Lagarde pede aos países para fazerem trabalho de casa. Não quer ter de repetir discurso de “salvar o euro” de Draghi

Nomeada para presidente do BCE, Christine Lagarde respondeu no Parlamento Europeu ao eurodeputado Pedro Marques dizendo que espera não ter de fazer a mesma promessa que Mario Draghi fez em 2012.

Christine Lagarde disse esta quarta-feira no Parlamento Europeu que espera não ter de fazer a mesma promessa que Mario Draghi fez em 2012 — de que faria “o que for preciso” para salvar o euro –, em resposta ao eurodeputado português Pedro Marques, explicando que se tivesse de o fazer seria porque os restantes líderes não teriam feito o seu trabalho.

“Espero nunca ter de dizer algo como isso, porque se tiver que o fazer quer dizer que os outros responsáveis não fizeram o que tinham de fazer”, disse a ex-diretora-geral do FMI, numa resposta a Pedro Marques, que lhe perguntou se mantinha a promessa feita por Mario Draghi feita em 2012.

Christine Largarde lembrou que a resposta imediata de Mario Draghi foi a criação do programa de compra de dívida OMT, que nunca chegaria a ser usado, e defendeu que o que é necessário é que seja terminada a transformação do Mecanismo Europeu de Estabilidade para um instituição mais próxima da ideia de um fundo monetário europeu, que seja capaz de responder de forma rápida às necessidades que surjam, sem demasiados constrangimentos.

Durante as respostas aos eurodeputados, a ex-diretora-geral do FMI disse ainda que as autoridades têm de estar atentas ao impacto negativo e aos efeitos secundários da atual política monetária altamente acomodatícia que o Banco Central Europeu tem em prática.

Numa audição no Parlamento Europeu, onde defende a sua nomeação, a ex-diretora-geral do FMI admitiu que nesta atura é preciso manter uma política monetária flexível e que estimule a atividade económica “por um período de tempo” devido às ameaças que existem no horizonte.

No entanto, a responsável também admitiu que estas políticas têm impactos negativos, que têm de ser acompanhados. “Apesar de o impacto das medidas de política monetária não convencional ser positivo, temos de estar conscientes dos efeitos negativos e dos potenciais efeitos secundários dessas políticas, e temos de ter em conta a opinião das pessoas”, disse Christine Lagarde no Parlamento Europeu.

A responsável disse também que, caso seja confirmada pelo Parlamento Europeu como presidente do BCE, não fará comentários sobre a orientação da política orçamental dos países da zona euro, um tema sobre o qual falou várias vezes enquanto diretora-geral do FMI.

Mas antes de entrar nesse papel, Christine Lagarde deixou algumas dicas, em linha com o que tem vindo a defender nos seus cargos anteriores. Entre essas dicas está a necessidade de coordenação da política orçamental dos países da zona euro, uma necessidade para “ajudar a estabilizar a economia quando o ciclo inverte e evitar sobrecarregar a política monetária”.

A responsável disse também que os países têm de aproveitar esta altura em que as suas economias ainda estão a crescer para fazer reformas estruturais, porque é a altura em que essas serão mais eficientes, especialmente nos casos dos países sem grande margem de manobra orçamental.

“As reformas estruturais são, em muitos muitos países, uma missão por completar. Alguns [países] começaram, outros olharam para elas de forma relutante mas não fizeram muito. Claramente, aqueles países que não têm atualmente a margem orçamental têm de fazer reformas agora enquanto ainda temos algum crescimento porque é quando as reformas estruturais são mais eficientes”, disse.

Novo ‘mea culpa’ sobre o impacto das medidas impostas a Portugal e Grécia

Não é a primeira vez, mas não é um tema que os eurodeputados dos países mais castigados durante a crise que passou esqueçam.

Christine Lagarde foi novamente confrontada com as medidas altamente restritivas exigidas pelo Fundo Monetário Internacional e as restantes instituições europeias aos países que pediram resgates e o seu impacto nas economias em questão, e a mais que provável sucessora de Mario Draghi disse que o FMI já tinha reconhecido o erro e que adaptou a sua estratégia para refletir isso mesmo.

“Sobre os multiplicadores orçamentais, o FMI reconheceu, não apenas relativamente à Grécia mas também a Portugal, na altura em que analisámos o impacto dos multiplicadores orçamentais no crescimento e no emprego. Nós reconhecemos que subestimamos o impacto dos multiplicadores no crescimento e no emprego, e revimos e ajustámos os objetivos e as medidas que eram exigidas nos programas”, disse a ex-diretora-geral do FMI.

Christine Lagarde recusou, no entanto, imputar a responsabilidade do erro a uma instituição especificamente, dizendo que “toda a gente estava de acordo na altura” em que foi estimado o impacto negativo na economia das medidas exigidas, e que se veio a revelar muito superior ao previsto pelas instituições.

A responsável reconheceu que, neste caso, “foi algo que foi mal desenhado e mal avaliado” e que o FMI reconheceu o erro “de forma bastante explícita”.

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