O editorial do FT visto à direita e à esquerda: Costa e Catarina orgulhosos. Rio e Cristas falam da dívida e carga fiscal

Elogios do Financial Times à recuperação económica portuguesa caíram bem junto de Catarina Martins e de António Costa. PSD e CDS desvalorizam artigo. "É a opinião de alguém que está longe", disse Rio.

FT elogiou Portugal e dividiu partidos.

Se os elogios do Financial Times a Portugal caíram bem à esquerda, com Catarina Martins a destacar o papel da geringonça na recuperação da economia portuguesa nos últimos anos, e a António Costa, sublinhando o reconhecimento internacional do trabalho do seu Governo, os partidos à direita desvalorizaram o editorial do jornal britânico com o título “Portugal’s bright outlook offers Europe some hope — tradução livre, “Perspetivas brilhantes para Portugal oferecem à Europa alguma esperança” –, com Rui Rio e Assunção Cristas a considerarem que é a “opinião de alguém que está longe” e que “há algum distanciamento” para aquilo que é a realidade de quem vive em Portugal.

O FT escreveu este domingo que o que de bom se passa em Portugal tem a ver com um mix de “escolhas políticas acertadas” e “uma boa dose de sorte”. E, num tom elogioso para a coligação de esquerda, o primeiro-ministro também sai bem na fotografia tirada pelo influente jornal de economia inglês: António Costa “tem razões para estar mais otimista do que muitos outros líderes europeus”.

O último a comentar o assunto foi mesmo António Costa. Os elogios “correspondem àquilo que genericamente a imprensa internacional tem sinalizado sobre Portugal e a recuperação muito grande que o país teve ao longo dos últimos anos, o que se traduz no reconhecimento dos órgãos de comunicação social, mas sobretudo daqueles que investem”, disse o primeiro-ministro.

Isto resulta do reconhecimento internacional das boas políticas económicas que têm sido seguidas, da estabilidade que tem sido conquistado e da estabilidade que é importante manter de modo a continuar nessa trajetória“, considerou ainda.

De manhã, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, destacou “que o que Portugal fez de diferente na Europa nos últimos anos foi ter uma maioria parlamentar que recuperou salários e pensões. Talvez não tanto como país precisa, mas há uma diferença entre corte e reposição, e estes quatro anos foram de reposição. Isso faz diferença. Isso está a ser reconhecido e é importante”.

A dirigente bloquista sublinhou que esta reposição de salários e pensões “foi possível” devido à “participação de vários partidos que fazem uma maioria no parlamento”, afirmando-se orgulhosa do contributo do Bloco de Esquerda para este caminho.

No Twitter, a politóloga Marina Costa Lobo estranhou a ausência de qualquer menção aos comunistas no artigo do Financial Times.

“Opinião de alguém que até está longe”

As reações à direita também não demoraram, com as declarações dos líderes de PSD e CDS a procurarem retirar importância aos elogios vindos de fora.

Rui Rio foi mais expansivo nas palavras, tentando desvalorizar o editorial do FT porque foi escrito por alguém que “está longe” de Portugal e que “não tem conhecimento do que é o quotidiano aqui“.

“É a opinião do jornalista (…). Vê os números e diz: ‘Olha, o défice baixou’. Fica contente, acha que o défice baixou. A taxa de desemprego também baixou, mas é preciso ir ver essas coisas. A taxa de desemprego baixou, é verdade. Pois, então, se a economia internacional cresce, se a economia portuguesa quando este governo tomou conta da governação estava razoavelmente estabilizada por força do período negro que tivemos da troika e que não foi da responsabilidade do PSD, mas também foi da responsabilidade do PS, naturalmente que esses indicadores acabam por melhorar”, disse.

Rui Rio sublinhou depois que mais importante do que olhar para o défice orçamental é necessário prestar atenção ao défice externo. “Tinha sido eliminado, estávamos com excedente e agora o défice externo aumentou. Isto quer dizer que o endividamento de Portugal face ao exterior está a aumentar. Esse endividamento externo de Portugal face ao exterior foi aquilo que há uns anos determinou a falência”, notou. “Se quiserem dizer estas coisas ao homem ou mulher do Financial Times talvez mudem de opinião”, disse aos jornalistas.

No Twitter, o deputado social-democrata Duarte Marques diz que o elogio do jornal não se cinge a António Costa, e chega também ao Governo de Pedro Passos Coelho.

Do lado do CDS, Assunção Cristas falou em “distanciamento” entre o que escreveu o Financial Times e o “concreto o que é a vida em Portugal“.

“Não acredito que as pessoas que vivem em Portugal sintam que a maior carga fiscal de sempre lhes ajuda na sua vida quotidiana, na progressão da sua vida, na forma como a constroem a sua vida, na sua família. Não creio que lhes ajuda, não creio que estejamos no nosso melhor momento”, disse a líder do CDS.

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