Global Energy Outlook 2020. Desafios geopolíticos na Europa e no mundo ameaçam mercado da energia

As tendências com maior impacto nos mercados energéticos em 2020 serão "a globalização, as guerras comerciais e outras situações geopolíticas", diz o relatório da tecnológica Schneider Electric

A situação geopolítica das principais potências económicas europeias e mundiais tem um impacto direto e imediato no mercado energético à escala global. A conclusão é do relatório “2020 Global Energy Outlook”, elaborado pela divisão de Energia e Sustentabilidade da tecnológica Schneider Electric, que reuniu especialistas em ciência de dados, abastecimento de energia, investigação e análise e também gestão de risco.

Durante quase uma década, a divisão de Energy & Sustainability Services da Schneider Electric tem vindo a organizar um fórum interno com os seus especialistas internacionais para discutir as tendências energéticas para o ano seguinte. O mais recente, realizado no final de 2019, revela que algumas das tendências que terão maior impacto nos mercados energéticos em 2020 serão, sem dúvida, a globalização, as guerras comerciais e as demais situações geopolíticas”, como os protestos dos “coletes amarelos” em França ou o Brexit no Reino Unido, refere a empresa em comunicado.

O relatório da Schneider Electric aponta, por isso, para a necessidade de os profissionais do setor energético estabelecerem estratégias sustentáveis para o futuro que incluam: a limitação das emissões através do abastecimento de energias renováveis; projetos de eficiência, incluindo financiamento alternativo; e a integração de objetivos de sustentabilidade. “O apoio político às energias renováveis será uma tendência muito relevante na União Europeia este ano. Os governos dos Estados-membros estão a promover estratégias de combate às alterações climáticas, cada vez mais importantes para os eleitores, ao mesmo tempo que tentam preservar postos de trabalho de algumas indústrias”, refere o “2020 Global Energy Outlook”.

E acrescenta: “Mais de 40 governos de todo o mundo optaram por enfrentar as alterações climáticas através da imposição de impostos sobre o carvão – que, na realidade, são impostos sobre o CO2. As empresas energéticas tradicionais estiveram dispostas a apoiar este tipo de taxas, tendo em conta que vão acelerar a utilização de outras energias que também fazem parte da sua carteira de produção. Não obstante, existe ainda uma certa incerteza em redor dos combustíveis fósseis”.

sobre o Pacto Verde Europeu (European Green Deal), o documento garante que o compromisso assumido por Bruxelas para descarbonizar e levar a Europa à neutralidade carbónica em 2050, está já a “levar as grandes potências europeias a traçar novas estratégias”. Veja-se o exemplo francês: o Governo de Emmanuel Macron avançou com uma subida dos impostos sobre os combustíveis e um aumento massivo, na ordem dos 90%, dos impostos sobre o consumo de gás natural, planeado para 2022. No entanto, estas iniciativas destinadas a acelerar a transição ecológica de França para a neutralidade carbónica chocaram de frente com os violentos protestos dos “coletes amarelos”, levando Macron a desistir de aumentar as taxas que incidem sobre os combustíveis.

“Para França, o objetivo continua a ser conseguir um equilíbrio entre a competitividade industrial e a justiça na carga fiscal, ao mesmo tempo que trilha o caminho para a neutralidade carbónica. Por agora, o clima político incerto cria um risco significativo de volatilidade das políticas energéticas, o que vai obrigar os compradores a seguir de perto o desenvolvimento dos acontecimentos e a ter em conta a ampla variedade de cenários fiscais que podem ocorrer no futuro”, conclui o relatório, acrescentando que o Governo francês “ainda tem de chegar a um consenso sobre uma estratégia energética que seja também viável em termos políticos a longo prazo”.

Sobre o Reino Unido, indicam os especialistas da Schneider Electric, “a saída da União Europeia tem um impacto direto na sua política energética”. Isto porque, enquanto quinta maior economia da Europa o país é também um importador líquido de energia, já que dispõe de uma capacidade limitada de armazenamento de gás. “Caso o Reino Unido entre em recessão económica, seria possível exercer pressão para baixar o preço dos combustíveis fósseis, tornando-os mais competitivos contra as energias renováveis”, conclui o relatório.

Outra das conclusões do documento é que “o abandono do carbono não agrada a todos”, com a Polónia a preferir não embarcar já no Green Deal da presidente da Comissão Europeia Ursulavon der Leyen e a Alemanha a temer pela perda de milhares de empregos relacionados com as centrais térmicas a carvão que ainda proliferam no país.

“O mix energético polaco ainda está muito condicionado pelo carvão, e tem enfrentado uma crescente pressão para se atualizar. A Polónia viveu um contexto político difícil devido ao aumento do custo da energia. Durante décadas, o país apoiou-se sobretudo no carvão, uma opção que agora é mais cara devido aos problemas de abastecimento e aos preços do próprio combustível fóssil”, dizem os especialistas da Schneider Electric.

Na Europa ainda há 41 regiões, em cerca de uma dúzia de países europeus, cuja economia se baseia, de forma total ou parcial, no carvão. De acordo com dados de instituições europeias, este setor ainda proporciona emprego direto a 240.000 trabalhadores, bem como a outros 215.000 de forma indireta.

Por seu lado, a Alemanha pretende abandonar o carvão em definitivo durante as próximas duas décadas, mas mantém ainda centrais térmicas a carvão no leste do país, região onde o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) tem mais força eleitoral, e onde causa maior temor a perda prevista de cerca de 20.000 postos de trabalho, dependentes do setor do carvão.

No extremo oposto parece estar Portugal, com “cada vez mais energia verde”, diz o relatório da Schneider Electric, com base em dados da REN que mostram que, em 2019, as fontes de energias renovável geraram 27,3 TWh de eletricidade e contribuíram com 56% do total da produção de eletricidade, dividido da seguinte forma: 27,5% de energia eólica, 20,6% de energia hídrica, 5,8% de bioenergia e 2,2% de energia solar. “Devido ao seu peso cada vez maior no mix energético do país, a utilização dos recursos endógenos e das fontes renováveis na produção de energia desempenha um papel cada vez mais relevante na satisfação do consumo”, sublinha o documento.

À escala internacional, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China transformou os mercados de abastecimento de energia e vai continuar a influenciar as tendências energéticas em 2020, alerta a Schneider Electric. Entre outras consequências para o mercado energético, nos últimos anos os dois países impuseram, entre si, taxas sobre determinados produtos energéticos.

O estudo da Schneider Electric recomenda também seguir de perto as tensões no Irão, uma região chave de produção e transporte de energia, uma vez que pode afetar a segurança e a disponibilidade do abastecimento.

Na maior economia do mundo, “as taxas para a produção de energia eólica e solar estão a diminuir e o seu futuro é incerto: para a energia eólica, o crédito caiu 20% por ano nos Estados Unidos, desde 2016, passando de 100% para 40% no fecho de 2019. Para a energia solar, os impostos para os sistemas comerciais e de consumo mantiveram-se nos 30% desde 2016; ambos vão diminuir para 26% em 2020 e para 22% em 2021″.

“Sem uma mudança na lei federal norte-americana, o crédito vai continuar a baixar. As eleições presidenciais deste ano serão cruciais: um Presidente democrata poderia reativar os créditos fiscais para a produção de energia eólica e solar, ainda que muito está dependente dos partidos que controlem as câmaras do Congresso. Os primeiros sinais de apoio bipartidário nos Estados Unidos ao imposto sobre o carbono surgiram com a introdução do Projeto de Lei de Inovação Energética e Dividendos de Carbono de 2019, ainda que o seu futuro seja imprevisível por agora”, remata o relatório da Schneider Electric. .

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