Na era genderless, qual o futuro das Men’s Fashion Weeks?
“As marcas devem avaliar se o custo envolvido na organização de dois eventos por estação tem o retorno esperado em termos de impacto nos media”, diz Michael Jais, CEO da Launchmetrics.
Durante três dias acompanhámos a missão do Portugal Fashion em duas das principais capitais europeias da moda – Milão e Paris, onde três designers nacionais – Miguel Vieira, David Catalán e Hugo Costa – apresentaram as coleções nas Semanas de Moda de Homem, para a estação primavera/verão 2020.
Em Milão foi uma dose dupla de moda nacional e a entrada no calendário oficial de desfiles: para Miguel Vieira um regresso, para David Catalán uma estreia na slot dos novos talentos, na Milano Moda Uomo. Um reconhecimento da Camera Nazionale della Moda Italiana aos designers nacionais e ao projeto Portugal Fashion na promoção da moda nacional em Portugal e em mercados estratégicos internacionais. “Estamos muito felizes com a subida ao calendário de desfiles, era uma meta a atingir. E em Paris, também com um evento diferente que nos mostra que a moda não é só um desfile, pode ser muito interativa, digital, uma experiência para quem interage com as coleções”, explica Mónica Neto, project leader do Portugal Fashion.
A verdade é que a indústria da moda masculina está hoje bem diferente, 50 anos depois dos primeiros desfiles com coleção de Homem apresentados em Florença. As passerelles atuais de Londres a Nova Iorque percorreram um longo caminho de inovação. Num relatório recente, a agência britânica Launchmetrics reflete sobre o futuro das Men’s Fashion Weeks. “Enquanto a criatividade e sofisticação do design continuam a crescer, a indústria está a ser desafiada pelas mudanças sociais e do próprio estado do retalho”, defende Michael Jais. O presidente executivo da Launchmetrics questiona a “necessidade destes eventos e o futuro das semanas de moda de homem”.
"A verdade é que vemos crescer a tendência para as marcas organizarem ‘co-ed show’s’ durante as Semanas de Moda de Mulher e também se assiste a mudanças em direção a um design mais unissexo.”
“Coleções mais integradas, um novo consumidor assim como marcas com uma única direção criativa fazem com que se assista mais a Co-ed Shows e parece que, em alguns mercados, estes eventos isolados perderam alguma relevância. Vemos por exemplo a Balenciaga a fazer apresentações fora dos calendários tradicionais”, afirma o CEO da Launchmetrics.
Ainda assim, a Milano Moda Uomo e a de Paris mantêm a “liderança com a maioria dos designers a apresentarem as suas coleções nestas capitais”, acrescenta. O que está alinhado com aquela que é a estratégia do Portugal Fashion e dos designers nacionais que marcaram presença. “Esperei por este momento durante muito tempo, estar onde estão os grandes gurus da moda italiana. Gosto de juntar tanto homem como mulher no mesmo desfile, aqui apostam numa componente muito masculina, acho que continua a fazer sentido semanas de moda distintas”, defende Miguel Vieira, no final do desfile em Milão.
“Quem disse que a alfaiataria tem de ser chata”, questionou Miguel Vieira que apresentou uma coleção — ainda que fiel aos clássicos — com um twist, mostrando que é possível reinventar a alfaiataria. E com cor, padrões e linhas que transportam para um cenário idealizado da arquitetura de Mies van der Rohe, contou uma história com “uma certa aura cinematográfica”.
"Dizem-nos que como há menos concorrência no segmento masculino. Nós portugueses devíamos apostar mais nos criadores e nas marcas masculinas, porque somos mais diferenciados e podemos ter mais oportunidades.”
Em Milão, David Catalán procurou o (seu) Nirvana com a coleção NOT FINISHED inspirada nos anos 90 e com Kurt Cobain, vocalista dos Nirvana, como fonte, não de inspiração mas de pergunta: “Como teriam sido os anos 90 sem Kurt Cobain”. Foi ao movimento grunge que o designer foi buscar a inspiração para a coleção apresentada, mantendo a sua interpretação do menswear elaborado com um toque desportivo. “Há muito espaço para a moda portuguesa no contexto internacional, sobretudo depois de hoje senti que estão abertos a terem-nos cá. Fala-se muito no genderless, mas há quem continue a gostar das coleções bem definidas”, referiu David Catalán.
Já em Paris, Hugo Costa fez o hattrick da moda portuguesa em calendários oficiais. Em vez de desfile, criou na Rue Notre Dame de Nazareth uma experiência imersiva tendo por base aquela que foi a inspiração da sua coleção, as Haenyeo, sul coreanas que mergulham em apneia e garantem o sustento familiar. “Numa altura em que tanto se fala de igualdade pareceu-me pertinente reforçar a inversão de papéis”, explicou Hugo Costa, que dispensa o género na roupa que cria. “Faz algum sentido para nós, ainda por cima, numa semana de moda masculina, termos uma inspiração tão feminina. Acho interessante”, acrescenta.
"Já não faço uma coleção com um género desde 2015 e nunca fez parte do meu processo criativo pensar num género quando estou a trabalhar uma coleção. Não penso num corpo, penso numa estrutura e numa peça que deve ser funcional. Pensamos em volumes que se podem transformar e usar nos dois géneros”
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