O futuro do trabalho: (re)qualificar

Leonor Sottomayor, Daniel Traça e António Saraiva, abriram o ciclo de debates da Leadership Summit 2019 para refletir sobre um dos alicerces do futuro do trabalho em Portugal: a requalificação.

Metade das profissões dos portugueses tem potencial de automação, o que aponta como previsão que até 2030 possam desaparecer 1,1 milhões de postos de trabalho, ou seja, uma população de 4,35 milhões de trabalhadores. Estes são as conclusões do estudo sobre o futuro do trabalho desenvolvido pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP), em parceria com a McKinsey Global Institute e a Nova SBE. Foi a partir destes números que se iniciou o primeiro debate da Leadership Summit 2019, “O Futuro do Trabalho – A resposta está na requalificação”.

“25% dos postos de trabalho podem deixar de ter racionalidade económica para existirem”, mas “há um potencial de neutralidade” para criar mais 1,1 milhões postos de trabalho e “requalificar 700 mil trabalhadores”, começou por explicar Daniel Traça, dean da Nova SBE.

“Esta realidade não implica que as empresas tenham de desaparecer”, alertou, porque “a formação pode ser feita dentro das próprias empresas“. Para isso, será necessária uma parceria entre o setor público, o privado e toda a indústria.

Os desafios da requalificação

A renovação de competências enquanto garantia de emprego no futuro tem ganhado cada vez mais destaque no mercado de trabalho nacional, avançando à mesma velocidade da digitalização e da transformação das empresas. Mas estarão os colaboradores disponíveis — e preparados — para acolher essa mudança?

"Recrutar talento novo tem um custo enorme. É mais rentável ajudar uma pessoa que já está na empresa”

Daniel Traça

dean da Nova SBE

Para Daniel Traça, “a resposta não é só requalificação, a resposta é transformação. As organizações têm de se transformar”, e essa mudança deve “começar por cima, no CEO”, e ser acompanhada por uma mudança de mindset, “visão”, e “internacionalização”. A cultura da empresa deve ser capaz de adotar novas estratégias, acredita Daniel Traça. “Só depois de ter uma organização capaz de enfrentar estes desafios, posso passar para a requalificação das pessoas”, reforça.

“A requalificação é um dos vetores da transformação, mas não é o único, e não funciona sozinho. As escolas têm de ser capazes de estar com as organizações”, Daniel Traça, dean da Nova SBE.

Leonor Sottomayor, head of public affairs da Sonae, explica que a transformação, modernização e adaptação aos desafios do futuro na Sonae tem sido “um processo orgânico”, e remonta a 2007, quando surgiram os primeiros smartphones, sublinha. “A digitalização também cria novas necessidades”, refere, e é importante apostar em “planeamento estratégico, formação em literacia digital e processos agile”. Para Leonor, o investimento pode partir de “parcerias com politécnicos”. É preciso “cultivar competências de empreendedorismo”, acrescenta.

A CIP aponta que o setor têxtil, na região norte do país, será o mais afetado pela automação: deverão desaparecer 421 mil postos de trabalho até 2030. António Saraiva, presidente da confederação, acredita que a solução passa por “programas próprios para cada organização, consoante o ADN da empresa, região e a sua especificidade”. Sobre a evolução das políticas públicas neste setor, o presidente da CIP acredita que, apesar da “consistência” que começa a sentir-se, continua a ser “é um desafio nacional” e “uma batalha que o país tem de forçosamente ganhar”.

Urgências de futuro

António Saraiva acredita que há ainda outros desafios para o futuro do trabalho: a demografia, o problema da competitividade e do aumento da produtividade, a composição dos postos de trabalho e a transição para a sociedade digital.

As empresas portuguesas podem ser mais arrojadas”, defende o diretor da Nova SBE. “Recrutar talento novo tem um custo enorme. É mais rentável ajudar uma pessoa que já está na empresa”. O futuro do trabalho deve assentar em quatro máximas: “cultura, urgência, parceria e otimismo”.

O estudo da CIP indica que o futuro do trabalho passará pela requalificação, sendo que só na região norte estima-se que 234 mil trabalhadores precisem de requalificar-se no decorrer da próxima década. A renovação de competências é também uma forma de “garantir retorno”. A CIP garante que um trabalhador que aposte em requalificação terá, ao longo da vida, um retorno equivalente a sete vezes o custo que investiu.

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