Donald Tusk critica ausência de alternativas por parte de Boris Johnson no Brexit
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, apontou a falta de alternativas do primeiro-ministro britânico ao mecanismo do backstop que impede uma fronteira física nas Irlandas após o Brexit.
A União Europeia disse que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, não apresentou qualquer alternativa “realista” ao mecanismo de salvaguarda para as Irlandas (o chamado backstop), a única solução identificada até agora para prevenir o regresso de uma fronteira física.
Em resposta à carta enviada na segunda-feira à noite por Boris Johnson, na qual o novo primeiro-ministro britânico pediu à UE que prescinda do backstop, que considera ”antidemocrático” e “inviável”, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, publicou uma mensagem na sua conta oficial na rede social Twitter, a sublinhar que o mecanismo de salvaguarda incluído no Acordo de Saída negociado entre a UE a 27 e Londres “é uma segurança para evitar uma fronteira física na ilha da Irlanda, até que seja encontrada uma alternativa”.
“Aqueles que são contra o backstop e não propõem alternativas realistas, no fundo apoiam o restabelecimento de uma fronteira. Mesmo que não o admitam”, acrescenta, em tom de crítica, o presidente do Conselho Europeu.
Reagindo também à missiva de Boris Johnson, dirigida a Tusk mas com conhecimento para o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, uma porta-voz do executivo comunitário disse que esta instituição partilha a reação publicada pelo presidente do Conselho Europeu.
Falando durante a conferência de imprensa diária da Comissão Europeia, Natasha Bertaud também apontou que a carta enviada na segunda-feira à noite por Boris Johnson “não apresenta qualquer solução legal operacional para evitar o regresso de uma fronteira dura na ilha da Irlanda”. “Não apresenta alternativas e até reconhece que não há garantia de que tais soluções alternativas estejam operacionais no final do período de transição”, apontou, reiterando que a posição de Bruxelas sobre a necessidade de um mecanismo de salvaguarda “é bem conhecida e foi reafirmada inúmeras vezes”.
A porta-voz salientou que, no início das negociações para o Acordo de Saída do Reino Unido do bloco europeu, ambas as partes concordaram em tudo fazer para evitar o regresso de uma fronteira física entre as Irlandas, e, lembrou hoje, “o backstop é a única forma identificada até agora por ambas as partes para evitar tal cenário”.
Na missiva dirigida a Tusk, divulgada na segunda-feira à noite, o líder dos conservadores britânicos argumenta que o mecanismo, que se destina a evitar a imposição de uma fronteira física entre a Irlanda, membro da UE, e a Irlanda do Norte, província do Reino Unido, pode comprometer o processo de paz irlandês.
O backstop prevê que a província britânica, e todo o Reino Unido, fique alinhado com as regras do mercado comum até ser assinado um acordo de comércio livre entre o Reino Unido e a UE. O backstop foi a principal razão pela qual a Câmara dos Comuns chumbou, por três vezes, o acordo de saída do Reino Unido negociado pela ex-primeira-ministra Theresa May e os 27.
Johnson, que assumiu o cargo de primeiro-ministro a 26 de julho, prometeu sair da UE na data prevista, 31 de outubro, com ou sem acordo. Mas, na carta que enviou a Tusk, assegura que o seu executivo “trabalhará com energia e determinação para encontrar um acordo” e acrescenta que essa “é a principal prioridade”.
Contudo, reafirma a sua oposição ao backstop, afirmando que ele é “antidemocrático” e “atenta contra a soberania do Estado britânico”, impedindo o país de manter uma política comercial independente das regras europeias. Johnson argumenta ainda que, sem essa cláusula, o parlamento britânico deverá aprovar o acordo.
Até à data, a UE tem afirmado que o backstop não é negociável, a menos que o Reino Unido proponha outra solução que evite uma fronteira entre as Irlandas e, consequentemente, cumpra o estipulado nos acordos de paz de 1998.
Boris Johnson afirma na carta que o mecanismo podia ser substituído por alguma outra forma de compromisso, como um acordo aduaneiro alternativo durante o período de transição, mas não precisa de que tipo.
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