Patris vende gestora de ativos do BPN e desinveste na intermediação. Centra o negócio na seguradora

Depois de ter esvaziado a sociedade, o grupo vendeu-a a um investidor estrangeiro por um preço simbólico. A intermediação financeira passou para o BiG e antecipa vender a participação na Previsão.

O grupo Patris, de Gonçalo Pereira Coutinho, tem em curso um processo de reestruturação com o objetivo de reforçar e centrar a atividade na seguradora Real Vida. Ao mesmo tempo, realocou a gestão de ativos e a intermediação de valores mobiliários. E, por outro lado, reforçou a participação nas áreas dos seguros e da gestão de fundos de pensões, segundo apurou o ECO.

A Patris Gestão de Ativos – Sociedade Gestora de Investimentos Mobiliários, pediu revogação da autorização para o exercício de atividades de gestão de fundos de investimento mobiliário ao Banco de Portugal, em maio do ano passado, sendo que tinha já cessado totalmente atividade. Seis meses depois, a Patris — através da sua seguradora Real Vida Seguros — alienou a gestora de fundos de investimento que pertencia ao antigo BPN e foi comprada ao Estado, em 2012, por 3,2 milhões de euros.

“Em novembro de 2018, a Real Vida Seguros cedeu as quotas representativas da totalidade do capital social da CDSPSBACFD – Consultoria e Serviços, Unipessoal, Lda (anteriormente designada por Patris Gestão de Ativos – Sociedade Gestora de Investimentos Mobiliários, S.A.)”, pode ler-se no relatório e contas de 2018 do grupo.

Pereira Coutinho explicou ao ECO que a empresa foi vendida a um investidor estrangeiro já como empresa de consultoria e sem atividade financeira, por “um valor muito reduzido” devido ao esvaziamento da estrutura. A gestão de ativos foi integrada na Real Vida, em linha com a estratégia de centrar o negócio e reforçar as competências da seguradora que tinha já sido aplicada com a integração da Finibanco Vida ou da Banif Pensões.

Intermediação de ativos passa para o BiG

Esta não foi a única operação com vista à “consolidação da atividade, racionalização dos meios e concentração nas principais participações”. Além da venda da antiga gestora de ativos do BPN, a Patris retirou a intermediação de valores mobiliários da corretora do grupo, a Patris Corretora.

“Foi decidido passar a atuar na intermediação de valores mobiliários não através de uma corretora (a Patris Corretora), mas sim através de um agente vinculado (Patris Finance)”, explica. A Patris Finance foi registada na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) em maio de 2019 como agente vinculado ao BiG – Banco de Investimento Global.

Tal como o supervisor dos mercados explicou ao ECO aquando do caso semelhante da Orey, a figura do agente vinculado define-se como “pessoa, singular ou coletiva, que sob a responsabilidade total e incondicional de uma única empresa de investimento em cujo nome atua, promove serviços de investimento e/ou serviços auxiliares junto de clientes ou clientes potenciais, recebe e transmite instruções ou ordens de clientes relativamente a serviços de investimento ou instrumentos financeiros, coloca instrumentos financeiros e/ou presta aconselhamento a clientes ou clientes potenciais relativamente a esses instrumentos ou serviços financeiros”.

"Foi decidido passar a atuar na intermediação de valores mobiliários não através de uma corretora (a Patris Corretora), mas sim através de um agente vinculado (Patris Finance).”

Relatório e Contas 2018 da Patris Investimentos

A Patris Finance não tem autonomia, nem irá fazer intermediação financeira, movimentar contas de clientes ou cobrar-lhes dinheiro pelos serviços. Praticamente a única atividade da nova empresa é de angariação de clientes, em nome do BiG. Será o banco a ficar responsável por serviços, produtos e receitas, bem como pelo controlo e compliance relacionado com clientes.

A terceira ação de desinvestimento foi a venda da participação de 34,67% da GSVI, SA, uma empresa de comércio, importação, exportação, reparação e manutenção de veículos automóveis e máquinas industriais. A alienação foi concretizada com a reversão da permuta de ações feita em 2017 com acionistas da GSVI, pelo que a Patris deixou de participar na empresa recebendo em troca as 312.500 ações próprias que tinha entregue em 2018.

Estrutura do grupo Patris no final de 2018

Fonte: Relatório e Contas 2018 da Patris Investimentos

Pereira Coutinho deverá vender parte na gestora de fundos de pensões da Altice

Em sentido contrário, a Patris manteve a estratégia de aquisições que tem levado a cabo. “Através da Real Vida, a Patris adquiriu 15,5% do capital da Previsão, Sociedade Gestora de Fundos de Pensões, SA, perspetivando-se para 2019 ou a compra da totalidade da empresa ou a alienação da participação detida“, explica a empresa, mas o CEO e maior acionista da Patris já antecipa que deverá voltar a vender a participação.

A gestora de fundos de pensões é detida em 82,05% pela Altice (através da PT Portugal), tendo também a companhia de seguros Allianz Portugal como acionista (com 2,5% do capital). A telecom de Patrick Drahi recebeu propostas pela Previsão, incluindo uma da Patris, mas terá sido o grupo IIBG Holdings a entrar em negociações exclusivas, como o Jornal Económico avançou em março. “Este grupo fez a melhor proposta. Se a Altice vender, nós também vendemos”, sublinhou agora Pereira Coutinho, ao ECO.

"Este grupo [IIBG Holdings] fez a melhor proposta [pela gestora de fundos de pensões Previsão]. Se a Altice vender, nós também vendemos.”

Gonçalo Pereira Coutinho, CEO da Patris Investimentos

Para já, o empresário diz que não há outras operações em cima da mesa, apesar de estar aberto a manter a estratégia, e frisou que o processo de reorganização está próximo do fim. “Com o processo de racionalização e simplificação da estrutura do grupo quase terminada, o grupo continuará a crescer de forma orgânica a que se poderá juntar uma ou outra aquisição que permita a criação de valor para o grupo, seja pelas sinergias que traga, seja pelo alargamento da oferta de produtos ou pela integração de novos clientes”, acrescentou.

No ano passado, o resultado líquido afundou para 33.713 euros, o que compara com lucros de 3.602.641 euros no ano anterior. Apesar de um desempenho muito inferior, a seguradora continua a dar o maior contributo às contas do grupo, com lucros de 247.527 euros.

A Patris justifica a quebra face ao resultado de 4.485.427 euros (em 2017) com a “elevada taxa de impostos” e “operações não recorrentes” no exercício anterior. No primeiro semestre de 2019, a Real Vida registou lucros acima de 1,8 milhões de euros e aumentou os ativos em 3,5%.

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