IRS, TSU e ADSE ficam com 38% a 50% dos aumentos na Função Pública
De acordo com as simulações da EY, um funcionário público que hoje receba mil euros todos os meses terá um acréscimo remuneratório, em termos líquidos, de menos de dois euros, em 2020.
No próximo ano, os salários dos funcionários públicos vão crescer 0,3%, uma atualização considerada “vexatória” e “inaceitável” pelos sindicatos. O Governo garante, por sua vez, que “foi até onde podia ir”. Contas feitas, em termos brutos, os trabalhadores do Estado terão aumentos remuneratórios entre os dois e os 19 euros mensais. E segundo as simulações da EY, depois do IRS e das contribuições para a Segurança Social e para a ADSE, um funcionário que hoje receba, todos os meses, mil euros passará a ganhar mais 26,25 euros por ano.
Na segunda reunião com os sindicatos sobre as matérias relativas à Função Pública que serão incluídas no Orçamento do Estado, o Executivo de António Costa anunciou que irá aumentar os salários em linha com a inflação observada até novembro deste ano. Em causa está uma subida de 0,3%, que “defraudou” as expectativas dos trabalhadores do Estado.
Em declarações aos jornalistas, o secretário de Estado do Orçamento, João Leão, justificou tal subida com a pressão orçamental decorrente do descongelamento das carreiras — cuja última etapa produz efeitos este mês — e do regresso à normalidade no pagamento dos acréscimos remuneratórios implicados nas progressões.
O Governo tem ainda feito questão de salientar que a esse aumento salarial de 0,3% deve ser somado o reforço remuneratório decorrente das progressões e promoções (em média 2,9%). Os sindicatos recusam, contudo, tal interpretação, frisando que aumentos e progressões são matérias diferentes, sobretudo num cenário em que grande parte dos funcionários públicos não vê os salários crescer há dez anos.
O ECO já tinha calculado o impacto desse aumento de 0,3% na Tabela Remuneratória Única (TRU) — que resultará em subidas salariais entre dois e 19 euros — e a EY dá agora um passo em frente, fazendo simulações do efeito líquido (depois do desconto do IRS e das contribuições para a Segurança Social e ADSE) dessa atualização de 0,3% na carteira dos trabalhadores.
De notar que, nos três cenários considerados por esta consultora, é assumido um contribuintes solteiro, sem dependentes, residente no continente e sem deficiência. Além disso, este funcionário público recebe exclusivamente rendimentos do trabalho dependente e não foram consideradas quaisquer deduções à coleta.
Estas simulações partem também de um cenário de não atualização dos escalões de rendimento e correspondentes taxas progressivas do artigo 68.º do Código do IRS.
No caso de um trabalhador que hoje receba mil euros todos os meses, a subida de 0,3% resultará em mais 42 euros anuais, em termos brutos, mas com os descontos e contribuições o acréscimo deverá ser de apenas 26,25 euros. Isto quer dizer que do aumento bruto de 42 euros, uma fatia de 15,75 euros ou 37,5% irá para os cofres do Fisco, da Segurança Social e da ADSE.
Por mês, este trabalhador do Estado levará para casa menos de dois euros (considerando que a remuneração é paga durante 14 meses).
Já no caso de um trabalhador que hoje receba 1.500 euros mensais, o reforço salarial de 0,3% resultará em mais 63 euros, em termos brutos, mas com os descontos e contribuições o acréscimo anual deverá ser de apenas 35,91 euros, ou seja, cerca de 2,6 euros por mês.
Neste exemplo, o valor que é retido pelo IRS, TSU e ADSE será de 27,09 euros anuais, ou seja, 43% da valorização salarial.
Em terceiro lugar, no caso de um funcionário público que hoje receba dois mil euros mensais, o aumento remuneratório previsto no Orçamento do Estado para 2020 resultará em mais 84 euros anuais, em termos brutos. Depois dos descontos e das contribuições, esse valor desce, contudo, para 42,42 euros anuais, ou seja, cerca de três euros por mês.
Nesta última simulação, o Fisco, a Segurança Social e a ADSE ficam com praticamente metade (41,58 euros ou 49,50%) do aumento salarial anual.
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