Finanças sustentáveis já rendem 40 mil milhões. Valor pode quadruplicar
Necessidade de financiamento e pressão nas margens dos intermediários está a levar a uma emergência dos produtos financeiros sustentáveis.
Os investimentos no universo das finanças sustentáveis já rendem 40 mil milhões de dólares ao sistema financeiro. A estimativa é da consultora Oliver Wyman que antecipa que, à medida que os intermediários financeiros vão criando novos produtos verdes, o valor possa mesmo quadruplicar nos próximos anos.
“Estimamos que o ecossistema das finanças sustentáveis já represente mais de 40 mil milhões de dólares em receitas de mercado, abrangendo investimento com critérios ambientais, sociais e de governance (ESG), finanças verdes, mercados de transferência de risco e análise de dados”, refere o relatório ‘Climate Change: Três Imperativos para os Serviços Financeiros’.
“Estas são algumas das áreas financeiras que crescem hoje mais depressa e estimamos que o conjunto das receitas possa crescer para 100 mil milhões a 150 mil milhões dentro de cinco a dez anos, à medida que as firmas lutam entre si para criar novos produtos e serviços que aumentem o alcance, impacto e acessibilidade dos mercados de finanças sustentáveis”, continua a consultora. Estudos anteriores citados pela Oliver Wyman estimam também que a “economia ecológica vai mobilizar seis biliões nos próximos anos”.
Reafetar capital em investimentos ecológicos pode reduzir riscos e aumentar potenciais ganhos, com a onda de financiamento à transição da economia e ao combate às alterações climáticas. “O mercado assiste ao auge das finanças sustentáveis, uma situação que nos próximos anos vai gerar oportunidades para as empresas que estiverem preparadas”, sublinha o relatório.
Mas apesar de haver um crescente número de intermediários financeiros a apostar neste segmento, o relatório da consultora norte-americana aponta que apenas 10% da indústria o está a fazer com uma abordagem com base em dados concretos. Um dos problemas do crescimento dos investimentos sustentáveis tem sido a falta de regulação harmonizada que trave o greenwashing.
Ainda assim, o estudo da consultora estratégica revela que “o caminho já começou a ser feito por muitas empresas – as ESG (Gestão Socialmente Responsável) representam atualmente uma das maiores áreas de crescimento dentro da gestão de fundos, com um crescimento de 30% a 40% nos últimos anos. Mais do que dois terços dos novos fundos institucionais investem em algum tipo de estrutura ESG“.
"Os serviços financeiros estão limitados em fontes de crescimento. Esta é a certamente a maior oportunidade de crescimento para a indústria. Se a banca falhar em dar resposta às alterações climáticas, pode perder até um bilião de dólares.”
A par da emergência do financiamento sustentável, os intermediários financeiros enfrentam um momento de pressão nas margens financeiras e baixa rentabilidade. “Os serviços financeiros estão limitados em fontes de crescimento”, diz a Oliver Wyman, que considera que esta é “a maior oportunidade” para a indústria. “Se a banca falhar em dar resposta às alterações climáticas, pode perder até um bilião de dólares“, sublinha.
Para chegar a estes valores, a consultora avaliou o impacto do imposto sobre o carbono e centrou-se nos setores mais afetados: eletricidade, petróleo e gás. Isto porque, juntos, estes dois setores representam 40% do valor global de emissão de gases com efeito de estufa. “Os resultados do relatório revelaram a probabilidade de o incumprimento aumentar, em média, duas ou três vezes nestes setores. Isto pode representar perdas entre 50 a 300 mil milhões de dólares de dívida pendente. Extrapolando os números para um cenário macro, estimam-se perdas de um bilião de dólares”, explica o documento.
Face a este cenário de possíveis perdas para a banca, a consultora deixa três recomendações para os intermediários financeiros: gerir riscos climáticos (como incêndios florestais e inundações, para adaptar os seus negócios), aproveitar oportunidades (adotar novas estruturas que podem canalizar o capital gerado para uma mais ampla gama de oportunidades de investimento ecológico) e adotar uma abordagem de cima para baixo (colaborar de forma construtiva com as empresas por forma a financiar a sua transição para um modelo mais sustentável).
“Bancos e investidores vão demorar anos a considerar as alterações climáticas como uma ameaça real e a alterar o perfil de uma carteira de produtos financeiros. Entender os riscos climáticos que enfrentam os clientes vai ajudá-los, de forma mais construtiva, a adaptar os seus negócios”, realça o estudo da Oliver Wyman.
Por último, o relatório da consultora estratégica chama a atenção para o facto de a pressão exercida por investidores, consumidores e reguladores estar a aumentar em muitos mercados, existindo apenas uma saída possível: reduzir a pegada carbónica. “Há empresas que já excluem do seu portefólio de investimento entidades que violam as políticas ambientais. O maior desafio está na estimativa de que os setores responsáveis pela maior emissão de gases com efeito de estufa representem uma receita anual de 80 mil milhões e dólares para a banca mundial, ou seja, 25% da receita dos grandes clientes corporativos. Este é o principal motivo para ser tão difícil deixar de investir nestes setores”, remata o relatório ‘Climate Change: Três Imperativos para os Serviços Financeiros’.
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