Um banco que acumula prejuízos de 6.500 milhões é viável?
Desde agosto de 2014, os prejuízos do Novo Banco superam os 6.500 milhões de euros. Ainda assim, o banco liderado por António Ramalho vai mostrar que continua a ser viável. Como assim?
Um banco que acumula prejuízos de mais de 6.500 milhões de euros em cinco anos de vida tem futuro? Pode parecer surpreendente, mas o Novo Banco fará esta sexta-feira nova prova de vida quando António Ramalho apresentar os resultados de 2019.
As contas continuaram no vermelho, refletindo o pesado legado do BES. É um mau desempenho vai obrigar a instituição a pedir mais 1.036 milhões de euros ao Fundo de Resolução, com recurso (novamente) aos contribuintes, chamados a emprestar 850 milhões. Ainda assim, do ponto de vista do negócio bancário, 2019 trouxe sinais mais positivos do que a dimensão dos prejuízos poderá eventualmente sugerir.
Foi nessa perspetiva que o presidente do Novo Banco se dirigiu aos deputados numa carta à comissão de Orçamento e Finanças. “2019 foi um marco importante na reestruturação do Novo Banco encetada em 2017”, referiu António Ramalho. Isto porque foi o fim de um “período em que o Novo Banco tinha de cumprir um conjunto alargado de compromissos que constam do acordo assinado entre o Estado português e a União Europeia, por altura da sua operação de venda”, explicou. António Ramalho está disponível para ir à Assembleia da República analisar as contas.
Parte desses compromissos assumidos com a DG-Comp (33 ao todo) dizem respeito à viabilidade do banco. Quando foi vendido ao Lone Star, em outubro de 2017, a autoridade da concorrência europeia impôs várias metas para assegurar que o Novo Banco, apesar de todos os problemas com o legado, era capaz de sobreviver no mercado, em competição com os outros bancos no crédito, nos depósitos, na margem financeira, nas comissões, nos custos…
Novo Banco soma prejuízos de 6.500 milhões desde 2014
Fonte: Novo Banco
Os números que António Ramalho apresentará esta sexta-feira vão mostrar que o Novo Banco passou nesse teste europeu, em duas dimensões principais:
- No resultado comercial antes de custos com imparidades (pre provision income), que estava nos 90 milhões de euros em 2017, e atingiu um valor a rondar os 400 milhões em 2019, dentro do exigido pelas autoridades europeias;
- Nos custos em função das receitas (cost-to-income), que estavam em 85% em 2017, e foram reduzidos para perto de 55% em 2019, também dentro do que foi definido por Bruxelas.
Ambas as metas foram cumpridas. Em caso de incumprimento, ao Novo Banco seriam aplicadas penalizações automáticas que implicariam mais fechos de balcões e mais saídas de trabalhadores.
O esforço não ficará por aqui, dado que a reestruturação do banco tem de prosseguir e as metas para 2020 e 2021 serão mais exigentes. Por exemplo, o rácio do cost-to-income terá de baixar para um patamar entre 40% e 50% nos próximos anos. E as receitas terão de subir para montantes entre 500 milhões e 850 milhões. Apenas se conhecem estes intervalos, embora Ramalho saiba quais as metas exatas a atingir.
Tudo isto acontece em simultâneo com a redução do legado do BES. É a parte má dentro do “banco bom” e cujos ativos problemáticos têm corroído a instituição por dentro. O banco reduziu o fardo de 14,5 mil milhões em 2017 para 4,5 mil milhões no final do ano passado (-70%), uma redução que teve a ver sobretudo com vendas de carteiras de malparado e imobiliário, de negócios internacionais e da seguradora. Como as vendas foram feitas abaixo do valor a que os ativos estavam registados nas contas do banco, o banco registou perdas de milhares de milhões de euros.
Fundo de Resolução injeta 3.000 milhões
Fonte: Novo Banco
É esta “limpeza” que explica os maus resultados do Novo Banco desde a sua criação, em agosto de 2014, quando foi aplicada uma medida resolução ao BES. De lá para cá (até setembro de 2019), os prejuízos ascendem a 6.541 milhões de euros. As chamadas de capital ao Fundo de Resolução vão já nos 2.978 milhões, o equivalente a mais de 75% da “garantia pública que o Novo Banco tem aproveitado para “limpar” o balanço.
Atualmente, o “legado” representa 10% dos ativos do banco. Mas representava 22% em 2018. Progressivamente, o banco mau está a desaparecer. Depois de finalizado este processo, seguir-se-á a venda da instituição.
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