Hoopers: a paixão do basket de rua está no campo. E vem numa caixa-surpresa
Dois ex-adversários tornaram-se sócios para concretizarem um sonho: oferecer a paixão do basquetebol numa caixa, dar-lhe visibilidade e fazer crescer a popularidade deste "jogo de rua".
Chegou sem avisar, entrou e apresentou-se. “Olá, sou o Hugo”, disse. Prestes a voltar a Portugal, Hugo Domic, 28 anos, decidiu visitar a Startup Lisboa para começar a conhecer melhor o ecossistema empreendedor da cidade. Nesse dia, o empreendedor (fundador e a terminar o exit de uma startup que entregava combustível em França e na Alemanha) (re)encontrou André Costa, 29. Conhecia aquela cara de algum lado. Conversa puxa conversa, Hugo (ex-Benfica) percebeu que era do campo de basquetebol que conhecia André (ex-Queluz). Tinham jogado um contra o outro.
A história não seria relevante se não viesse seguida de outra. André estudou gestão no ISCTE e foi na escola de negócios que teve a sua primeira experiência empreendedora. Depois de ter criado uma júnior empresa de consultoria, passou pela ZON, despediu-se e viajou três meses pela América do Sul, integrou a equipa de consultoria estratégica da Accenture no Brasil e, anos depois, voltou a Portugal para trabalhar na PwC onde esteve até 2015. Nesse ano, acabado de ser promovido a manager, percebeu que, ainda que pudesse ser bom a fazer o que fazia, o trabalho não o fazia feliz. Tirou uma licença sem vencimento para embarcar na sua segunda experiência empreendedora.
“Durante esses meses estive a tentar montar um projeto na área da aviação. Tentei uma vez, não resultou. Fiz pivoting [alteração no modelo de negócio], também não resultou. Fiz todo o tipo de erros que espero nunca mais voltar a fazer, mas que foram muito importantes do ponto de vista de aprendizagem“, explica ao ECO. Apesar das dificuldades, André não voltou à PwC. Agarrou a oportunidade de trazer a Waynabox, projeto que tinha conhecido num programa de aceleração da Startup Lisboa, para Portugal. Um dia decidiu sair e começar algo seu. No processo, agarrou a área de mentoria da Startup Lisboa, dinamizando de seguida as de parcerias, investimento e business development. Foi num desses dias que Hugo apareceu na incubadora.
O tempo conta o resto da história. Hugo passou a diretor de operações da Kapten, André continuou na Startup Lisboa. Há quatro meses, André contou a Hugo o que queria fazer. ” “Comecei a pensar na ideia e a falar com o Hugo sobre ela, e ele disse-me que queria fazer isto também. E aconteceu naturalmente.”
Em fevereiro conversaram pela primeira vez, em abril começaram a trabalhar na Hoopers. “Ambos tivemos experiências no estrangeiro e lidámos com um problema: quisemos jogar basket na cidade e não conseguimos encontrar os campos. Não há informação agregada em nenhum sítio que nos diga localização, condições de piso e de tabelas e que pessoas lá jogam. A nossa primeira ideia foi começar a resolver este problema”, recorda André. Só que à medida que iam avançando, apareceram mais desafios. “Se quiser jogar com outras pessoas, como combino? Há obviamente canais informais do Facebook, Whatsapp e mensagens mas, muitas vezes, quando estás dentro de campo, nem sequer conheces as pessoas com quem jogas. O processo é, também ele, orgânico. Entras e começas a jogar”. Foi desse processo que resultou a recém-criada Hoopers, uma plataforma que combina e promove campos, produtos, conteúdos e experiências.
"Queremos voltar a trazer a identidade do desporto para a rua e nos praticantes, onde ela deveria estar.”
“A ideia é termos uma linha editorial da Hoopers, que vamos produzir, criar, desenvolver e distribuir conteúdo e que funciona também como um agregador de várias fontes de basket. Queremos responder às necessidades de campos, ter um repositório tanto em Portugal como no mundo com estas características”, explica André. E Hugo acrescenta: “Há jogadores americanos que, mesmo que tenham sido estrelas anteriormente, caem no esquecimento quando vêm jogar para a Europa. É nesta falta de engagement e de conhecimento sobre como posso promover estes jogadores em forma de conteúdos que queremos ajudar e oferecer o nosso know-how. Seja em formato audiovisual, texto, ou outro, e para que eles sejam reconhecidos e nós ofereçamos uma qualidade de maneira a que o basket e o ecossistema melhorem rapidamente”.
Além do vertical de conteúdos, os dois empreendedores querem ter outras vertentes de negócio. “Começar a evoluir para outro tipo de experiências relacionadas com os campos que queremos dar às pessoas. Paralelamente, queremos explorar a vertente de produto que, tanto o Hugo como eu temos, de logística e de conceito de surpresa. Por isso pensámos criar um modelo de surprise box com produtos de basket, em que a marca predominante de produtos seja a nossa, muito orientada para a rua, para o street basket. Queremos voltar a trazer a identidade do desporto para a rua e nos praticantes, onde ela deveria estar”, detalha André acrescentando que essas experiências podem passar por produtos como o NBA League Pass para assistir aos jogos ou até a oportunidade de algum tipo de treino com um jogador profissional. “Esta é uma das linhas para o modelo de negócio da caixa”, diz.
Com um investimento nulo até agora e um modelo de negócio assente na oferta de, por um lado, conteúdo e, por outro, uma caixa mensal com produtos que deverá custar entre 29,90 e 39,90 euros, a Hoopers arranca com a box em pré-reserva e com um mapeamento de mais de 20 campos (maioritariamente em Lisboa mas também em localizações como Paris). E com a ambição de conquistar um mercado que contabiliza, não só os 40 mil jogadores de basquetebol federados em Portugal mas esse número multiplicado por 40, que inclui fãs e outras pessoas apaixonadas pela modalidade. E depois? Depois, o mundo.
“Começámos em Portugal por razões de contexto mas a ambição é global. Acreditamos que vamos trazer gente para comprar produto pela via do conteúdo, e captar gente para os conteúdos pela via das caixas. Este 1+1 vai ter de ser 3”, brinca André, acrescentando: “Obviamente queremos fazer o teste em Portugal mas nos próximos seis a 12 meses olhar já para Espanha, como ponto seguinte para agarrar um mercado com a mesma lógica”.
Um campo, um artista, um jogo
Agarrar um campo e, através dele, uma cidade inteira. E, claro, os seus jogadores. Hugo e André decidiram que, para lançar a marca, queriam desafiar um artista de arte urbana para pintar um campo de basket na cidade. Um contacto com a galeria Underdogs surpreendeu-os: já alguém tinha pensado no mesmo e o processo, no âmbito do programa de arte pública promovido por esta galeria em conjunto com a câmara de Lisboa e que conta com o apoio da junta de freguesia de Arroios, já estava em curso.
Foi nessa altura que Akacorleone (nome artístico de Pedro Campiche, fã e jogador de basket) apareceu na história da Hoopers.
“A obra é do Pedro, e ele está de parabéns. Nós queremos agarrar a dinamização cultural do campo e dar vida a este espaço, trabalhando as nossas áreas. Música, experiências (iniciativas com jogadores profissionais). Temos aqui um espaço onde podemos dinamizar programação. E queremos ter mais como este, em Portugal e no estrangeiro”, sublinha André.
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