Estará Portugal a caminho da cauda da Europa?
Marcelo e Cavaco lançaram o alerta: é preciso crescer mais para não cair para a ponta da Europa. Mesmo com a economia a convergir com a Europa, os países do centro e leste estão cada vez mais perto.
O Governo reviu em baixa o crescimento que antevê nos próximos anos, como já era esperado, devido ao abrandamento da zona euro, e as campainhas soaram para os lados de Belém. Marcelo Rebelo de Sousa disse que era preciso “não nos deixarmos ficar na ponta da zona euro“. O seu antecessor, Aníbal Cavaco Silva, repetiu um aviso que tem feito: “mais ano menos ano, Portugal será lanterna vermelha do pelotão da Zona Euro”. Com a economia a caminho do terceiro ano consecutivo de convergência com a Europa, farão sentido estes avisos?
Mário Centeno apresentou esta segunda-feira o seu último Programa de Estabilidade, pelo menos nesta legislatura, e nele reviu a previsão de crescimento económico para este ano de 2,2% para 1,9%. Mas o maior pessimismo não se fica por 2019, e as previsões de crescimento para 2020, 2021 e 2022 também foram revistas em baixa. De imediato, os dois últimos Chefes de Estado deixaram avisos.
Cavaco Silva, mais pessimista e crítico da atual solução de Governo, disse que “por este caminho, mais ano menos ano, Portugal será lanterna vermelha do pelotão da Zona Euro”, lembrando que os países de centro e leste da Europa se estão a aproximar. Marcelo Rebelo de Sousa disse primeiro que os números “não são preocupantes”, mas logo de seguida alertou que “é preciso não nos deixarmos ficar na ponta da zona euro” e que não basta estar a crescer mais só em comparação com os outros “porque a França e Alemanha estão a crescer menos”.
Depois dos anos críticos do resgate, a economia portuguesa voltou a convergir com a Europa em 2017 e 2018, o que deverá voltar a acontecer este ano, mesmo com esta revisão em baixa do crescimento. As previsões internacionais mais recentes, da responsabilidade do Fundo Monetário Internacional, apontam nesse sentido, o que se deve essencialmente a um abrandamento mais pronunciado da zona euro — em especial da Alemanha, França e Itália, as três maiores economias do bloco.
Para os anos seguintes, o entendimento já é diferente. O Governo espera uma manutenção da taxa de crescimento nos 1,9% e uma aceleração gradual a partir de 2021, o que garantiria a continuação da convergência. Já o FMI espera um abrandamento da economia portuguesa até 2020, e a partir desse ano Portugal passaria a crescer ao mesmo ritmo que a zona euro. Não haverá convergência, mas também não haverá divergência.
Neste campeonato, só quatro países crescem menos que Portugal em 2019 e 2020 — Alemanha, França, Itália e Bélgica –, todos eles com economias consideravelmente maiores que a de Portugal. De acordo com o FMI, em 2024, voltam a ser quatro as economias que crescem menos que Portugal, mas agora com a Grécia e a Finlândia neste lote, por troca com a Itália e a Bélgica.
Os avisos do atual e do anterior presidente apontam para outra dimensão e na qual Portugal já parece estar a perder gás. As economias com dimensão semelhante à de Portugal apresentam taxas de crescimento mais expressivas que Portugal, tanto agora como nos próximos anos, de acordo com as previsões do FMI.
De acordo com os dados do Eurostat, entre os países da zona euro só Estónia, Letónia, Lituânia, Eslováquia e Grécia têm um PIB per capita (PIB dividido pela população do país) menor que o de Portugal. Desde 2009, Malta ultrapassou Portugal, e os restantes países cresceram e estão cada vez mais perto.
Como o PIB per capita é um indicador de atividade económica e é afetado pela população do país, o INE e o Eurostat defendem que a forma mais apropriada para refletir o bem-estar das famílias é o PIB per capita expresso em paridade de poder de compra.
Mas olhando para este indicador, as notícias são ainda mais negativas para Portugal. Os dados mais recentes apontam que, não só o poder de compra dos portugueses caiu em comparação com os restantes países no último ano para o qual há dados disponíveis, que é 2017, como Portugal está cada vez mais na cauda da zona euro.
Em 2009, havia cinco países no euro com menor poder de compra que Portugal — Malta, Estónia, Lituânia, Letónia e Eslováquia. Em 2017, mesmo com a queda da Grécia, só havia três países. Ou seja, Malta, Estónia e Lituânia passaram à frente de Portugal. De acordo com o INE, o poder de compra em Portugal fixou-se em 76,6% da média da União Europeia em 2017.
O ministro das Finanças não vê as coisas da mesma forma. Numa entrevista à TVI, o ministro explicou que Portugal “chegou mais tarde a este ciclo de crescimento que esses países”, países esses que têm menos dívida e o Orçamento em ordem, mas para Centeno o mais importante é que Portugal paga menos juros pela sua dívida pública.
“É muito importante termos noção que Portugal paga hoje muito menos pela dívida do que há três anos e muito menos em comparação com outros países. A diferença nas taxas de juro reduziu-se muito significativamente e esse é o verdadeiro sucesso da convergência, o que mostra mais claramente esse sucesso”, disse.
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