A última semana dos eurodeputados britânicos converteu-se numa longa despedida carregada de emoção, lágrimas e cantos escoceses. Com o Reino Unido de saída, as bandeiras do país são retiradas.
No 9º andar de um dos imponentes edifícios do Parlamento Europeu, em Bruxelas, notam-se por estes dias sinais de que algo de único está acontecer. Os membros da delegação do Partido dos Verdes britânico estão prestes a deixar a instituição, devido à saída do Reino Unido da União Europeia (UE), marcada para esta noite, às 23 horas de Portugal. A partir desse momento, deixará de estar representado nas instituições europeias.
Em vários gabinetes, já meio vazios e paredes nuas, há quem se atarefe perante caixas de papelão amontoadas para arrumar papelada, há outros caixotes por encher, e ainda os últimos assuntos para despachar. E despedidas por fazer.
Outras delegações britânicas viveram a mesma situação nos últimos dias. Ao todo, são 73 os eurodeputados do Reino Unido (e muitas dezenas de assistentes parlamentares) que deverão esvaziar os gabinetes, entregar as chaves e devolver os cartões de acesso ao Parlamento Europeu (PE). A derradeira semana na capital belga enquanto eleitos britânicos foi para muitos de frustração, emoção e lágrimas. Para outros, os partidários do Brexit, foi de grande alegria.
Na terça-feira, os deputados, assistentes e pessoal do grupo dos Verdes juntaram-se nas escadarias exteriores do Parlamento, empunhando luzes e velas, numa ação para “deixar uma luz acesa” de esperança, no momento de separação.
“Penso que o dia do Brexit é muito triste para o meu país. É o dia em que viramos as costas à União Europeia que tem sido uma força tão positiva para a paz, a prosperidade e a sustentabilidade. É um dia que lamento mesmo muito”, diz ao ECO a ainda eurodeputada ecologista Ellie Chowns, de uma região próxima de Birmingham.
Voto histórico no Parlamento Europeu
A semana parlamentar em Bruxelas teve como ponto alto o voto do acordo Acordo de Saída do Reino Unido da UE. Tratou-se do último passo político para “carimbar” o processo histórico de separação que o plenário aprovou por uma esmagadora maioria, de 621 votos a favor e 49 contra (13 abstenções).
No debate prévio ao voto houve intervenções emocionadas, sobretudo de eurodeputados britânicos pró-UE — alguns visivelmente muito compungidos — que lamentaram a saída, prometeram “manter vivo o sonho” de um regresso e garantiram que não se trata de um adeus definitivo mas sim de um “au revoir”.
Entre os partidários da UE, vários deputados lembraram que a maioria dos jovens no Reino Unido não quer o Brexit. “Os jovens britânicos vão um dia liderar a campanha para voltarmos a estar juntos” na União, disse a liberal democrata Luisa Porritt, eleita por Londres. Praticamente todas as bancadas, resignadas, alinharam pelo mesmo tom lamentando a já sentida ausência de uma das maiores potências europeias que durante quase meio século contribuiu para moldar a UE.
Já os Brexiteers e o grupo dos Conservadores rejubilavam. ” [É] o capítulo final, o fim de linha: uma experiência política de 47 anos com a qual os britânicos, francamente, nunca se sentiram muito felizes. A minha mãe e o meu pai aderiram a um mercado comum. Não a uma união política. Não a bandeiras, hinos, presidentes — e agora vocês até querem o vosso próprio exército”, lançou um altivo Nigel Farage, líder do Brexit Party.
Aprovado o acordo de saída, viveu-se um momento inédito no hemiciclo com quase todas as bancadas políticas unidas a entoar o popular poema escocês “Auld Lang Syne” para despedir os colegas britânicos, entre abraços e lágrimas.
E assim foi também durante a semana com outros eventos de despedida dos eurodeputados britânicos.
Posições permanecem extremadas
Na hora da despedida, as opiniões sobre o Brexit parecem ainda mais extremadas. A poucas horas de cessarem mandato, os eurodeputados britânicos mostram-se muito divididos.
Mas Rupert Lowe, do Brexit Party, acredita que há razões para sorrir. “Agora o povo britânico decidiu que quer ser uma nação soberana com o seu próprio governo e as suas leis, concluir os seus próprios acordos comerciais”, diz ao ECO. “Penso que se organizarmos um Brexit que serve bem as pessoas, sim vamos prosperar, vamos florescer e outros povos na Europa vão seguir-nos”. Já Ellie Chowns acusa os Brexiteers de utilizarem a Europa “como bode expiatório” e “como desculpa conveniente para distrair as atenções em relação aos problemas” do país.
Seja como for, Lowe promete voltar hoje para Londres para festejar a saída da UE. “Imagino que não haja uma ‘big band’, mas de qualquer maneira vamos celebrar“. Ellie Chowns despediu-se ontem dos seus colegas “Remainers” e “de todos os amigos europeus”, num evento com danças escocesas e irlandesas, para dar um pouco de ânimo ao momento.
Com a saída do Reino Unido, as bandeiras do país serão retiradas dos diferentes edifícios do Parlamento pelo serviço de protocolo, em Bruxelas e Estrasburgo. Segundo uma fonte do PE, uma das bandeiras irá para a Casa da História Europeia.
Fechado o divórcio, fica agora por negociar o acordo sobre a relação futura entre os 27 e Londres, um processo complexo e com um calendário apertado até 31 de dezembro próximo.
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O adeus dos deputados britânicos ao Parlamento Europeu. Houve emoção e lágrimas
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