Europa deverá dar boleia à bolsa de Lisboa em 2020. BCP é chave para o sucesso
O PSI-20 ganhou mais de 10% no ano passado e as perspetivas para o ano novo são positivas. Retalho e energéticas são as preferidas, enquanto o banco liderado por Miguel Maya terá de superar desafios.
Após um ano em que ficou atrás das outras praças europeias e norte-americanas, a bolsa de Lisboa deverá continuar a valorizar em 2020. A perspetiva dos analistas para o PSI-20 é positiva graças ao impulso económico (nacional e internacional) e da resiliência que se espera que a redução do endividamento traga. Os desafios do BCP voltarão a ser a chave para o percurso do índice português.
“Esperamos que 2020 seja um ano de continuidade para o mercado acionista português suportado em taxas de juro muito baixas e numa taxa de desemprego historicamente baixa“, diz Pedro Barata, gestor da GNB Gestão de Ativos, ao ECO. “Também estamos moderadamente otimistas para o mercado europeu pelo que consideramos que o PSI-20 deverá evoluir no sentido dos seus pares europeus. Sendo o mercado português um mercado periférico cuja economia está muito dependente do exterior, seria surpreendente que este evolui-se de uma forma muito diferente dos seus pares”.
O PSI-20 fechou 2019 com uma valorização de 10,2% para 5.214,14 pontos, sendo este o melhor ano desde 2017. Incluindo o reinvestimento dos dividendos, o ganho foi de 15%. Se a Jerónimo Martins e o grupo EDP ajudaram a subir, a Pharol liderou as perdas e o BCP destacou-se também no vermelho, levando a que o índice tenha ficado entre os que menos ganharam na Europa. O Stoxx 600 ganhou 23%, na maior subida anual desde 2009.
PSI-20 fecha 2019 próximo dos níveis de 2017
O desempenho da bolsa de Lisboa neste novo ano estará dependente do contexto externo, sendo a tensão geopolítica um fator a ter em conta. Mas será determinado sobretudo pelo que se passar no contexto europeu, onde se encontram a grande maioria dos seus parceiros, quer sejam países ou empresas. O ano de 2020 ficará marcado pela reação das economias europeias aos renovados estímulos do Banco Central Europeu (BCE), que já vê a inversão da desaceleração económica.
Apesar de os juros em mínimos históricos e o programa de compra de ativos já estarem em parte incorporados pelo mercado, a nova presidente do BCE Christine Lagarde já começou a pressionar países como a Alemanha a usarem o excedente orçamental para impulsionar a economia europeia, o que poderá beneficiar todo o bloco. Em simultâneo, a diminuição da incerteza com o Brexit e a guerra comercial também ajudam, enquanto as eleições nos Estados Unidos são a maior dúvida.
“Com razoável grau de probabilidade consideraria no pior cenário podermos assistir a um regresso aos 4.400 / 4.600 pontos e no melhor cenário aos 5.700 / 5.800 pontos, sendo que o de uma maior valorização poderia ser o que teria mais adesão à realidade“, refere João Queiroz, diretor da banca online do Banco Carregosa. Também Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros espera uma valorização de 11% para os 5.800 pontos.
Economia, excedente e redução da dívida reforçam confiança
Apesar de em menor escala, os receios de desaceleração da economia global subsistem e poderão ser um risco para o país. Para já, o cenário macro é de otimismo. O Bankinter reviu em alta as projeções para o PIB em 2020, antecipando um crescimento de 1,8% (mais 0,2 pontos percentuais que na anterior estimativa), o que fica ligeiramente abaixo da projeção do Governo (1,9%). A expansão da economia ajuda o Executivo a acelerar o equilíbrio orçamental e a redução da dívida: o objetivo é ter um excedente de 0,2% e uma dívida de 116,2% no final de 2020.
“A continuação da redução da alavancagem da economia nacional (entenda-se diminuição do endividamento do Estado) é importante para se poder ter capacidade para responder se a economia global entrar num processo de maior estagnação com algumas evidências de contração“, refere Queiroz.
O diretor da banca online do Banco Carregosa elogia a estratégia de rigor nas contas públicas e diminuição do stock de dívida da República até 100% do PIB no final da legislatura, mas aponta a falta de medidas de estimulo à poupança e investimento das famílias, bem como de criação de emprego pelas empresas.
Apesar de este Governo ser aparentemente de continuidade face ao anterior, esperamos um aumento da crispação social. Este facto, a confirmar-se, poderá impactar negativamente a evolução da economia e isso poderá ser prejudicial. Porém, com níveis de taxas de juro tão reduzidos e uma taxa de desemprego tão baixa, é de esperar que a confiança do consumidor esteja em alta e que isso potencie os resultados de algumas empresas com peso no PSI-20.
Há ainda a componente cíclica. Por um lado, o Bankinter lembra que o forte crescimento do PIB nos últimos anos não foi gerado por um aumento da produtividade do trabalho, mas sim pelo crescimento do número de trabalhadores. Já o BiG – Banco de Investimento Global refere que o turismo tem sido muito positivo, mas “mostra o quão dependente do mesmo a economia se encontra”, enquanto o arrefecimento da construção (que recupera desde a crise) poderá ter efeitos no investimento. Todos estes fatores estão intimamente ligados ao crescimento económico.
“Apesar de este Governo ser aparentemente de continuidade face ao anterior, esperamos um aumento da crispação social. Este facto, a confirmar-se, poderá impactar negativamente a evolução da economia e isso poderá ser prejudicial. Porém, com níveis de taxas de juro tão reduzidos e uma taxa de desemprego tão baixa, é de esperar que a confiança do consumidor esteja em alta e que isso potencie os resultados de algumas empresas com peso no PSI-20″, sublinha ainda Barata, do GNB GA.
Retalho e energia são os setores preferidos. Banca terá desafios
Filipe Garcia, da IMF, acredita que o PSI 20 é um índice difícil de comparar com os pares europeus porque, por um lado, poucos títulos têm um grande peso e, por outro, há pouca diversificação setorial. “A chave para 2020 está muito no comportamento” do BCP, diz. “O peso do BCP é muito relevante e, por isso, o que acontecer interna e externamente que afete a banca, terá importância no índice“.
Apesar dos lucros de 270 milhões até setembro (o melhor resultado em 12 anos), o ano passado foi de dificuldades para banco liderado por Miguel Maya devido aos juros em mínimos históricos do BCE e a multa da Autoridade da Concorrência. Em bolsa, desvalorizou 11,63%. A expectativa dos analistas é que o negócio bancário continue a enfrentar desafios pois não há perspetivas de mudança nas taxas de juro durante 2020.
Por outro lado, as elétricas e a distribuição têm beneficiado de uma conjuntura favorável. Do lado do retalho, a Jerónimo Martins foi mesmo a cotada que mais subiu em Lisboa no ano passado — 41,83% –, enquanto a concorrente Sonae subiu 12,35%. Na energia, a EDP Renováveis (35%) e a EDP (26,73%) — cujo ano ficou marcado pela morte da OPA pelo acionista China Three Gorges –, a REN (11,75%) e a Galp Energia (8,01%) fecharam todas no verde.
“Se o crescimento da economia permanecer dentro do previsto, os ventos continuarão favoráveis para esses títulos e para o índice como um todo. Mas convém destacar que uma parte substancial do que sucederá em 2020 no mercado nacional virá de fora”, acrescentou Garcia.
Estes setores são também os favoritos de outros analistas. No caso do CaixaBank/BPI, EDP, Jerónimo Martins e Navigator são as escolhas preferenciais para 2020, apontando para potenciais valorizações até 40%. Já a corretora Infinox aponta igualmente para a EDP, a Galp, a REN, a Jerónimo Martins e a Sonae.
"O desafio do mercado nacional continua a ser de dimensão e expressividade no contexto europeu e nos mercados mundiais. Dada a sua dimensão, o desempenho do PSI-20 deverá continuar a ser condicionado pelo sentimento dos investidores internacionais.”
Dimensão continua a ser o calcanhar de Aquiles do PSI-20
Se houve algo que não mudou em 2019 foi o número de títulos que constituem o PSI-20. Apesar do nome, o índice é composto por apenas 18 cotadas, o que faz com que tenha pouca expressão a nível internacional. Em todo o mundo, entraram em bolsa empresas com capitalização superior a um bilião de dólares, no ano em que a Saudi Aramco realizou a maior oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de sempre.
“O desafio do mercado nacional continua a ser de dimensão e expressividade no contexto europeu e nos mercados mundiais“, afirmou Carlos Almeida, diretor de investimentos do Best. “Enquanto na componente das obrigações, Portugal tem sido amplamente reconhecido pelos investidores com a expressiva redução do prémio de risco nos últimos anos (e consequente valorização das obrigações emitidas pela República Portuguesa, uma vez mais em 2019), na vertente das ações, o mercado português tarda em ganhar dimensão e reconhecimento dos investidores”.
A capitalização do mercado português situou-se em quase 63 mil milhões de euros em dezembro (mais 16,4% que no final de 2018), o que é equivalente à maior cotada em Espanha. “Dada a sua dimensão, o desempenho do PSI-20 deverá continuar a ser condicionado pelo sentimento dos investidores internacionais”, acrescenta Almeida.
Para 2020, poderá haver três novas cotadas (todas do setor do imobiliário) na bolsa de Lisboa, mas apenas uma deverá qualificar-se para entrar no índice de referência. A espanhola Merlin Properties poderá ser já a primeira, sendo que tem dimensão para se tornar a quinta maior do PSI-20, se entrar a tempo e for incluída na revisão do índice, em março. Além desta, também a promotora imobiliária VIC Properties quer estrear-se na bolsa de Lisboa até junho e a sociedade de investimento e gestão imobiliária (SIGI) Ores Portugal até dezembro.
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