Paddy Cosgrave critica benefícios fiscais às empresas na Irlanda. Estratégia “atingiu o prazo de validade”
A Irlanda é conhecida por cobrar impostos mais baixos às grandes empresas, como a Apple. Num artigo de opinião, o líder do Web Summit critica o Governo irlandês e pede uma nova estratégia para o país.
O fundador do Web Summit defende que a estratégia irlandesa de atribuir condições fiscais mais favoráveis às grandes empresas “atingiu o prazo de validade”. Num artigo de opinião publicado no The Irish Times, Paddy Cosgrave sugere uma “transição” para outro modelo que não ponha em causa a perceção internacional sobre o país.
“O poder e influência da Irlanda sobre o mundo é real. Mas não é por causa do nosso tamanho, é por causa da nossa marca”, começa por dizer o líder do Web Summit. “No entanto, o sentimento internacional perante a marca Irlanda é cada vez mais negativo. E isso devia chamar a atenção a qualquer pessoa preocupada com a estabilidade do mercado laboral e com as perspetivas económicas para os irlandeses ao longo da próxima década”, considera Cosgrave.
O empreendedor irlandês vai ainda mais longe, acusando o Governo de se defender com um argumento “ingénuo” quando o assunto dos benefícios fiscais é abordado. “A defesa do Governo de que a OCDE ‘não classifica a Irlanda como um paraíso fiscal’ simplesmente já não funciona. […] Continuar a assegurar aos irlandeses que está tudo bem é ingénuo”, critica.
Temos de admitir a nós próprios que o nosso sistema de impostos mais favorável, sobretudo para as empresas estrangeiras, tem sido durante décadas o nosso modelo económico. Mas também temos de admitir que esse modelo atingiu o prazo de validade.
Segundo Paddy Cosgrave, a Irlanda tem de definir um novo modelo e fazer uma “transição”, “correndo sérios riscos” de os termos dessa transição acabarem por ser decretados “por nações maiores”. “Para o fazermos, temos de admitir a nós próprios que o nosso sistema de impostos mais favorável, sobretudo para as empresas estrangeiras, tem sido durante décadas o nosso modelo económico. Mas também temos de admitir que esse modelo atingiu o prazo de validade”, remata.
“Não podemos permitir que a crescente maré internacional contra o nosso sistema fiscal afete a marca Irlanda e prejudique a nossa economia. A nossa marca e a nossa economia foram meticulosamente construídas ao longo de muitas décadas”, apela o fundador do Web Summit.
A Irlanda é um país conhecido por servir de sede europeia para algumas das maiores empresas tecnológicas norte-americanas, como é o caso da Google, do Facebook e da Apple. Como incentivo, o Estado oferece taxas mais baixas sobre os lucros destas companhias.
Mas este regime tem vindo a ser posto em causa nos últimos meses. Em 2018, a Comissão Europeia obrigou o Estado irlandês a recuperar 13,1 mil milhões de euros em impostos que não tinham sido cobrados à fabricante do iPhone, valor ao qual foram somados 1,2 mil milhões de euros em juros. Numa primeira reação, o Governo rejeitou. Mas, em meados de outubro, a Apple acabou por transferir o montante para o Tesouro irlandês.
Esta posição de Paddy Cosgrave surge depois de o empreendedor ter fechado com Portugal um contrato para a realização do Web Summit em Lisboa até 2028, em troca de uma verba anual de 11 milhões de euros. O montante foi a forma encontrada por Portugal para atrair e fixar um evento que, em 2017, gerou um retorno de mais de 300 milhões de euros para a economia. O montante pago por Portugal anualmente ao Web Summit é repartido entre o Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa e o Ministério da Economia.
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