Livros digitais representam menos de 1% do mercado em Portugal, mas há “margem para crescer”
Registos, jornais, faturas. O digital vai substituindo o papel, mas parece que os livros ainda são imunes. Em Portugal, ebooks representam menos de 1% do mercado, mas estão a crescer.
No verão, os tempos livres são muitas vezes aproveitados para ler aquele livro que estava na mesa-de-cabeceira a ganhar pó há várias semanas. Na altura de fazer a mala para a praia, se a obra escolhida for volumosa, pode não ser fácil encaixar o livro. Os leitores de livros digitais, conhecidos como eReaders, poderiam ser uma opção mais prática. Mas virar as páginas de um livro e sentir o cheiro do papel é ainda, para muita gente, uma parte essencial da experiência de leitura.
Com a chegada da tecnologia, deu-se a passagem do papel para o digital, algo que se acreditava que iria acontecer também no mercado dos livros. Mas a realidade não parece ser essa, pelo menos em Portugal, onde a versão “analógica” continua a triunfar sobre a mais moderna. Mas é uma tendência que ainda se pode inverter.
“Na década de 90 do século passado, dizia-se que, até 2000, deixariam de existir os livros em papel. Estamos em 2019 e o que se constata é que o papel não só resistiu como, a nível mundial, as vendas de ebooks deixaram de crescer e, em alguns mercados, até diminuíram”, conta Paulo Rebelo Gonçalves, responsável de comunicação da Porto Editora, ao ECO.
A diretora de e-Commerce da Fnac Portugal, Paula Alves, também aponta que o mercado “ainda é muito incipiente”, sendo que o peso dos livros digitais ainda é inferior a 1% do total. Mesmo assim, apesar de continuar com uma base pequena, neste ano a empresa já notou “um crescimento de mais de 35% na venda de ebooks”.
O grupo francês fez, em 2012, uma parceria com a marca de ebooks Kobo, e tem notado que o consumo dos eReaders acompanham as vendas de ebooks. A aposta nestes dispositivos e ebooks continua assim, já que, para a responsável, o mercado tem “bastante margem para crescer”.
Este ano já se fizeram alterações nas lojas da marca francesa em Portugal, para potenciar as vendas no segmento. “Os eReaders estavam junto dos tablets, agora estão ao pé dos livros“, revela Paula Alves, uma mudança subtil mas que pode influenciar a perceção do consumidor em relação a este produto.
O otimismo em relação aos livros digitais não é, no entanto, partilhado por todos. “O caso português é mais radical: não há mercado de ebook“, garante Paulo Rebelo Gonçalves. “No início da presente década, já a maioria das editoras portuguesas tinha os seus catálogos disponíveis em ebook – a Porto Editora desde 2008 –, ou seja, o problema não está numa eventual escassez de oferta, mas sim na ausência de procura”, aponta. “A esmagadora maioria dos leitores prefere o livro em papel.”
Já para a responsável do e-Commerce da Fnac, os baixos números de consumo de livros digitais também se devém, entre outras razões, a uma “falta de dinamização do catálogo português de ebooks“. Esta postura terá como base os exemplos da situação que se desenrolou no mercado vizinho, de acordo com o feedback que a Fnac tem tido. “As editoras têm algum receio de que aconteça o que aconteceu em Espanha, onde, quando se democratizaram os ebooks, começou a haver mais pirataria”, explica Paula Alves.
"Ainda não descobrimos como passar o cheiro dos livros no online.”
Além deste fator, existem também outros, nomeadamente os hábitos de leitura dos portugueses, que estão entre os mais baixos da União Europeia, refere. E, a contribuir também para a fraca adesão, não pode deixar de ser apontado um dos pontos a favor dos livros físicos – o seu cheiro. “Ainda não descobrimos como passar o cheiro dos livros no online“, diz Paula Alves.
Livros digitais são o futuro?
O baixo interesse dos consumidores nos livros digitais não é só registado por cá. “Também nos países que ditam tendências como os EUA e o Reino Unido – onde os ebooks tiveram uma boa adesão e penetração no mercado em torno dos 30% – começou a assistir-se a uma ligeira quebra nas vendas deste tipo de formatos“, aponta o secretário-geral da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), Bruno Pacheco, ao ECO.
De facto, nos Estados Unidos, a popularidade dos ebooks tem vindo a desvanecer, sendo uma tendência que se mantém neste ano, mostram os dados disponíveis. Em janeiro, as vendas de ebooks no país caíram 4,9% em relação ao ano anterior, de acordo com os dados da Associação de Publishers Americanos.
A substituição dos livros em papel pelos digitais é um cenário pouco provável para a associação responsável pela organização da Feira do Livro. “No cenário português, os livros digitais correspondem a menos de 1% do mercado, pelo que não vemos num futuro próximo que essa substituição seja concretizada de forma expressiva”, aponta.
Para o responsável da Porto Editora, “os suportes coexistirão”. “Mas também depende da evolução tecnológica que se testemunhar em relação ao suporte físico”, considera. Não é certo qual terá sido o primeiro livro digital, mas o primeiro dispositivo desenhado para ler estes documentos surgiu em 2004 e não mudou muito desde aí.
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