Sindicato das matérias perigosas dá uma semana à ANTRAM ou avança para nova greve
Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas diz que postura da ANTRAM foi "uma afronta" e ameaça com regresso da greve. ANTRAM anuncia que vai rever contrato coletivo. Nova reunião dia 7 de maio.
O representante do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas, Pedro Henriques, anunciou esta segunda-feira, à saída da primeira reunião com a ANTRAM, que a postura da associação na reunião foi “uma afronta que não estamos dispostos a aceitar.” A pedido do governo, porém, o SNMMP acabou por aceitar dar uma semana para a ANTRAM mudar de postura. Se tal não acontecer, “muito provavelmente volta a greve”, anunciou à saída da reunião.
“Desde que terminámos a greve começámos a trabalhar para novo acordo coletivo de trabalho, com mais de 70 artigos. Agora, a ANTRAM chegou à reunião e disse que foi surpreendida com as nossas reivindicações. Não estamos a reivindicar nada a mais do que já tínhamos reivindicado mesmo antes da greve. Dizer-nos que não vinha preparada é uma afronta que não estamos dispostos a aceitar. Concedemos, a pedido do governo, uma semana, e no final desta semana veremos quais as formas de luta que iremos utilizar”, explicou Pedro Henriques. “A greve será a opção muito provavelmente”, assegurou mesmo.
Segundo Pedro Henriques, na próxima reunião, agendada para dia 7 de maio, a ANTRAM deverá “pronunciar-se concretamente sobre dois dos principais temas que temos em cima da mesa: o reconhecimento da categoria profissional de motorista de matérias perigosas e a definição do salário base desta profissão em dois salários mínimos, ficando indexado ao valor do salário mínimo”, referiu aos jornalistas presentes, em declarações transmitidas pelas televisões.
As negociações entre o sindicato e a ANTRAM iniciaram-se esta segunda-feira depois de uma greve que afetou a distribuição de combustíveis em todo o país. A 15 de abril, os motoristas de matérias perigosas iniciaram a greve que acabou por obrigar o Governo a decretar requisição civil. A paralisação terminou a 18, tendo ficado definido que as negociações entre o SNMMP e a ANTRAM, com o Governo como mediador, começavam a 29 de abril, prolongando-se até ao final do ano.
Para servir de mediador entre as partes, o governo voltou a recorrer a Guilherme Dray para representar o Estado, advogado que já antes esteve nas negociações com os estivadores, que no final do ano passado pararam o porto de Setúbal.
ANTRAM vai rever contrato coletivo, mas lembra que empresas têm margens curtas
A Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) apontou que a reunião desta segunda-feira com o Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) foi o primeiro encontro “de um calendário de negociações que se prolonga até ao final do ano”, razão pela qual “não se podem exigir respostas no imediato”, reagindo assim às declarações do SNMMP à saída da mesma reunião. Ainda assim, prometeu a associação, “dia 7 de maio estaremos preparados para dar uma resposta”.
“Não estamos nem dececionados, nem ambiciosos, nem confiantes ou pouco confiantes. Foi a primeira reunião, foi a primeira vez que tivemos a oportunidade de ver as reivindicações”, lembrou Pedro Polónia, vice-presidente da associação, à saída da reunião. “Claro que tínhamos conhecimento sobre as reivindicações, pelo que foi saindo na comunicação social, mas uma coisa é ouvir pela comunicação social, outra é ver para além dos valores, saber tudo o que se pretende e qual a abertura do sindicato”, disse.
Realizada a primeira reunião, para a ANTRAM o tempo será agora de maturar ideias e de ouvir os seus associados, as empresas de transporte. “De amanhã a oito dias vamos tentar continuar negociações”, apontou, já a propósito da próxima ronda de negociações, agendada para 7 de maio.
Sobre a ameaça do SNMMP, de avançar com nova paralisação caso na próxima semana não veja avanços na definição de um salário base equivalente a dois salários mínimos ou a criação de uma categoria específica para os profissionais que lidam com materiais perigosos, a ANTRAM voltou a referir que é uma associação que “não trabalha sobre ameaças de greve”. E mesmo admitindo alguma diferenciação nas categorias profissionais dos motoristas, salienta que “também é preciso justiça no setor, não podemos ter tratamentos desproporcionados entre motoristas”. De todas as formas, a ANTRAM conta levar respostas para a próxima reunião.
“Sendo nós devidamente informados apenas na reunião de hoje [segunda-feira], não podemos dar hoje respostas, particularmente quando foi acordado um período de negociações de sete meses, com paz social. Mas na próxima reunião estaremos preparados para dar uma resposta”, assegurou Pedro Polónia.
O responsável lembrou ainda que a corrente direção da ANTRAM está no cargo há seis anos e que conseguiu renegociar o acordo coletivo do setor com a FECTRANS, que estava bloqueado há 20 anos. Ainda assim, admitiu, “vamos reabrir negociações com a FECTRANS e também vamos ouvir o Sindicado Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM)”. O SIMM foi outro dos sindicatos que recusou o acordo coletivo revisto com a FECTRANS e que também já se manifestou pronto para avançar para a greve.
Ainda à saída da reunião, a ANTRAM lembrou que o que está em causa são uma série de alterações com impacto nos custos com pessoal das empresas, as suas associadas, isto numa atividade que é “muito importante para o país”, e onde as transportadoras têm de operar com “margens muito apertadas”.
(Notícia atualizada às 18h40, com declarações ANTRAM à saída da reunião)
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