Portugal e Espanha estiveram quase na bancarrota. Agora, têm juros próximos de 0%
Há menos de uma década, as dívidas portuguesa e espanhola eram vistas com receio pelos investidores. Os juros de Portugal chegaram próximos de 18%. Hoje estão quase a tocar nos 0%.
Há menos de uma década, os investidores fugiam dos títulos de dívida de Portugal e Espanha. A troika e os credores internacionais viriam para evitar uma situação de bancarrota (com um resgate a Portugal e uma ajuda à banca em Espanha) e os países foram recuperando, ao longo do tempo, as economias e a confiança dos investidores. Agora, o apetite sem precedentes por obrigações está a levar os juros dos dois países para próximo de 0%.
Com cerca de 14,4 biliões de euros em obrigações globais com juros negativos, os investidores estão a tentar encontrar retornos positivos onde ainda existem, o que nalguns casos significa apostar nos mercados mais arriscados da Zona Euro.
Tanto Portugal como Espanha viram as yields das obrigações a dez anos caírem, na semana passada, abaixo de 0,1%, para os valores mais baixos de sempre. Os dois países beneficiam, por um lado, da recuperação económica interna. Após mais de sete anos com o rating no nível de ‘lixo’ pelas principais agências de notação financeira, Portugal passou a ser visto como investimento de qualidade há quase um ano.
Juros de Portugal nunca foram tão baixos
Fonte: Reuters
O rating em grau de investimento, sustentado pela saída dos procedimentos por défices excessivos, permitiu alargar a base de investidores, nomeadamente a fundos que excluem ativos com notação especulativa. A redução do peso da dívida, a aproximação do equilíbrio orçamental, o reforço da estabilidade financeira e o reembolso antecipado ao Fundo Monetário Internacional têm motivado otimismo, tendo a Moody’s passado a perspetiva de rating para positiva — o que sinaliza uma possível revisão em alta dentro de seis a 12 meses — há pouco mais de uma semana.
Por outro lado, estão ambos países também a ser influenciados por uma nova era em que as yields estão consistentemente baixas devido aos esforços dos bancos centrais de reavivarem a inflação com juros de referência em mínimos históricos e programas de compra de ativos.
Este efeito é generalizado a vários países. Em mercados vistos como mais seguros, como França ou Holanda, os juros desceram abaixo de 0% pela primeira vez, enquanto as yields das Bunds caíram para terreno ainda mais negativo em todos os prazos. Apesar de os estímulos permitirem aos Estados financiarem-se com baixos custos, levanta receios sobre a formação de uma eventual bolha no mercado de dívida.
Estarão os bancos centrais a criar uma bolha?
“Temo que todas as curvas [das yields] caiam para zero e todos os juros caiam para zero. Seria um sinal incrivelmente preocupante“, afirmou James Athey, gestor sénior de investimento da Aberdeen Standard Investments, à Bloomberg.
É que, além da política monetária do Banco Central Europeu (BCE) — que deverá manter-se, com um novo pacote de estímulos em setembro –, também existe um pessimismo face à ameaça de recessão global e a deterioração do comércio internacional.
É uma espécie de ciclo vicioso. O mercado vê a quebra nos juros das dívidas e a inversão das curvas de yields (com os juros a dois anos mais elevados que a dez, ao contrário do que seria expectável) em países como EUA ou Reino Unido como bandeiras vermelhas a sinalizar que vem aí uma recessão. Como tal, fogem das ações e procuram refúgio em ativos como ouro, moedas e… dívida. O aumento da procura leva os juros a caírem ainda mais.
“Num regime de repressão financeira, isto é normal”, disse Jorge Garayo, estrategista de fixed income no Societe Generale, à agência. “A grande questão é como toda a questão se irá desenrolar ao longo do tempo. Yields mais baixas incentivam maior endividamento quando os níveis da dívida já estão elevados“, sublinhou.
O início desta semana é de ligeira subida nos juros das dívidas, com o acalmar da guerra comercial a levar os investidores a olharem novamente para as ações. Os títulos de Portugal a dez anos negoceiam nos 0,15% e os de Espanha com a mesma maturidade nos 0,12%, a meros 3 pontos base um do outro. Ainda assim, estão muito longe dos máximos de há sete anos, próximos de 18% e 8%, respetivamente.
O risco-país de Portugal, que tocou o mínimo histórico de 60 pontos base há um mês, está agora em 80 pontos. Esta semana, o tom dos banqueiros centrais na conferência de Jackson Hole poderá ser o último empurrão necessário para Portugal e Espanha atingirem a barreira dos juros de 0%.
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