Copo meio cheio de Rio não evita contestação interna
Para Rui Rio, o resultado não foi tão mau como alguns profetizavam, mas no partido a contestação volta a aumentar de tom: Miguel Relvas, Almeida Henriques e Luís Menezes pedem nova liderança.
Rui Rio só é presidente do PSD desde fevereiro de 2018, mas não tem tido vida fácil e a derrota nas eleições legislativas deste domingo trouxeram consigo novamente questões à sua liderança. Miguel Relvas, Almeida Henriques e Luís Menezes pedem eleições no PSD. Mas há também quem o defenda: o histórico do PSD, Ângelo Correia, diz que até agora Rui Rio é o melhor entre os potenciais candidatos.
Em janeiro deste ano, Luís Montenegro lançou a primeira pedra: “É fundamental que venha um novo líder” para o PSD, disse na altura.
A mudança acabaria por não acontecer e, aquele que foi seu sucessor na liderança da bancada parlamentar do PSD, Hugo Soares, acabou por ser afastado também, algo que na altura disse que encarava como “uma medalha”, considerando que o veto era de Rui Rio.
Depois das eleições europeias realizadas no final de maio – o PSD perdeu um deputado e teve menos quase seis pontos na votação –, foi a vez de Jorge Moreira da Silva, antigo vice-presidente do PSD e ministro do Ambiente de Pedro Passos Coelho, que deixou duras críticas, falando num PSD “totalmente desorientado” e em humilhação.
“Não sei o que é pior: ter tido um resultado desastroso – o pior da nossa história – ou não ter percebido as razões para que tal tivesse acontecido, como parecem evidenciar as declarações de Rui Rio na noite eleitoral e no decorrer desta semana. O PSD está totalmente desorientado perante um resultado eleitoral que, não há outra forma de o dizer, foi humilhante”, escreveu Jorge Moreira da Silva, num artigo de opinião publicado no Expresso.
O resultado deste domingo não foi tão mau quanto algumas sondagens apontavam, e Rui Rio defendeu-se com isso mesmo, dizendo que foi um resultado “praticamente idêntico ao de 2015”, em que o PSD concorreu coligado com o CDS-PP: “Não há uma grande derrota. Isso era o que estava profetizado. Não houve”.
Mas os críticos, alguns de longa data, não deixam passar em branco o resultado alcançado, numa eleição que deu uma vitória clara ao PS de António Costa e que deixa os socialistas numa posição mais confortável para negociar um acordo no Parlamento.
Miguel Relvas, um dos grandes obreiros da vitória de Pedro Passos Coelho e que foi seu ministro, disse ao Fórum TSF que face ao “mau resultado” destas eleições, o PSD precisa de “um novo líder” que prepare as próximas eleições autárquicas (em 2021) com uma perspetiva diferente, instando aqueles que querem ser alternativa a apresentarem-se agora.
O antigo ministro da Presidência apontou Luís Montenegro e Paulo Rangel como possíveis sucessores na liderança do PSD a um Rui Rio que não parece querer sair, e que já disse que vai assumir o seu lugar de deputado.
António Almeida Henriques, que foi secretário de Estado Adjunto da Economia na primeira metade do Governo de Pedro Passos Coelho, foi um dos apoiantes de Luís Montenegro em janeiro, e agora voltou a pedir um congresso para clarificar o futuro do partido.
“O resultado não foi um desastre, mas foi muito mau”, admitiu Almeida Henriques, defendendo então que “o PSD deve fazer a reflexão e deve antecipar o congresso, não tenhas dúvidas”, disse em declarações à Antena 1 e à SIC Notícias.
“Se Rui Rio tivesse concentrado a sua estratégia no combate ao PS e ao Governo da geringonça, como o fez nas últimas duas semanas, provavelmente teria tido um melhor resultado”, afirmou. “Acho que um dos erros deste último ano e meio foi o excessivo fechamento do partido sobre si próprio”, afirmou, em alusão ao período durante o qual Rui Rio assumiu a liderança do partido.
Luís Menezes, filho do ex-presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia e antigo líder do PSD Luís Filipe Menezes, e ele próprio antigo deputado social-democrata, deixou críticas muito duras à liderança de Rui Rio em declarações à Rádio Renascença, falando de “jogo de amiguismos” e deixou as críticas inteiramente à direção do partido.
“O que aconteceu no partido nos últimos tempos foi grave: a escolha das listas foi sectária, houve um jogo de amiguismos que tanto foi dito que não iria haver. Estes resultados mostram que seria possível ganhar ao PS e a António Costa. Por isso, o que “esteve errado durante este período todo, infelizmente, foi a estratégia da atual liderança e deste PSD”, disse.
O único que fez uma (meia) defesa de Rui Rio foi o histórico do PSD Ângelo Correia, também ele um dos mentores de Pedro Passos Coelho. Para Ângelo Correia, o PSD está “há alguns anos com convulsões internas que não pode ter, nem deve ter”, isto se tem a intenção de ser “um partido referência”.
No entanto, e olhando para os potenciais candidatos, que não enumerou nas declarações que fez à Antena 1, diz que Rui Rio continua a ser o mais capaz de liderar o partido. “Face a todas as pessoas que tenho visto candidatos a líderes do PSD, Rui Rio é o melhor”, disse.
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