“Conduta de Berardo não foi compatível com título honorífico”, diz presidente da comissão de inquérito à CGD. Cópia da audição segue para Ferro Rodrigues
Luís Leite Ramos revela que deputados não gostaram da prestação de Joe Berardo na passada sexta-feira. Mas frisa que não cabe ao Parlamento tomar decisão sobre retirada da comenda.
Os grupos parlamentares dão parecer positivo ao requerimento apresentado pelo CDS relativo à retirada da comenda a Joe Berardo, na sequência das declarações na audição da comissão de inquérito que está a investigar os atos de gestão na Caixa Geral de Depósitos (CGD) nos últimos anos. E vão enviar para o presidente da Assembleia da República uma cópia da audição porque entendem que há matéria relevante sobre a prestação do empresário madeirense.
Luís Leite Ramos, presidente daquela comissão parlamentar, reuniu esta quinta-feira com os coordenadores dos vários partidos para avaliar o parecer que lhe foi solicitado pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, sobre o requerimento dos centristas.
“É uma análise muito simples dizendo que enviamos cópia da audição, e dizendo que nos parece que a conduta e o teor das declarações podem constituir matéria relevante para ser avaliado se o senhor Berardo cumpriu ou não cumpriu as obrigações e os deveres que tem perante o país”, explicou Luís Leite Ramos após a reunião da mesa de coordenadores da comissão de inquérito.
“É tão simples como isso, de forma objetiva, sem rodeios, mas remetendo para a senhora chanceler [Manuela Ferreira Leite] e para o conselho nacional das ordens a responsabilidade de avaliar em pormenor se realmente assim é ou não”.
Apesar de assegurar que não cabe ao Parlamento avaliar ou retirar os títulos a Joe Berardo, Luís Leite Ramos adiantou que os deputados fazem uma avaliação negativa à prestação de Joe Berardo na passada sexta-feira. “É um consenso não só do país mas também do Parlamento de que aquela conduta e as declarações que foram proferidas não são compatíveis com alguém que tem aquele título“, afirmou o deputado do PSD.
Em reação, o deputado comunista Duarte Alves disse que “não será pelo PCP que esse processo [de retirada de comendas] não avançará”, mas ressalvou que para o partido essa não é “a questão central”, mas sim que “o senhor Berardo, estes grupos monopolistas e a própria banca procuraram influenciar decisões políticas para se apropriarem de recursos públicos”.
"É um consenso não só do país mas também do Parlamento de que aquela conduta e as declarações que foram proferidas não são compatíveis com alguém que tem aquele título.”
Já antes, o primeiro-ministro, António Costa, tinha criticado o “desplante” de Joe Berardo na comissão de inquérito. O comendador disse não ter qualquer dívida ou património em seu nome e riu-se quando lhe perguntaram se deixaria de mandar na Associação Coleção Berardo caso os bancos executassem o penhor dos títulos.
Na quarta-feira, o CDS-PP pediu que seja instaurado um “processo disciplinar” para retirar a condecoração da Ordem do Infante D. Henrique ao empresário Joe Berardo, devido às declarações que fez no parlamento. O Conselho das Ordens vai reunir-se esta sexta-feira para decidir o destino das comendas de Joe Berardo.
Além do presidente da Assembleia da República, Luís Leite Ramos também vai enviar uma transcrição da audição para o Ministério Público (MP). “Há um conjunto de matérias que merece ser avaliado por quem de direito. Não tenho indícios criminais, não vou fazer queixa ao MP, mas tem havido uma interação com o MP, o MP tem pedido informação. A minha intenção é enviar a transcrição diretamente para o MP para tomar as diligências necessárias caso haja alguma matéria”, contextualizou o dirigente social-democrata esta quarta-feira.
A transcrição da audição só deverá seguir na próxima semana, dado que os serviços têm mais de cinco horas de áudio para transcreverem, com muitas interrupções e comentários paralelos do advogado de Joe Berardo, André Luís Gomes. Ao ECO, os procuradores do MP garantiram que vão analisar a prestação do empresário madeirense na comissão.
(Notícia atualizada às 16h18 com declarações do deputado do PCP Duarte Alves)
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