tinham peso que lhes damos hoje.

No início dos anos 90, o software começou a ser distribuído com os computadores da maçã e assim a entrar nos estúdios de design e fotografia. Hoje está à distância do polegar no smartphone, fez uma revolução no design, na arquitetura e é mais uma ferramenta de expressão artística atestam os trabalhos de cerca de 50 artistas da mais recente exposição do MAAT – Museu de Arte Arquitetura e Fotografia.

Ficção e fabricação é um passeio pela fotografia de arquitetura após a revolução digital. Com paragem obrigatória no trabalho dos alemães Thomas Ruff (1958), um dos primeiros a usar meios digitais para trabalhar imagens, e Andreas Gursky (1955), outra referência da escola de Dusseldorf.

“Os artistas usam a arquitetura para expressar a contemporaneidade”, sublinha Pedro Gadanho, arquiteto e diretor do museu, que assina a curadoria com Sérgio Fazenda Rodrigues.

Usam-na tanto quando a manipulação é subtil como quando é descarada. É o que acontece na série Cidades da artista portuguesa Isabel Brison (Lisboa, 1980). Nas suas fotografias equilibram-se a arquitetura vernacular, marquises, o estilo palaciano, o quase autoconstruído, criando uma novo edifício.

Entre os cerca de 50 artistas cujo trabalho está nesta exposição, encontram-se os portugueses Teresa Braula Reis, André Cepeda, Tatiana Macedo, Edgar Martins, Mafalda Marques Correia ou Mónica de Miranda.

As 68 obras escolhidas são oriundas da coleção de arte da Fundação EDP, mas também da coleção de fotografia do Novo Banco e de outras instituições (cerca de metade), o Museu Rainha Sofia e galerias de arte portuguesas, mas também de Berlim, Frankfurt, Viena ou Londres.

Distribuem-se em três áreas: a primeira é dedicada às obras que vão para além dos limites tradicionais da fotografia. A segunda fala da aproximação entre a realidade e ficção. O terceiro, e último, foca-se na possibilidade de engendrar mundos afastados do contexto real.

Fotografia de arquitetura e arte contemporânea

Chama a atenção, à entrada, o jogo de impressões e vidro criado pela artista alemã Veronika Kellndorfer, a partir, justamente, da Casa de Vidro da arquiteta modernista italo-brasileira Lina Bo Bardi, autora, entre outros, do edifício do Museu de Arte de São Paulo (MASP), que marca a paisagem da Avenida Paulista, e dos seus dispositivos museográficos – placas de vidro sobre cubos de betão.

“A arte ficciona a perceção que temos da arquitetura”, dizem os curadores sobre a exposição. As encenações da artista brasileira Lucia Koch, escultora e fotógrafa, nas obras Arquitetura de Autor são disso prova. Ao longe, são edifícios que poderiam existir em qualquer parte do mundo; de perto, são caixas usadas para criar ideias de arquitetura. Maquetes levadas a sério pela fotografia.

A arquitetura é desculpa, conclui-se. “Falamos da maneira como as imagens são consumidas superficialmente”, diz Gadanho.

A exposição pode ser vista até 19 de agosto e ‘concorre’ com a Hello Robot, Design Between Design and Machine e as mostras dedicadas às obras de João Louro, Ana Santos e Carlos Bunga.

  • Ficção e Fabricação. Fotografia de arquitetura após a Revolução Digital
    MAAT – Museu de Arte Arquitetura e Tecnologia

Galeria principal
De domingo a segunda, das 11.00 às 19.00 (encerra às terças-feiras)
Até 22 de abril
Para todas as idades
Bilhetes: 5 euros; estudantes e seniores 2,5 euros; grupos de mais de 10 pessoas 2,5 euros por pessoa; gratuito até aos 18 anos e para membros MAAT.

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