Feira do Livro volta a crescer, mas o setor ainda “não recuperou da crise”
A Feira do Livro de Lisboa continua a crescer, em espaço e em visitantes, mas o setor do livro ainda não voltou ao que era antes da crise de 2008.
São muitas as histórias sobre antigas livrarias e alfarrabistas que ameaçam fechar portas. O mercado dos livros já não é o que era, mas mesmo assim o gosto por virar as páginas e descobrir uma história ainda está presente. Todos os anos, abrem-se as portas da Feira do Livro de Lisboa para milhares de portugueses, tanto leitores habituais como estreantes.
Acontecimento obrigatório na agenda de muitos lisboetas, a Feira do Livro de Lisboa volta a abrir portas esta tarde, pronta a albergar ainda mais participantes, na expectativa de ver crescer o número de visitantes do ano passado. Ao todo 492 mil pessoas subiram e desceram as laterais do Parque Eduardo VII, visitando os stands que este ano se estendem igualmente para o relvado, uma medida que permitirá aumentar o espaço de exposição em dois mil metros quadrados.
Ainda que uma visita à Feira do Livro seja mais do que um ato de consumo e o evento represente um momento alto nas contas das editoras, a verdade é que estas trabalham 12 meses por ano. E os leitores, mantém o interesse durante o resto do ano? A resposta é consensual e a conclusão é que o setor livreiro atravessa dificuldades há vários anos.
“O setor do livro não recuperou da crise que se instalou em Portugal em 2009”, diz ao ECO Paulo Rebelo Gonçalves, responsável pela comunicação da Porto Editora. Uma visão que é corroborada por Bruno Pacheco, secretário-geral da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), que organiza a Feira do Livro. “Este é um mercado que ainda está a tentar recuperar da crise”, diz ao ECO.
Durante a crise, entre 2011 e 2016, o mercado teve uma queda acentuada, perdendo quase 30% do seu valor. Em 2017 e 2018, assistimos a um ligeiro aumento que, acumulado andará em torno dos 2%
Bruno Pacheco aponta ainda que “os baixos índices de leitura são ainda um obstáculo“. De facto, os últimos dados disponibilizados pelo INE mostram que, em 2017, quase dois terços dos portugueses não tinham lido um livro nos últimos doze meses.
Para o responsável da Porto Editora, “é muito preocupante a atual situação do setor: apesar do esforço e do dinamismo das editoras, o mercado tem diminuído ano após ano, e isto resulta da inexistência de uma verdadeira estratégia política de valorização do livro”. Bruno Pacheco aponta também que “as livrarias e as editoras têm feito esforços constantes de modo a fazer face aos desafios que o mercado imprime”.
Até mesmo “em contexto educativo o livro tem sido desvalorizado”, aponta Paulo Rebelo Gonçalves. Com o objetivo de estimular a leitura nos jovens foi criado, em 2006, o Plano Nacional de Leitura (PNL). Onze anos depois, foi aprovada uma resolução em Conselho de Ministros que ampliava e reforçava o PNL, por ser “amplamente reconhecida a necessidade de um maior investimento numa política pública de leitura”.
Bruno Pacheco explica que, apesar deste contexto, já se está a ver uma pequena recuperação. “Durante a crise, entre 2011 e 2016, o mercado teve uma queda acentuada, perdendo quase 30% do seu valor. Em 2017 e 2018, assistimos a um ligeiro aumento que, acumulado andará em torno dos 2%, no entanto, insuficiente para recuperar da queda que se verificou ao longo dos cinco anos anteriores”, diz o secretário-geral.
A quebra da faturação do setor livreiro não é exclusiva do mercado português. Em nove anos, as vendas de livros no espaço europeu afundaram de 24 mil milhões de euros, em 2008, para 22,2 mil milhões de euros, em 2017. Por cá, as contas do INE apontam para que, em 2016, o volume de negócios das empresas especializadas na edição de livros tenha chegado aos 331 milhões. Nesta área registou-se uma queda acentuada de 2008 para 2009, de 403,9 milhões de euros para 357 milhões. Já para aquelas dedicadas ao comércio a retalho de livros o volume foi de 144 milhões de euros, em 2016, o que compara com uma faturação de 157 milhões de euros, em 2006.
Ponto de encontro entre leitores e autores
Tendo em conta este cenário, a Feira do Livro de Lisboa, o maior evento dedicado ao livro realizado no nosso país, afigura-se como uma aposta essencial das editoras para conseguir alcançar mais público. Num sábado típico durante o evento, passam cerca de vinte mil pessoas em média no espaço do grupo Porto Editora, que inclui chancelas como a Bertrand.
“É óbvio que queremos que tenha retorno comercial que compense o investimento que é feito para estarmos presentes, mas encaramos sempre a Feira do Livro de Lisboa como uma oportunidade excecional de contacto direto com os leitores e de envolvimento dos nossos autores, e isso tem um valor intangível”, explica Paulo Rebelo Gonçalves.
Para a LeYa, a Feira do Livro tem-se provado uma fórmula de sucesso. “A edição do ano passado foi uma das mais bem sucedidas de sempre”, indica José Menezes, diretor de comunicação da editora, ao ECO. “Este ano o que desejamos é que este sucesso se repita e, se possível, possa ser superado, quer no que diz respeito à venda de livros quer, também, no que diz respeito à adesão às muitas atividades que planeámos para o nosso espaço”, confia.
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