Acionistas compram dívidas da Global Media ao BCP e Novo Banco. Desconto terá chegado aos 85%

Não foram só as ações. Os acionistas da Global Media também compraram ao BCP e Novo Banco as dívidas do grupo. O passivo foi reduzido para "valores marginais", mas a reestruturação ainda não acabou.

Os acionistas de referência da Global Media — Kevin Ho e José Pedro Soeiro — também compraram ao BCP e ao Novo Banco as dívidas do grupo, apurou o ECO. Esta operação, que fontes indicam ter sido efetuada com um desconto entre 80% e 85%, decorreu em paralelo com a compra das posições de capital que os dois bancos detinham na empresa. A informação relativa à compra de capital e de dívida da Global Media está numa carta enviada aos colaboradores pela administração da Global Media na véspera de Natal, à qual o ECO teve acesso.

“Reduzimos a nossa dívida bancária de forma consistente, desde 2014 até 2018, através de venda de ativos. No ano de 2019, demos um novo passo estruturante na sustentabilidade financeira do nosso grupo, tendo os acionistas adquirido as dívidas e participações detidas pelos bancos Millennium BCP e Novo Banco, reduzindo, assim, a dívida bancária, para valores marginais”, lê-se na mensagem, enviada por ocasião do Natal e do ano novo.

Segundo a administração encabeçada por Daniel Proença de Carvalho, “essa diminuição permitiu também desonerar os ativos dados em garantia aos bancos”.

Não foi possível apurar o valor concreto da transação, isto é, quanto é que os acionistas do grupo pagaram aos dois bancos. Também não foi possível saber qual o valor da perda assumida pelos bancos, mas várias fontes apontam para um “perdão” que poderá ter chegado aos 85% do montante total que a Global Media ainda devia aos bancos.

Fonte oficial da Global Media rejeitou comentar “as relações” dos acionistas do grupo, tendo remetido para as partes que “terão executado o eventual negócio”. Contactados pelo ECO, o BCP e o Novo Banco não quiseram comentar. O ECO tentou ainda falar com o acionista José Pedro Soeiro, mas sem sucesso até à publicação deste artigo.

Daniel Proença de Carvalho, advogado e presidente do conselho de administração da Global Media.JOSÉ COELHO/LUSA

Global Media continua à procura de recursos

A Global Media tem enfrentado dificuldades financeiras que levaram à implementação de um plano de reestruturação. Mas, apesar da redução do passivo — que era crítica para a empresa –, o processo ainda não chegou ao fim, assume a administração.

“Teremos, ainda, de completar um ciclo de reestruturação organizacional, para conseguirmos reequilibrar as contas anuais, dando um novo impulso à nossa atividade. Estamos a procurar reunir os recursos necessários, para concluir este processo”, lê-se na mesma carta enviada aos trabalhadores. Fonte oficial da Global Media recusou revelar o valor dos recursos que a empresa procura.

Em outubro foi tornado público que o BCP e o Novo Banco chegaram a um acordo para vender aos outros acionistas de referência as posições que detinham na Global Media. Em causa, os 10,5% controlados pelo BCP e os 10,5% controlados pelo Novo Banco.

Sabe-se que o principal acionista do grupo é o investidor macaense Kevin Ho. Em conjunto com José Pedro Soeiro, empresário e gestor português, ambos controlarão pelo menos 60% da Global Media.

Já no final de novembro, o ECO noticiou que a Global Media chegou a um acordo para vender a Naveprinter, a gráfica sediada na Maia, perto do Porto. Esta operação era vista como essencial para ajudar a financiar a reestruturação da empresa.

O nome do comprador não foi revelado, mas fonte conhecedora do processo disse ao ECO tratar-se de um investidor estrangeiro com objetivos imobiliários. Porém, o montante, na ordem de “meia dúzia de milhões” de euros, ainda não terá sido transferido para a Global Media, o que continua a atrasar o processo de reestruturação da empresa.

Grupo pediu confidencialidade à ERC

Há anos que as empresas detentoras de órgãos de comunicação social têm de publicitar ao regulador dos media o nome dos acionistas e as contas, entre outras informações. Mas só recentemente é que a ERC passou a expor essa informação no Portal da Transparência.

No entanto, a informação financeira relativa à Global Media encontra-se indisponível na referida plataforma. Ali, surge indicado que está “em apreciação” um “pedido de confidencialidade”.

Desconhece-se a razão que motivou a Global Media a pedir confidencialidade à ERC para não revelar os resultados dos anos de 2018 e 2017.

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