Obrigações para o retalho adiadas. “Neste momento, não é o produto mais interessante”, reconhece Cristina Casalinho
As condições de mercado -- com os juros da dívida em mínimos históricos -- levaram o Tesouro e os parceiros da banca a decidirem adiar nova emissão de Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável.
As Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável não são atualmente uma forma de financiamento que a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP considere interessante. Apesar de estar prevista uma nova emissão deste produto de dívida a pequenos investidores, o IGCP decidiu em conjunto com os parceiros da banca que este não era o momento para o fazer.
“Há sempre interesse da parte do Tesouro no lançamento desse tipo de produto [OTRV], mas resulta de uma parceria com os bancos, no sentido em que são os bancos que oferecem as suas bases de distribuição para disseminar os produtos. Nesse caso, os bancos também têm de avaliar qual é o nível de aceitação ou apetite dos bancos por parte da sua base de clientes”, disse Cristina Casalinho, presidente do IGCP, à margem do seminário Mercados de dívida pública – Desafios num quadro de aprofundamento da UEM, esta segunda-feira, em Lisboa.
Avaliámos as condições de mercado e considerámos que neste momento não é o produto mais interessante para ser lançado.
Questionado se foi a banca a decidir adiar a emissão prevista para 2019 no Orçamento do Estado, respondeu que “foi uma decisão consensual”. Casalinho acrescentou: “Avaliámos as condições de mercado e considerámos que neste momento não é o produto mais interessante para ser lançado“.
As OTRV foram criadas para oferecer aos pequenos investidores uma forma de investirem diretamente nas obrigações do Tesouro, com as vantagens e desvantagens que tal oferece. Se nos últimos anos permitiu ter acesso a taxas atrativas, à luz das alternativas do próprio Estado, com o contexto de taxas negativas o interesse destes investidores desaparece, como o ECO já tinha noticiado.
Em julho de 2018 — altura em que se realizou a única emissão de OTRV do ano passado –, a taxa a sete anos estava em 1,3% no mercado, tendo o IGCP oferecido 1% aos aforradores nas OTRV. Agora, a yield dos títulos com a mesma maturidade está negativa. Esta será uma razões para adiar a emissão que estava prevista no Orçamento do Estado para 2019 e que indicava uma colocação de mil milhões de euros.
Em simultâneo, o Tesouro não tem tido dificuldades em financiar-se junto das famílias, o que poderá compensar esta diferença. O Governo entrou em 2019 a assumir uma saída líquida de mil milhões de euros dos certificados em resultado do fim do prazo dos primeiros Certificados do Tesouro Poupança Mais (CTPM), que tinham um prazo de cinco anos. A perspetiva era de que todo o dinheiro que entrou nestes CTPM e que agora está a ser reembolsado acabasse por ser redirecionado para investimentos alternativos, ainda que parte fosse reinvestido em certificados de aforro ou CTPC.
Mas em vez de sair dinheiro, a realidade é que está a entrar. Os últimos dados disponíveis indicam que o investimento total cresceu perto de 646 milhões de euros entre janeiro e agosto deste ano. Assim, o buraco deixado pelas OTRV no financiamento do Estado deverá ser compensado pelos certificados do Tesouro e certificados de Aforro.
(Notícia atualizada às 12h10)
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Obrigações para o retalho adiadas. “Neste momento, não é o produto mais interessante”, reconhece Cristina Casalinho
{{ noCommentsLabel }}