Eles querem ter o primeiro restaurante zero waste em Portugal. E todos podem fazer parte
Campanha de crowdfunding para o restaurante do projeto Kitchen Dates termina esta sexta-feira. Primeiro restaurante sem caixote do lixo em Portugal deverá abrir em setembro.
Um português, uma americana, um holandês e uma alemã encontram-se à mesa. A servir o brunch, Maria e Rui, em plena estreia do recém-criado Kitchen Dates. Estamos em fevereiro de 2017, à volta da mesa da casa dos dois portugueses em Amesterdão. A ideia? Desenvolver uma sugestão dada por um casal amigo: dois cipriotas que gostavam tanto de ir “comer lá a casa” que lhes sugeriram que a experiência fosse alargada a outras pessoas.
Maria Antunes e Rui Catalão nem imaginavam o que este dia ia mudar o rumo das coisas. A ideia de receber e alimentar desconhecidos na mesa da própria casa, em Amesterdão, cresceu e transformou-se num projeto que dará origem ao primeiro “restaurante” sem caixote do lixo em Portugal. Como? Bom, tudo começou pelo pão. Analisando os rótulos, os dois empreendedores perceberam que aquilo que seria uma das receitas mais simples do mundo incluía quase sempre, mais de dez ingredientes. E isso era, no mínimo, estranho. Começaram a cozinhar tudo o que comiam, eliminando os processados da lista de consumo. E, com essa decisão, cresceu a curiosidade dos que estavam à sua volta. Com o passar dos meses, decidiram criar um perfil de Instagram onde partilhavam receitas e conhecimento.
Não havia evento cá em casa em que não nos perguntassem: ‘para quando o restaurante’?
“Começámos pelo brunch porque sempre gostámos do conceito. Num período de quatro meses, fizemos oito eventos e andávamos a falar cada vez mais na hipótese de sair da Holanda”. Bem dito, bem feito. Meses depois, regressavam a Portugal e, com eles, a vontade de recriar a “mesa de desconhecidos” holandesa em Lisboa, desta vez a tempo inteiro.
“Tínhamos gosto em receber pessoas, em dar-lhes comida. Já que estava a correr tão bem na Holanda, em Portugal podia até correr melhor”, detalha Maria ao ECO.
Em outubro de 2017, fizeram o primeiro brunch na casa de Lisboa. O princípio? Usar ingredientes maioritariamente biológicos, comprar diretamente a produtores locais e ter preocupações com a sazonalidade. O sucesso foi tão grande — e as perguntas tão recorrentes — que o casal começou a sentir a necessidade de pensar no passo seguinte.
“Não havia evento cá em casa em que não nos perguntassem: ‘para quando o restaurante’?”, conta Rui. “Não queríamos abrir um restaurante no sentido tradicional do termo, para nós faz mais sentido fazer encomendas e confecionar em função do número de pessoas que vamos ter. Acaba por sobrar muito pouco e, quando sobra, é a nossa refeição nesse dia ou no dia seguinte. Começámos à procura de um espaço que fosse parecido com a nossa casa e a pensá-lo como uma segunda casa onde simplesmente conseguíssemos ter condições para trabalhar, e espaço para receber mais pessoas para tornar a operação mais viável financeiramente e mais sustentável a longo prazo”.
A participação no programa de aceleração From Start to Table, da Startup Lisboa, ajudou a solidificar a ideia: construir o primeiro restaurante sem caixote do lixo, em Portugal.
“Desde essa altura [em que começaram a pensar o projeto], tem sido uma cruzada para encontrar soluções para todos os ingredientes sem recorrer a coisas que vêm de muito longe, trabalhando com pessoas que respeitem os nossos valores ao longo de toda a cadeia de produção. De nada serve nós servirmos coisas sem produzir lixo quando o produtor produz muito desperdício. Trabalhamos só com pequenos produtores, que são mais conscientes de todos estes passos”, sublinha Rui. Além disso, no restaurante, com abertura prevista para setembro deste ano, em Lisboa, terá um compostor elétrico: o equipamento vai transformar tudo o que sobre em matéria orgânica em 24 horas. “Com este composto, queremos fechar o ciclo, devolvendo-o aos produtores para fertilizarem as terras”, conta o empreendedor.
O “restaurante” será, em conceito, uma réplica da experiência que os visitantes tinham à mesa de Rui e de Maria: vai funcionar à porta fechada, com brunch ao sábado, domingo e feriados, terá jantares duas vezes por semana e as sextas-feiras serão dias abertos, que permitem às pessoas ter um dia de contacto mais acessível, sem marcação. “Além disso, vamos ter também a nossa despensa, com os nossos produtos que os clientes podem levar para casa”. Esta estará aberta cinco ou seis dias por semana, durante a tarde.
“Para nós também é importante a experiência de chegar, comer com calma. Os eventos têm hora para começar mas não têm para acabar. Queremos que toda a gente se sinta como se estivesse em casa, e toda a decoração está a ser pensada dessa forma”, acrescenta Maria. Com mesa única e a garantia de que há grupos diferentes à mesa — que terá entre 18 e 20 lugares –, a experiência está à distância, também, da sua vontade. É que dos cerca de 30 mil euros de investimento, um terço será angariado através desta campanha de crowdfunding.
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