De Guindos alerta que mercados podem estar a subestimar o impacto de Brexit sem acordo
A política orçamental pode tornar "mais poderosa" a política monetária, disse o vice-presidente do Banco Central Europeu, defendendo um maior papel da política fiscal na Zona Euro.
Os mercados estão a subestimar a possibilidade de um Brexit sem acordo, alertou esta quinta-feira o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE).
“Até agora, ainda não avaliámos, o impacto que o Brexit está a ter”, disse Luis de Guindos durante um evento na Fundación Rafael de Pino, em Madrid. “Penso que estamos verdadeiramente a subestimar o impacto da incerteza atual e é por isso que receios e preocupações de que o impacto de um Brexit desordenado seria muito mais elevado do que aquele que os mercados estão a prever”, acrescentou.
Penso que estamos verdadeiramente a subestimar o impacto da incerteza atual e é por isso que receios e preocupações de que o impacto de um Brexit desordenado seria muito mais elevado do que aquele que os mercados estão a prever.
O Governo britânico já propôs a Bruxelas uma alternativa ao backstop para tentar desbloquear o impasse do Brexit causado pelo futuro estatuto da Irlanda do Norte. Numa carta enviada ao presidente da Comissão Europeia, Boris Johnson apresenta um plano para que o Reino Unido, Irlanda do Norte incluída, abandone a união aduaneira no âmbito do Brexit.
Por outro lado, o vice-presidente do BCE criticou o facto de a contribuição da política orçamental na estabilização da economia da Zona Euro ter sido limitada, sublinhando que o atual marco institucional é “insuficiente” para dar uma resposta adequada. Luis de Guindos defendeu ainda a criação de uma “capacidade orçamental centralizada” europeia.
“A contribuição da política orçamental na estabilização económica após a crise foi limitada na melhor das hipóteses”, frisou De Guindos, acrescentando que as perspetivas de risco para a zona euro se têm vindo a agravar.
Neste contexto de enfraquecimento mais prolongado da economia da Zona Euro, De Guindos defendeu o pacote de medidas anunciado em setembro por Mario Draghi, dirigidas a apoiar a expansão da Zona Euro e a formação de pressões inflacionistas internas.
O vice-presidente do BCE sublinhou também a necessidade de os países com margem orçamental tomarem medidas, reconhecendo que quando os tipos de interesse se aproximam do seu limite mínimo, as políticas orçamentais acabam por ser mais eficazes na hora de estimular a procura agregada.
Assim, explicou, quando aplicada de maneira apropriada, a política orçamental pode tornar “mais poderosa” a política monetária, enquanto o aumento do investimento na educação e o investimento público podem apoiar a produtividade e estimular o crescimento e o investimento do setor privado.
“Há um papel a desempenhar pela política orçamental para ajudar a contrariar os “shocks” a nível europeu”, afirmou De Guindos, acrescentando que, atualmente, a posição fiscal da zona euro a nível agregado é apenas levemente expansiva. “É de extrema importância que aumentemos o poder de resposta da política de estabilização mediante uma mistura de políticas, incluindo continuar a fazer uso total da política monetária, atribuindo um papel mais substantiva à política orçamental”, continuou o vice-presidente do BCE.
O ex-ministro espanhol referiu que o atual marco institucional da zona euro é “insuficiente” para dar o estímulo orçamental necessário, dado que, na maior parte dos casos, a política orçamental continua a ser uma questão nacional e algumas regras comuns, como o Pacto de Estabilidade e Crescimento, contam com uma flexibilidade imediata. Assim, defendeu que “estabelecer as bases institucionais para a criação de uma capacidade fiscal europeia representaria um importante passo nesta direção”.
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