Costa vs Jerónimo: cinco momentos do primeiro embate da geringonça
Primeiro debate rumo às legislativas começou com Costa e Jerónimo a trocarem elogios. Mas depressa os dois líderes evidenciaram diferenças nas questões laborais. E terminaram recusando futurologia.
Meia hora de debate entre António Costa (PS) e Jerónimo de Sousa (PCP) deu para quase tudo. Os dois líderes começaram por trocar elogios (ainda que tímidos) entre si, mas depressa tentaram expor as diferenças políticas que continuam a distanciá-los, sobretudo no que toca à legislação laboral e ao salário mínimo. No frente-a-frente na SIC, a pouco mais de um mês das legislativas, Costa e Jerónimo fizeram uma avaliação positiva do que foram os últimos quatro anos de governação socialista com apoio dos comunistas. Mas há condições para uma nova Geringonça à esquerda? Mário Centeno será ministro de António Costa for eleito? E o futuro de Jerónimo de Sousa depende destas eleições?
1. Elogios
António Costa (PS)
“Há diferenças insanáveis, mas tivemos capacidade de há quatro anos compreender que havia condições para acordar o que podíamos fazer em conjunto.”
“Foi uma relação franca, trabalhosa, mas com bons resultados.”
Jerónimo de Sousa (PCP)
“Tenho por hábito tratar as pessoas com respeito. Mas sinceridade não pode confundir-se com as questões políticas. É preciso valorizar o que se conseguiu, há quatro anos, para desbloquear uma situação e encetar um processo de reposição de direitos e rendimentos.”
Confiaria de novo em António Costa? “A melhor prova do pudim é comê-lo.”
2. Geringonça
António Costa (PS)
“Orgulhamo-nos de ter cumprido tudo que assumimos com portugueses, parceiros e União Europeia.”
“Nunca disse que [a Geringonça] não era para manter. Não disse o contrário. Em função dos resultados eleitorais, vamos ver que condições que existem.”
Jerónimo de Sousa (PCP)
“Nós valorizamos o que é de valorizar. Consideramos que foi importantíssimo em questões e direitos que muitos julgavam perdidos para sempre e foi com a nossa intervenção que foram conseguidos esses avanços.”
“Ninguém comeu ninguém [na Geringonça]. Estamos a falar de reposição de salários, de recuperação de pensões, de manuais gratuitos.”
“O PCP não perdeu com a Geringonça. Ando pelo país fora, há uma nota geral que é de valorizar com a nossa contribuição, da nossa proposta, aumento das pensões, manuais escolares.”
3. Legislação laboral
António Costa (PS)
“Esta é a primeira legislação aprovada no mundo de trabalho desde 1976 que em vez de comprimir os direitos alarga os direitos dos trabalhadores. Não podem dizer que é um retrocesso, é um avanço.”
“Mais importante do que é a lei, é a realidade económica dos últimos quatro anos. Dos 350 mil postos criados, 92% foram contratos definitivos, porque as empresas estão confiantes com a economia. (…) É um grande resultado do trabalho que fizemos, e, olhe, é um resultado do seu trabalho também.”
“Empresas que são empresas a sério sabem que a qualidade dos seus recursos humanos é fundamentais. Ninguém investe na formação se não pudesse contar com o trabalhador por um período prolongado. As empresas têm de perceber que se querem ser competitivas a vender, têm de ser mais competitivas a contratar, isto significa pagar melhores salários, oferecer trabalho com mais qualidade.”
Jerónimo de Sousa (PCP)
“O Governo colocou uma norma em que um jovem à procura de um primeiro emprego pode andar vida inteira, rodando, rodando e rodando de empresa, sempre com vinculo experimental.”
“Não é por acaso que os patrões dos patrões estiveram de acordo com as alterações.”
“Meu caro António Costa, há muitos anos, em 1976, foi aprovado por iniciativa do PS, a lei dos contratos a prazo, leia a argumentação e fundamentação do PS, da excecionalidade, da sazonalidade… Foi a fenda na muralha da legislação laboral que permite que hoje existam milhares de contratos a prazo. Da excecionalidade foi aplicada sem limites”.
4. Salário Mínimo Nacional
António Costa (PS)
“Com o PCP nunca houve acordo para o salário mínimo nacional porque nunca concordou com o valor proposto.”
“Houve um aumento de 20% do salário mínimo nacional que recuperou as perdas dos anos de congelamento. Agora estamos em condições de nos sentarmos à mesa em sede de concertação social.”
“Hoje em dia com a subida do salário mínimo, já estamos muito próximos do salário mediano, o que significa que o acordo que tem de se fazer em rendimentos na concertação social já não pode ser só salário mínimo. Tem de ser salário mínimo, mas também tem de ser uma política global de rendimentos para os outros salários. (…) Não é aceitável que os salários médios em Portugal não tenham um impulso significativo.”
Jerónimo de Sousa (PCP)
“Aparentemente há aqui uma convergência: uma das medidas urgentes que tomámos em termos programáticos é a necessidade de valorização geral dos salários para os trabalhadores do setor público e do setor privado e o reforço significativo do salário mínimo nacional.”
Salário mínimo nacional de 850 euros? “Já cheguei a ouvir um patrão a dizer que era possível já um salário mínimo de 700 euros. Isto foi há um ano. Apresentamos este valor num quadro de evolução e negociação. É um erro começar a propor um aumento que atingiria a Função Pública 12 ou 13 euros, isto não é negociação nenhuma.”
“Se alguém pensa que vamos voltar para trás com congelamento ou desvalorização de salários, se segue um caminho de voltar para trás nos seus direitos, se isto estiver refletido nas leis e no OE, não terão o seguimento do PCP.”
5. Futuro
António Costa (PS)
“A primeira questão é saber se serei primeiro-ministro. O que posso dizer é que Mário Centeno é candidato a deputado e a apreciação muito positiva do seu mandato. É a segunda pessoa em Portugal que cumpriu uma legislatura inteira como ministro das Finanças.”
“Convites para o governo farei quando tiver legitimidade para o fazer. Mas não é preciso ter grande dotes: quem tem de formar uma equipa, não deixa no banco os melhores jogadores que pode por a jogar.”
Jerónimo de Sousa (PCP)
“A questão [da continuidade] do secretário-geral não está posta. Os apressados que tenham mais tranquilidade porque a questão não está posta. Tenho determinação e força para atingir o objetivo de reforço da CDU.”
Faz parte da solução? “É a opinião dos meus camaradas.”
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