Lá fora já é online. Black Friday em Portugal é cada vez mais corrida às lojas
Nasceu nas lojas físicas nos EUA e tem vindo a ganhar mais expressão no mundo digital. Porém, em Portugal, o fenómeno da Black Friday segue em contraciclo.
A Black Friday nasceu nos EUA, primeiro nas lojas físicas e só mais tarde chegou ao mundo digital. Os portugueses ouvem falar dela há cinco anos e o fenómeno já está bem enraizado na sociedade. Mas a tendência tem sido exatamente a oposta no mercado nacional. A Black Friday conquistou primeiro as lojas virtuais portuguesas e só depois é que o conceito foi adaptado às lojas físicas das principais marcas de retalho.
Nesta “sexta-feira negra”, o ECO quis perceber qual o peso das vendas na internet quando comparadas com o volume de vendas em lojas físicas. E as fontes contactadas apontam para uma realidade que segue a contraciclo com a sofisticação do digital que se tem visto em economias de maior dimensão, como a norte-americana ou a chinesa.
Há alguns anos, a Black Friday era o dia de os norte-americanos afluírem às lojas em grandes massas, mas a tecnologia tem permitido uma experiência de comércio eletrónico substancialmente melhor do que na década passada. Em Portugal, em contrapartida, o conceito começou no comércio online, mas há cada vez mais — e maiores — campanhas nas lojas nos grandes centros comerciais.
“A Fnac foi dos primeiros retalhistas a importar o conceito de Black Friday para Portugal, há cerca de cinco anos. Nessa altura, era um conceito que utilizávamos ainda apenas no online e foi de ano para ano tornando-se mais omnicanal”, assumem ao ECO, por email, o diretor comercial da Fnac Portugal, Pedro Falé, e a diretora de e-commerce da marca, Paula Alves. Nestes momentos mais promocionais, o online ganha peso, mas não vai além de um quarto das vendas globais nacionais.
A Fnac Portugal é, assim, um desses exemplos em que a Black Friday nasceu digital e é cada vez mais física, apesar do aumento da sofisticação da loja na internet. “Na Fnac em Portugal, a Black Friday começou no online e só depois começou a ser transposto para as lojas físicas. Em igualdade de circunstâncias de preço, e como os estudos de Portugal digital o demonstram, os clientes portugueses preferem ir às lojas”, apontam os mesmos responsáveis da empresa.
A corrida às lojas é, por isso, explicada com o facto de permitir toda uma experiência social que a internet ainda não permite. As lojas “são espaços de aconselhamento, de experiência e de gratificação imediata”. “Contamos que a maioria dos clientes se continue a deslocar às nossas lojas, não prescindindo de pesquisar características, preços e disponibilidades na loja virtual”, estimam Pedro Falé e Paula Alves.
Na Fnac em Portugal, a Black Friday começou no online e só depois começou a ser transposto para as lojas físicas. Em igualdade de circunstâncias de preço, e como os estudos de Portugal digital o demonstram, os clientes portugueses preferem ir às lojas.
Na Black Friday do ano passado, vídeos publicados nas redes sociais documentaram a corrida às lojas… em sentido literal. Centenas de portugueses irromperam pelas lojas dentro, procurando conseguir os melhores descontos antes que o stock se esgotasse. A prova do crescimento da Black Friday em loja é a campanha que está a ser levada a cabo pela Worten: a marca teve uma promoção pré-Black Friday e começou a meio desta semana a aceitar reservas dos clientes para poderem entrar nas maiores lojas antes de todos os outros. Há pulseiras e até música, como se fosse um autêntico festival. Contactada, a marca da Sonae não respondeu a tempo de publicação deste artigo.
“Diria que a predominância se mantém nas lojas físicas, também ainda por um comportamento que privilegia a experiência, o toque, o cheiro, o gosto de uma certa perseguição do produto certo ao melhor preço, mesmo após as pesquisas online“, explica também ao ECO a professora Ana Paula Cruz, do IPAM. E sublinha: “Ainda somos maioritariamente offline nestas coisas”.
A especialista recorda também que, por um lado, já existem produtos e condições de venda “que são oferecidos quer pelas grandes cadeias, quer pelas lojas singulares, exclusivamente para o ponto de venda físico”. “Toda uma seleção de produtos é comunicada aos potenciais clientes como chamariz à loja, onde outras maravilhas não consideradas à partida como objeto de compra, esperam pelo consumidor. Ele, aliás, também espera por isso”, elenca Ana Paula Cruz.
“Por outro lado, também na web há artigos que são exclusivos do online e que não encontraremos nas lojas físicas”, admite. Já para não falar de que, “para os amantes do online“, a confusão característica do Black Friday nas lojas “é a grande razão que os leva a optar” pela internet: “Nada melhor que o conforto de um sofá, passeando entre lojas e entre separadores do browser“.
Questionada sobre se a Black Friday é cada vez mais um evento físico ou digital, Ana Paula Cruz não é determinista: “Tenderá para um equilíbrio, com o online a crescer mais para se aproximar da compra no ambiente físico. Haverá sempre quem prefira a excitação da busca do artigo perfeito ao preço ideal, da escolha no momento de uma oferta em que não se pensava, mas não há dúvida que o online ainda terá muito por onde crescer”, conclui.
Enquanto isso, empresas como os CTT vão assistindo com entusiasmo ao crescimento deste fenómeno, que é já uma importante ocasião nas contas e operações da empresa de correios. Afinal, alguém tem de levar as encomendas desde os armazéns até à porta da casa dos consumidores (isto é importante, porque a Amazon já é capaz de entrar mesmo dentro de algumas habitações).
Fonte oficial dos CTT assume ao ECO que, “nesta altura do ano, os CTT observam uma concentração de compra em momentos ou campanhas específicas, como é exemplo a Black Friday, com alguns fluxos a registarem crescimentos superiores a 30% face ao período comparável do ano anterior”. Este crescimento acontece não só nas compras dentro do país como também nas compras dos portugueses em lojas localizadas noutros países europeus, ou mesmo em territórios extracomunitários.
Ainda assim, nem mesmo os CTT, parte interessada no crescimento do online devido ao negócio do Expresso e Encomendas, arriscam dizer que a Black Friday caminha para ser um evento na internet. “O comércio é cada vez mais omnicanal e haverá sempre uma grande oportunidade para as compras offline, até pela tipologia de produtos que são alvo também das campanhas de desconto e que não é ainda comum serem comprados online derivado da sua natureza (peso/dimensões) ou da necessidade de serviços complementares à entrega (instalação, por exemplo)”, justifica a mesma fonte.
E é disto que se faz a Black Friday em Portugal. Não só de portugueses sentados no sofá a comprar com o telemóvel, mas cada vez mais de consumidores em grandes centros comerciais. No que aos CTT diz respeito, a empresa de correios espera “recordes” para esta sexta-feira, 29 de novembro.
“Esperamos que estas campanhas com descontos extraordinários a atuarem sobre as compras online tenham um efeito de pico, batendo-se os recordes das campanhas de anos anteriores. Há, de qualquer modo, um efeito atenuador de concentração do fenómeno de pico, já que o apelo às campanhas de desconto, sob o desígnio de Black Friday, se inicia muito antes da referida sexta-feira, levando a que os clientes tomem decisões de compra antecipadamente”, aponta a empresa liderada por João Bento.
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