Sérgio Rebelo: “Seria um erro pensar que o turismo será a única solução para o futuro”

O economista da Kellogg School of Management disse que o turismo foi muito bom para o emprego, mas é preciso apostar noutros setores, como a Saúde e a Educação.

Pensar que o turismo vai continuar a crescer ao mesmo ritmo para sempre e que vai ser a única solução para a economia portuguesa seria um erro, considera o economista português Kellogg School of Management da Northwestern University Sérgio Rebelo. A Saúde e a Educação são setores que Portugal deve apostar para crescer, mas também a produção automatizada que começa a regressar aos países desenvolvidos.

As reformas estruturais são um tema aborrecido, admitiu, e as pessoas estão cansadas de ouvir falar do tema. “É por isso que não sou convidado para jantares”, diz de forma divertida numa apresentação na conferência ‘Portugal: From Here to Where?’, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa. “Mas são coisas importantes, é preciso fazer mais”, acrescentou.

Numa apresentação em que quis dar o mote para que sejam apresentadas novas ideias para colocar a economia a crescer, a primeira ideia que o economista português quis desconstruir é a de que o turismo é a solução para todos os problemas.

"Educação e Saúde são setores onde Portugal pode ser uma estrela. Podemos fazer muitíssimo mais na saúde. Temos um setor de saúde de muita qualidade, mas precisamos de uma marca.”

Sérgio Rebelo

Economista na Kellogg School of Management, da Northwestern University

“Seria um erro pensar que isto [o turismo] vai ser a única solução no futuro”, disse, demonstrando que o ritmo de crescimento do turismo tem sido acentuado, mas que a certa altura vai atingir o limite. Não que tenha sido uma coisa má: “temos muitas pessoas com habilitações modestas e realmente o turismo foi buscar essas pessoas” e deu-lhes emprego, explicou.

Mas é preciso mais. Entre as ideias defendidas por Sérgio Rebelo está a de que Portugal deve aproveitar setores onde já tem grandes capacidades e qualidades, como a saúde e a educação, e transformas estes setores em estrelas.

“Educação e Saúde são setores onde Portugal pode ser uma estrela. Podemos fazer muitíssimo mais na saúde. Temos um setor de saúde de muita qualidade, mas precisamos de uma marca”, disse, lembrando uma ideia que tem de que uma marca como a norte-americana Mayo Clinic em Portugal atrairia para o país outro mercado.

Mas o economista vai mais longe e diz que Portugal pode aproveitar uma nova onda de relocalização da produção mais automatizada, que tem estado estabelecida em países emergentes (como na Ásia), para as economias avançadas.

“Não é uma atividade que vá trazer muito emprego, mas vemos a produção a deslocalizar-se para os países desenvolvidos, porque estão mais perto do mercado e é mais fácil proteger os direitos de propriedade”, disse, brincando com as dificuldades que as empresas mais tecnológicas têm enfrentado no mercado chinês: “os chineses dizem que gostam muito do copyright, mas é mais do right to copy“.

Este movimento de deslocalização acontecerá primeiro nos Estados Unidos, porque os preços da energia são mais baixos, mas eventualmente deve espalhar-se aos restantes e Portugal pode aproveitar, defendeu.

Sérgio Rebelo defendeu ainda a necessidade de apostar e financiar a investigação em inovação e desenvolvimento, para que os agentes económicos tenham ideias novas que permitam fugir do modelo existente e fazer crescer a oportunidade, mas para isso é também políticas económicas bem escolhidas e estáveis.

No final de uma intervenção recheada de bom humor, o economista deixou um aviso aos presentes: “vou trabalhar naquela receita de bacalhau e depois estou a aceitar convites para almoçar”.

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