O que diz a auditoria interna confidencial que levou às buscas no Montepio?
As buscas aconteceram esta semana, mas as suspeitas já remontam há vários meses. Na base está um relatório interno, de "uso restrito".
A Polícia Judiciária (PJ) e o Ministério Público (MP) realizaram esta quinta-feira buscas relacionadas com o aumento de capital do Montepio, mas estas suspeitavas já remontam há muito tempo. Após a separação entre o banco e a associação mutualista, já tinha havido uma inspeção interna confidencial, que culminou em toda esta operação.
No início de 2018, a Direção de Auditoria e Inspeção elaborou um relatório interno — de “uso restrito” — para o Conselho Geral e Supervisão do Banco Montepio — Caixa Económica Montepio Geral –, com um resumo da proveniência de alguns dos fundos utilizados para a aquisição de unidades de participação do Montepio no final de 2013, com base numa auditoria de 2017 ao Finibanco Angola, avança o Observador (acesso pago).
O relatório começa por dizer que os créditos dados pelo Finibanco Angola e usados para comprar os títulos do Montepio pertenciam a Paulo Guilherme (filho do construtor José Guilherme), Eurico Brito (sogro de Paulo, portanto, compadre de José Guilherme) e Maria João Rodrigues (filha de João Alves Rodrigues, outro empresário da construção em Angola, amigo de José Guilherme) — os maiores subscritores do aumento de capital.
A primeira conclusão foi que estes “três maiores participantes no fundo de participação da Caixa Económica Montepio Geral” naquela data foram “financiados pelo Finibanco Angola, de modo direto ou indireto, para a aquisição das respetivas unidades de participação (UP)”. E são dados exemplos, como a subscrição de 20 milhões de UP por 20 milhões de euros pelo filho de José Guilherme, que só aconteceu porque o Finibanco Angola avançou com 38,7 milhões de euros, o que resultou num benefício para a empresa de 463.406,98 euros.
Além disso, a auditoria leva a crer que o Finibanco Angola emprestou dinheiro a uma empresa relacionada com o compadre de José Guilherme e, quando o Finibanco Angola reportou aos serviços da Caixa Económica, “não considerou a existência deste novo financiamento indireto para a liquidação do financiamento inicial”.
A auditoria diz ainda que, em julho de 2014, o Finibanco Angola (FNBA) disse ao Banco Nacional de Angola (BNA) que “a origem dos fundos para a aquisição das UP por estes três participantes foi a concessão de crédito pelo FNBA”. Contudo, o documento diz que, “diferentemente”, houve uma carta em novembro de 2014, endereçada também ao BNA, onde se lê que “o financiamento não está relacionado com a subscrição dos referidos títulos”, uma informação que foi sempre dita aos serviços da Caixa Económica. Concluindo, o relatório refere “uma ligação” entre estes três participantes.
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