Bagão Félix: “Não tratei CGD como direção-geral”
O antigo ministro das Finanças diz que nunca tratou a CGD como uma direção-geral. Por isso, não cabia ao Governo a supervisão do banco público. Nega também que houvesse relação com administração.
Bagão Félix defende que nunca ficou tentado a tratar a Caixa Geral de Depósitos (CGD) como uma direção-geral. E que, por isso, não era sujeita à supervisão do Governo. “Era um banco como os outros” e, por esse motivo, deveria ser monitorizada pelas autoridades da concorrência, supervisão e regulação. O antigo ministro das Finanças também nega qualquer relação com a administração da CGD. Assim como Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix diz que nunca interferiu na gestão da CGD ou nos créditos concedidos.
O antigo ministro, que assumiu a pasta das Finanças durante oito meses no Governo de Santana Lopes, diz ainda que “nunca tive a tentação de tratar um banco totalmente público num mercado de concorrência completa como uma direção geral. A CGD não é uma direção geral”, por isso não era sujeita à supervisão do Governo.
Esta supervisão cabia, segundo Bagão Félix, às autoridades de concorrência, supervisão e regulação, uma vez que era “um banco como os outros”. Bagão Félix recebeu na altura os pedidos de demissão do presidente e vice-presidente da CGD, António de Sousa e Mira Amaral, respetivamente. “A partir daí, a minha principal preocupação foi começar a construir uma nova equipa para a CGD”, convidando Vítor Martins para liderar o banco público.
"Nunca tive a tentação de tratar um banco totalmente público num mercado de concorrência completa como uma direção geral. A CGD não é uma direção geral”
Mas Bagão Félix deixa claro: nunca teve uma relação com a administração da CGD. “Nunca tive qualquer relação com administração da Caixa Geral de Depósitos e em particular com o seu presidente que dissesse respeito a operação de crédito, ou por minha iniciativa ou da administração da CGD”, explica. “Quando um Governo, através de um ministro da tutela, tem uma relação com a administração da CGD, não é em princípio bom sinal. Bom sinal é que estas questões não se coloquem.”
Bagão Félix também defende que a CGD não deve ter um modelo dualista de governação — com Conselho de Administração e Comissão Executiva. “Tendo apenas um acionista, não deve ter um modelo dualista de governação. Não me parece que faça sentido. Seja expressamente assumido ou não”, explica Bagão Félix na comissão de inquérito à gestão da CGD. “Os modelos dualistas têm a virtualidade de poderem defender os interesses minoritários, mas aqui não há interesses minoritários. Há o interesse do Estado”, nota.
"Nunca tive qualquer relação com administração da Caixa Geral de Depósitos e em particular com o seu presidente que dissesse respeito a operação de crédito, ou por minha iniciativa ou da administração da CGD”
A comissão com Bagão Félix segue-se à de Manuela Ferreira Leite e é a última do ano. Em janeiro haverá praticamente uma comissão por semana, começando já no dia 3 com António José de Sousa, antigo presidente do conselho de administração da CGD.
“Sinto-me mal com esta humilhação”
Falando sobre o papel do Banco Central Europeu na aprovação dos nomes escolhidos para a CGD, Bagão Félix diz que é uma humilhação. “Não me sinto bem como português ver autoridades europeias e o BCE dizerem que os administradores têm que ter um curso adicional de formação ou dizer quem é adequado [para os cargos]. Sinto-me mal com esta humilhação de soberania a que estamos sujeitos”, diz o antigo ministro.
“Num banco que só tem um acionista que é o Estado deixem os pormenores para quem está cá”, acrescenta Bagão Félix ao deputado João Galamba.
(Notícia atualizada às 16h34)
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